A frase em latim significa “a sorte está lançada” e, conta a história, foi proferida por Júlio César quando atravessou o Rio Rubicão para tomar Roma de Pompeo, o que acabou acontecendo, mas ferindo as normas então vigentes de que nenhum general poderia atravessar o Rio.
Pois bem, as manifestações desse último final de semana me fizeram lembrar isso, diante das manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, mas também com protestos pedindo a interferência do exército e até, pasmem, um novo AI-5, que andava esquecido no tempo pelos brasileiros mais jovens, mas que nessa curta gestão de Bolsonaro, de um ano e quatro meses, já foi por duas vezes lembrada, uma pelo filho do presidente e outra pelo ministro Paulo Guedes.
Ora, sabemos que em toda e qualquer manifestação existe sempre aqueles infiltrados, dos mais violentos como os Black Blocs, até aqueles mais insensatos que pedem, como feito no final de semana, a intervenção do exército ou a renovação do AI-5.
O presidente sabe e sabia desses riscos (não só os das aglomerações em época de pandemia, mas isso ele vem ignorando consistentemente) e, ainda assim, foi para porta de quartel em Brasília para conversar com manifestantes. Desnecessário dizer que deveria saber ou ser orientado do descontrole que as manifestações poderiam conter, até por conta disso não ser considerado um ritual do cargo de presidente. Mas, também, Bolsonaro tem fugido constantemente disso.
É verdade que em nenhum momento de sua fala aos manifestantes o presidente falou contra as instituições como o Congresso Nacional e Judiciário, e nem fez referência ao exército, sempre lembrando golpe ou qualquer coisa nessa direção. O problema maior parece estar em suas falas anteriores, dizendo que Rodrigo Maia e governadores querem acabar com seu governo e o sempre lembrado apoio popular.
Tudo isso acabou sendo usado à exaustão por parlamentares e líderes de partidos formadores de opinião, e também por ministros do STF criticando a postura do presidente, dizendo ter ferido a Constituição, os preceitos democráticos e estar em vias de aplicar um golpe. O presidente, em 20/4, em live, tentou atenuar o impacto de sua presença na manifestação de Brasília, mas o volume de ruídos já estava alto, principalmente nas redes sociais, que o presidente e seus filhos tanto prezam.
Acho que não nos cabe tomar partido nesse momento de qualquer um dos lados. O que nos preocupa é que o momento deveria ser de união dos Três Poderes para enfrentamento do trauma econômico causado pela pandemia, e não de dissenção entre esses mesmos poderes. No período pós-pandemia, será preciso retomar de forma ainda mais rápida e profunda as diretrizes anteriores de reformas absolutamente essenciais para reordenar a economia e atrair investimentos privados, de investidores locais e principalmente externos. Preocupa-nos, adicionalmente, a imprensa internacional que anda de “maus bofes” contra a postura do presidente, o que prejudica ainda mais.
Pois bem! Aparentemente, ao proceder à ruptura com os demais poderes, o presidente manifesta que vai governar com sua base de apoio, que lembramos não é toda feita de bolsonaristas, mas muito de eleitores que não queriam o PT novamente no governo. Essa preferência de governar com o povo é válida, mas também é fluída, na medida em que exige boas respostas da economia, situação que acabou sendo abortada nesse ano de 2020 em função do Covid-19. Será praticamente impossível apresentar algum bom resultado em termos de redução do desemprego e melhora do emprego, de o país crescer (a recessão será perversa em 2020) e de baixo crescimento em 2021, a população ficará mais pobre e desassistida e, principalmente, se isso acontecer (é quase certo que sim), o Congresso Nacional não dará respostas mais positivas ou “cobrará” ainda mais caro.
Aparentemente, o presidente fez uma escolha de alto risco que pode não se traduzir em apoio permanente de seus apoiadores do momento, pela dureza econômica que se avizinha. Por isso, a nossa lembrança:
ALEA JACTA EST. A sorte está lançada!