As negociações envolvendo o algodão em pluma estiveram lentas e limitadas a poucos volumes ao longo de maio, mas, ainda assim, mostraram certa reação frente à fraca movimentação de abril. Quanto aos preços, depois de registrarem forte baixa de 6,3% em abril, se firmaram e fecharam maio com pequena recuperação. Produtores estiveram firmes nos preços de venda, elevando os pedidos em negócios envolvendo a pluma de melhor qualidade. Ressalta-se que, além de lotes paulistas da safra 2019/20, volumes de Mato Grosso do Sul começam a ser disponibilizados no mercado.Esse afastamento de vendedores do mercado esteve relacionado ao bom desempenho das exportações – que, inclusive, registraram remuneração bem acima da negociação da pluma no mercado interno. Além disso, a proposta de programa governamental que possibilita crédito aos produtores, visando estoque e comercialização nos próximos meses, também limitou as vendas de agentes.
Compradores com mais necessidade cederam para conseguir realizar novas aquisições. Ainda assim, muitas indústrias ainda pressionaram as ofertas, uma vez que relataram baixa liquidez de produtos têxteis no varejo. Consumidores finais estiveram priorizando a compra de bens essenciais – situação que tem se acentuado com a pandemia de coronavírus e com o consequente crescimento de desemprego no Brasil. Além disso, fiações buscaram prazos maiores de pagamento, pois estiveram com o fluxo de caixa prejudicado – contudo, alguns vendedores, temendo inadimplência, estiveram resistentes aos prazos pedidos. Mesmo em ritmo lento, carregamentos de contratos a termo foram liberados em maio. Para junho, a flexibilização das medidas restritivas por parte do governo do estado de São Paulo deve fazer com que algumas indústrias retomem as atividades no início do mês. Em meio à “queda de braço”, entre 30 de abril e 29 de maio, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, subiu 1,64%, fechando a R$ 2,7065/lp no dia 29. A média mensal é a menor em seis meses, a R$ 2,6482/lp, 4,42% inferior à de abril/20 e 13,04% abaixo da de maio/19, em termos reais (valores atualizados pelo IGP-DI de abril/20).
MERCADO EXTERNO – Em maio, o Indicador esteve, em média, 17,9% inferior à paridade de exportação. Assim, tradings pagaram valores superiores aos produtores nacionais e o volume de exportação com preço pré-fixado captado pelo Cepea em maio cresceu frente a abril. No entanto, com o enfraquecimento do mercado internacional e do dólar em alguns dias de maio, as exportações chegaram a diminuir o ritmo em alguns momentos. De 30 de abril a 29 de maio, a paridade de exportação na condição FAS (Free Alongside Ship), porto de Paranaguá (PR), caiu 0,63%, influenciada pela queda de 1,96% do dólar frente ao Real e pelo aumento de 1,38% no Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente). Ainda assim, a média mensal da paridade foi de R$ 3,2266/lp, 10% maior que a de abril e 16,5% superior à de maio de 2019. Na comparação mensal, o dólar se valorizou 5,8% frente ao Real e, na anual, 41%. No mesmo período, a média do Índice Cotlook A subiu 3,96% frente à de abril/20, mas caiu 18,2% se comparada à de maio/19.
ICE FUTURES – Em maio, os contratos na Bolsa de Nova York (ICE Futures) recuaram com a maior influência da tensão entre os Estados Unidos e a China. Entre 30 de abril e 29 de maio, apenas o vencimento Jul/20 se valorizou 0,45%, fechando a US$ 0,5759/lp no dia 29, enquanto Out/20 caiu 2,47%, a US$ 0,5727/lp. O contrato Dez/20 recuou 2,44% (US$ 0,5748/lp) e Mar/21, 1,88% (US$ 0,5848/lp).
EXPORTAÇÃO – As exportações brasileiras de algodão seguem firmes e remunerando mais que as vendas no mercado doméstico. Entretanto, o excedente interno ainda é expressivo e, por isso, o País precisa continuar embarcando volumes ainda mais significativos nos próximos meses. Vale lembrar que, em breve, uma nova safra deve chegar de forma intensa ao mercado, num contexto de baixo ritmo de produção industrial desde março. Com isso, os preços do algodão em pluma estão se descolando dos internacionais. Mas a atratividade está no cumprimento dos contratos de exportações. Segundo dados da Secex, as exportações brasileiras de algodão em pluma somaram 69,6 mil toneladas em maio/20. O faturamento totalizou US$ 104,2 milhões e o valor médio da pluma exportada foi de US$ 0,6794/lp (FOB porto brasileiro), recuo de 12% frete ao mesmo período de 2019. Esse preço médio da pluma exportada seria equivalente a R$ 3,8317/lp, 24,2% maior que a média obtida em maio/19 (R$3,0842/lp) e 44,7% superior ao Indicador, de R$ 2,6482/lp.
PREÇO EXPORTAÇÃO – As negociações para embarque ao mercado externo no curto prazo (até agosto de 2020) tiveram média de US$ 0,5435/lp em maio, 2,56% abaixo da registrada no mês anterior (US$ 0,5578/lp), referente à pluma da safra 2018/19. Para exportação envolvendo a temporada 2019/20, a média das informações captadas pelo Cepea para embarque no segundo semestre de 2020 foi de US$ 0,5805/lp, baixa de 3,6% em relação à de abril/20 (US$ 0,6022/lp). Em relação à safra 2020/21, a média dos últimos seis meses de 2021 foi de US$ 0,5912/lp em maio, aumento de 1,23% frente à do mês anterior (US$ 0,5840/lp).
ICAC – Segundo informações divulgadas no dia 1º de junho pelo Comitê Consultivo Internacional do Algodão, impactado pela pandemia, o consumo mundial de algodão poderá ser de 23 milhões de toneladas na temporada 2019/20, queda de 11,3% se comparada à da safra anterior. A China, principal consumidora, deve reduzir a demanda em 12%, para 7,25 milhões de toneladas. A expectativa é que a Índia também recue na mesma proporção, com consumo indo para 4,75 milhões de toneladas. O Icac projeta quedas de 7% no Paquistão, de 8% na Turquia e no Vietnã, de 11% no Brasil e de 25% em Bangladesh. Estima-se que a produção, por sua vez, aumente em 2%, para 26,2 milhões de toneladas. Já o comércio global pode cair 9,6%, para 8,34 milhões de toneladas. Nesse cenário, a projeção é que os estoques finais subam para 21,75 milhões de toneladas – o maior em cinco anos.
USDA – Para a safra 2020/21, a primeira previsão dos USDA aponta produção de 25,9 milhões de toneladas, 3% menor que o volume da safra anterior – a pressão veio dos quatro principais produtores mundiais, sendo que o Brasil, especificamente, deve reduzir em 9,1%. O consumo global 2020/21, por sua vez, poderá crescer 10,9%, indo para 25,36 milhões de toneladas, puxado, principalmente, pela China (+11,8%), Índia (+14,7%) e Paquistão (+16,6%). O Departamento estima que esse crescimento pode acontecer à medida que as incertezas quanto à pandemia diminuam. Já o estoque mundial foi estimado em 21,65 milhões de toneladas, 2,3% acima do da safra 2019/20, o maior volume em seis temporadas, mesmo com o estoque chinês caindo 5,9% e o brasileiro, 1,3%. A comercialização poderá subir para 9,3 milhões de toneladas (+8,9% nas importações e +7,2% nas exportações), sendo que Estados Unidos, Brasil e Índia devem deter a maior parte das oportunidades de exportação expandidas. Quanto ao preço médio da temporada nos EUA para 2020/21 está previsto em US$ 0,57/lp, 2 centavos abaixo do preço da safra 2019/20 (US$ 0,59/lp).
CAROÇO DE ALGODÃO – As negociações de caroço de algodão estiveram em ritmo lento ao longo de maio, exceto na Bahia. A disponibilidade do produto esteve baixa, com vendedores firmes nos preços e a demanda enfraquecida. Diante dos elevados valores do farelo de soja, houve aumento na procura por torta e farelo de algodão destinados a pecuaristas. Assim, segundo informações levantadas pelo Cepea, o preço médio do caroço no mercado spot em maio foi de R$ 614,09/t em Barreiras (BA), baixa de 4,6% frente ao do mês anterior. Já em Campo Novo do Parecis (MT), o preço subiu 3,8% (R$ 611,92/t), em Lucas do Rio Verde (MT), 3,6% (R$ 615,47/t) e, em Primavera do Leste (MT), 2,8% (R$ 683,33/t).