A disparidade entre os preços ofertados por compradores e os pedidos por vendedores limitou as negociações internas de algodão em pluma ao longo de junho. E esse cenário esteve atrelado às diferentes perspectivas desses agentes sobre o mercado nas semanas seguintes. Enquanto parte dos vendedores esteve firme, atenta à queda dos estoques de algodão, compradores se fundamentaram no distanciamento entre os valores domésticos e externos, na proximidade do avanço da colheita da nova safra e na desvalorização do dólar. Ressalta-se que a pressão exercida por compradores em junho prevaleceu e acabou sendo reforçada pelo fato de alguns vendedores mostrarem interesse em negociar no mercado nacional – que remunerou mais que as vendas externas no mês.
No caso dos estoques, o bom ritmo das exportações nos últimos 12 meses e a maior demanda brasileira em 2021 contribuíram para a redução do excedente doméstico, em 40%, conforme dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), frente ao que foi projetado em junho/20 para a safra passada. O estoque final interno de junho é o menor desde o da safra 2018/19. Diante disso, os preços internos estão, há meses, operando acima dos valores do produto posto na China. Assim, é natural que, aos poucos, ocorram ajustes, alinhando-se com as paridades de importação e de exportação. Quanto à colheita da nova safra no Brasil, ainda está no início e sabe-se que haverá um período até que volumes maiores cheguem efetivamente ao mercado, seja pela defasagem dada pela necessidade de beneficiamento, seja pelo grande volume já negociado antecipadamente. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a colheita da safra 2020/21 somava 3% da área até o dia 24 de junho.
Em junho, o Indicador CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, teve média de R$ 4,8866/lp, queda de 5,23% frente à do mês anterior e a menor desde fevereiro de 2021. Ainda assim, a média de junho esteve 34,16% acima da registrada no mesmo mês do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/21). Considerando-se a média de junho, a paridade de exportação na condição FAS (Free Alongside Ship) caiu 1,4% frente à do mês anterior, a R$ 4,1250/lp (US$ 0,8222/lp) posto no porto de Santos (SP) e em R$ 4,1356/lp (US$ 0,8243/lp) posto em Paranaguá (PR). Estes valores estiveram 35% acima das médias de junho/20. Em dólar, a alta é de 40% entre junho/20 e junho/21, acompanhando o mercado internacional. O Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) médio de junho ficou em US$ 0,9440/lp, aumento de 39,5% em 12 meses.
Para os contratos da Bolsa de Nova York (ICE Futures), junho foi um mês marcado por oscilações, mas as reações acabaram prevalecendo, devido à valorização do petróleo, a compras de oportunidade, ao atraso no semeio, à menor projeção de estoque nos Estados Unidos e à instabilidade climática no Delta do Mississippi (EUA). Entre 28 de maio e 30 de junho, o vencimento Jul/21 subiu 2,33%, indo para US$ 0,8403/lp, e o Out/21 avançou 2,06%, a US$ 0,8551%. Dez/21 e Mar/22 fecharam em respectivos US$ 0,8490/lp e US$ 0,8471/lp, com elevações de 1,90% e de 1,68%.
EXPORTAÇÃO – Conforme dados da Secex, em junho/21, foram exportadas 100,6 mil toneladas de algodão, queda de 12,7% frente ao volume de maio/21, mas fortes 77,43% acima dos de junho do ano passado. As vendas externas no primeiro semestre de 2021 somam 1,06 milhão de toneladas, contra 835,9 mil toneladas no mesmo período do ano passado, ou seja, aumentou de 26,3%. O preço médio da exportação está em US$ 0,7980/lp, próximo do registrado em maio/21 (US$ 0,7906/lp), mas 19,1% acima do de junho/20. Vale considerar, contudo, que o dólar estava a R$ 5,20 em junho/20, caindo para R$ 5,02 em junho deste ano.
CAROÇO – A oferta de caroço aumentou um pouco em junho, especialmente a de produto da temporada passada (2019/20), o que favoreceu novos fechamentos pontuais no final do mês. Esse cenário atrelado às recentes quedas nos preços da soja e do milho pressionaram os valores do caroço. Em Primavera do Leste (MT), a média de preço em junho foi de R$ 2.117,46/t, baixa de 7,6% frente à do mês anterior, mas ainda expressivos 310,7% acima da de junho/20. Em Rondonópolis (MT), a média ficou em R$ 1.858,11/t, queda de 1,8% no mês, porém, o triplo do valor verificado há um ano. Em Lucas do Rio Verde (MT), a média de junho é de R$ 1.931,59/t recuo de 2,1% no mês, mas avanço de 205% frente junho/20. Em Campo Novo do Parecis (MT), a média foi de R$ 2.017,47/t, aumentos de 2,5% do mês e de 253% em um ano. Já com maior oferta do caroço da safra 2020/21, o preço do produto na Bahia (BA) teve redução de 16,4% de maio para junho, a R$ 1.756,33/t, mas ainda acumula alta de 168,8% em 12 meses.