Os preços do algodão em pluma estão em movimento de alta desde meados de 2020 e, em 2021, renovaram – de forma consecutiva – os patamares máximos nominais da série histórica do Cepea. O impulso veio das elevações dos valores internacionais, do alto patamar do dólar frente ao Real e do aumento da paridade de exportação, que também atingiu recorde no ano, em um ambiente de menor produção doméstica e de demanda internacional firme. Além disso, o bom volume da produção já comprometida via contratos a termo para exportação reduziu a disponibilidade no spot.
Entre 30 de dezembro de 2020 e o final de dezembro de 2021, a paridade de exportação acumulou alta de 48%, impulsionada pela valorização de 8,7% do dólar frente ao Real e pelo aumento significativo de 47% do Índice Cotlook A (referente à pluma posta no Extremo Oriente) no mesmo período. Em 2021, o primeiro vencimento da Bolsa de Nova York (ICE Futures) avançou em torno de 45%. Vale considerar que os contratos também registraram os maiores valores desde suas respectivas aberturas.
Assim, depois de subir 42% ao longo de 2020, o Indicador do algodão em pluma CEPEA/ESALQ, com pagamento em 8 dias, avançou expressivos 68,23% em 2021, fechando em R$ 6,4085/lp no dia 30 de dezembro. No primeiro semestre, o aumento foi de 23,16% e, no segundo, de 37%. Apenas nos dois primeiros meses de 2021, a elevação foi de mais de 30%. A média de dezembro foi de R$ 6,3615/lp, um recorde, em termos nominais. Ao se considerar a inflação (IGP-DI, base em nov/21), o preço médio de dezembro/21 foi o maior desde abril/11, quando chegou em R$ 8,3193/lp.
No primeiro trimestre, a recuperação do consumo em toda a cadeia têxtil foi acima das expectativas dos agentes do setor, o que acabou pressionando os estoques de passagem em relação ao que se esperava e elevando a demanda de compradores nacionais. No segundo trimestre, o mercado brasileiro ficou ainda mais atrativo que o internacional, tendo em vista a paridade de exportação. Como consequência, em abril, as tradings começaram a participar mais das negociações do mercado doméstico, aumentando a oferta, o que resultou em queda de preços naquele mês. Além disso, o período foi marcado das restrições, devido ao avanço da pandemia de covid-19 no País.
Já em maio, o volume disponível de algodão da safra 2019/20 era cada vez mais restrito, e os agentes já se mostravam preocupados com possíveis impactos causados pelos efeitos climáticos nas lavouras da próxima temporada. Assim, o Indicador atingiu média de R$ 5,1563/lp em maio, até então, o recorde mensal da série do Cepea, iniciada em julho de 1996, e diferença de 23% frente à paridade de exportação, a maior em quatro anos e cinco meses.
Em junho, por sua vez, os preços voltaram a cair, visto que as indústrias não estavam conseguindo repassar os aumentos dos custos da matéria-prima na mesma proporção para os seus produtos. E, com isso, estas unidades faziam apenas compras pontuais e envolvendo baixos volumes. A partir de julho, mesmo com a entrada mais volumosa da temporada 2020/21, os valores estiveram em firme movimento de alta mensal – o que se observa até atualmente.
No geral, ao longo do segundo semestre, produtores estiveram focados na colheita, no beneficiamento, na classificação e no cumprimento de contratos a termo. Os vendedores ativos seguiram firmes e elevando os preços pedidos, baseados na menor produção da safra 2020/21, no maior volume de pluma já comercializado e nos estoques mais baixos. Do lado comprador, demandantes que precisaram de lotes tiveram que ceder e pagar valores maiores para novas aquisições. Outra parcela das empresas, por sua vez, esteve resistente em aceitar os reajustes, devido aos períodos de fracas vendas no varejo.
ESTIMATIVAS SAFRA 2020/21 – De acordo com a Conab, houve redução de 17,7% na área semeada na safra 2020/21 frente à anterior, somando 1,37 milhão de hectares. Além disso, com a queda de 4,5% na produtividade (1.721 kg/ha), a produção caiu 21,4%, totalizando 2,36 milhões de toneladas. A Conab estima consumo de 725 mil toneladas na temporada 2020/21, 21% maior que o da safra anterior e, inclusive, superior ao das temporadas antes da pandemia. Com suprimento projetado em 4,1 milhões de toneladas e as exportações estimadas em 2 milhões de toneladas, o estoque de passagem em dezembro/21 é estimado em 1,4 milhão de toneladas pela Conab.
EXPORTAÇÃO – Segundo a Secex, de janeiro a dezembro, o Brasil exportou 2,02 milhões de toneladas de pluma, 5% inferior ao recorde de 2020.
USDA – A produção mundial da temporada 2020/21 foi estimada em 24,3 milhões de toneladas, 7,7% abaixo da anterior (2019/20); já o consumo global foi indicado em 26,3 milhões de toneladas, elevação de expressivos 17,3%, diante da retomada das fábricas e do comércio depois das restrições para conter a pandemia. Quanto à comercialização mundial, a temporada 2020/21 registrou recorde, com as importações estimadas em 10,67 milhões de toneladas (aumento de 20,1% frente à temporada anterior) e as exportações, em 10,55 milhões de toneladas (avanço de 17,7%). Assim, o estoque mundial teve queda de 8,9% frente à safra 2019/20, para 19,29 milhões de toneladas.
CAROÇO DE ALGODÃO – Os preços de caroço de algodão em pluma que já haviam registrado recordes em 2020, mas renovaram as máximas em 2021. O estímulo veio da forte demanda e da alta nos valores de produtos concorrentes, como a soja e o milho.