Os preços do algodão em pluma oscilaram ao longo de outubro no mercado spot nacional. Esse cenário esteve atrelado ao desacordo entre agentes quanto aos valores de negociação e à qualidade dos lotes disponibilizados. Assim, as cotações ora foram pressionadas pela posição firme de compradores, ora sustentadas pelos reajustes pedidos por vendedores. Apesar do maior interesse em novas aquisições, compradores ofertaram valores inferiores e/ou indicaram não encontrar a pluma dentro das características desejadas. Dessa forma, as aquisições foram pontuais ao longo do mês, para repor estoque e/ou para uso imediato. Relatos de agentes indicam que as vendas ao longo da cadeia têxtil apresentaram reação ainda tímida para esta época do ano. Do lado vendedor, parte dos cotonicultores seguiu firme em suas posições, especialmente para a pluma de qualidade superior. Alguns players se mostraram capitalizados, com boa parte da safra 2022/23 já comprometida. Já outra parcela de vendedores esteve flexível, devido à necessidade de caixa e ou de liquidar lotes. Ressalta-se também a atuação de tradings, que entraram no mercado doméstico adquirindo lotes e pagando valores maiores pelo produto, o que influenciou os momentos de alta nos preços. No geral, a liquidez esteve baixa em outubro. Além do desacordo entre agentes, colaboradores do Cepea indicaram que muitos enfrentaram gargalos logísticas, como altos valores de fretes, dificuldade em encontrar caminhão e porto congestionado.
No campo, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) indicou que o beneficiamento somava 74% da produção nacional até o dia 26 de outubro. Em Mato Grosso, a atividade chega a 68% da produção, e na Bahia, a 90%. Comerciantes, por sua vez, seguiram realizando negócios “casados” e/ou adquirindo a pluma para atender a programações. Entre 29 de setembro e 31 de outubro, o Indicador CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, recuou 1,36%, fechando a R$ 4,0185/lp no dia 31. A média do Indicador em outubro, de R$ 4,0385/lp, ficou apenas 0,23% maior que a de setembro/23, mas 18,48% inferior à de um ano atrás, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de setembro/23). A média mensal também esteve 4,6% inferior à paridade de exportação. Em relação às negociações futuras, contratos seguiram sendo firmados para entrega nos próximos meses e também em 2024, envolvendo produtos das duas temporadas (2022/23 e também 2023/24) e que devem ser destinados aos mercados doméstico e internacional. Mesmo com o bom volume esperado de produção, indústrias buscaram garantir parte de sua matériaprima na entressafra, especialmente aquelas que precisam de qualidade específica. Os preços destes contratos são pré-fixados e/ou baseados no Indicador e na Bolsa de Nova York (ICE Futures).
MERCADO INTERNACIONAL – Cálculos do Cepea apontam que as paridades de exportação na condição FAS (Free Alongside Ship) registraram baixas de 3% entre 29 de setembro e 31 de outubro, para R$ 4,1618/lp (US$ 0,8266/lp) no porto de Santos (SP) e R$ 4,1723/lp (US$ 0,8287/lp) no de Paranaguá (PR) no dia 31. Isso é resultado da baixa de 3,41% em outubro do Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) e da ligeira valorização de 0,12% do dólar frente ao Real no mesmo comparativo, a R$ 5,0350/lp, também no dia 31. Na Bolsa de Nova York, entre 29 de setembro e 31 de outubro, o vencimento Dez/23 se desvalorizou 6,80%, a US$ 0,8122/lp; o Mar/23, 5,02%, a US$ 0,8351/lp; Maio/24, 4,45%, a US$ 0,8456/lp; e o Jul/24, 3,68%, para US$ 0,8498/lp.
EXPORTAÇÃO – Em dias 21 úteis de outubro, os embarques brasileiros de algodão em pluma somaram 225,68 mil toneladas, 21% acima do volume embarcado em setembro/23, mas ainda 13,2% inferior ao escoado em outubro/22 (de 260,142 mil toneladas), segundo dados da Secex. A média diária de exportação ficou em 10,75 mil toneladas, contra 13,692 mil toneladas em outubro/22 (-21,5%). Quanto aos preços, o valor médio da pluma exportada ficou em US$ 0,8755/lp em outubro/23, alta de 2,8% no comparativo mensal (US$ 0,8515/lp), mas queda de 7,9% no anual (US$ 0,9506/lp). Em moeda nacional, o preço da exportação tem média de R$ 4,4346/lp, 9,8% acima da praticada no mercado interno (Indicador), de R$ 4,0383/lp em outubro – este foi o segundo mês consecutivo que as exportações remuneraram mais que o doméstico.
CONAB – Para a temporada 2023/24, de acordo com a primeira estimativa divulgada no dia 10 de outubro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área brasileira deve ser de 1,712 milhão de hectares, 2,9% acima da anterior. A produtividade está estimada em 1.754 kg/ha, 7,9% menor que a da safra 2022/23. Assim, a produção brasileira deve totalizar 3,002 milhões de toneladas, recuo de 5,3% no mesmo comparativo, mas ainda uma das maiores da história. Em Mato Grosso, especificamente, a área cultivada está prevista em 1,208 milhão de hectares, alta de 1,5% frente à safra anterior. Já a produtividade deve ser de 1.728 kg/ha, retração de 8,7%, resultando em produção de 2,087 milhões de toneladas, baixa de 7,3% em relação à temporada 2022/23. Na Bahia, a área semeada está prevista em 341,7 mil hectares, elevação de 9,3% frente à safra 2022/23. A produtividade, por sua vez, está projetada em 1.845 kg/ha, recuo de 7,9% em relação à temporada anterior, com a produção prevista em 630,4 mil de toneladas, crescimento de apenas 0,7% no mesmo comparativo. Ainda segundos dados da Conab, a disponibilidade interna (estoque inicial + produção + importação) deve ser de 5,125 milhões de toneladas, 14% superior à temporada anterior. Já o consumo interno em 2024 está estimado em 735 mil toneladas, maior que as 690 mil toneladas projetadas no período anterior (+6,5%). Assim, o excedente interno está previsto em 4,39 milhões de toneladas. As exportações, por sua vez, estão estimadas em 2,47 milhões de toneladas, 46,6% maiores do que as de 2023. Isso porque a Companhia espera um cenário econômico global mais favorável no próximo ano, reconhecimento ainda maior da qualidade da pluma brasileira e o alcance de novos clientes e mercados.
CAROÇO DE ALGODÃO – Devido à demanda enfraquecida neste ano, ao desacordo de preços entre agentes e à expectativa de maior volume por conta da boa colheita na safra 2022/23, as negociações de caroço de algodão seguiram ocorrendo de forma pontual em outubro. Vale considerar que agentes ainda estiveram focados no cumprimento dos contratos a termo. Dessa forma, os preços do caroço e também de seus derivados (como torta, farelo e óleo de algodão) seguiram em queda em outubro. Levantamento do Cepea mostra que a cotação média do caroço no mercado spot em outubro/23 em Primavera do Leste (MT) foi de R$ 675,56/t, baixa de 7,6% em relação à do mês anterior e retração de expressivos 41,6% sobre a de outubro/22 (R$ 1.156,07/t), em termos reais – as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI de setembro/23. Em Lucas do Rio Verde (MT), a média foi de R$ 575,34/t, baixa de 2,7% frente à do mês anterior e queda de 46,8% se comparada à do mesmo período de 2022. Em Campo Novo do Parecis (MT), a média recuou 5,1% na comparação mensal e significativos 47,9% na anual, indo para R$ 586,37/t em outubro/23. Em Barreiras (BA), a média foi de R$ 957,38/t, quedas de 5,1% frente à de setembro/23 e de 37,4% em relação à de outubro/22. Em São Paulo (SP), a média caiu 6,9% no mês e 29,1% no ano, a R$ 1.145,52/t em outubro/23.