Este artigo foi publicado originalmente em inglês no dia 01/06/2017
Com a chegada de junho, lançamos um olhar sobre a trajetória dos preços do petróleo no verão de 2017 no Hemisfério Norte. A reunião de 25 de maio de 2017 entre a Opep e países externos à organização se encerrou exatamente como previsto. Países produtores de petróleo concordaram em estender os limites atuais na produção por mais 9 meses. Em teoria, isso dará continuidade aos cortes já acordados de 1,8 milhão de barris por dia até o fim de março de 2018.
Em um movimento surpreendente para muitos, incluindo membros da Opep, preços do petróleo caíram durante todo o dia da reunião, com o petróleo dos EUA eventualmente fechando em US$ 48,90, uma queda de 5%. Ficou claro que o mercado esperava que a Opep fizesse cortes mais profundos e já tinha precificado essas expectativas, mesmo que a política de extensão de nove meses do grupo já fosse conhecida há um tempo. As grandes apostas do mercado estavam além da realidade.
Agora que a Opep tomou sua decisão referente à oferta, a questão para o mercado é como a demanda se apresentará nesse verão. Abaixo estão três fatores significativos que poderia afetar o mercado de petróleo neste verão.
1. Demanda norte-americana
Normalmente, a demanda por gasolina aumenta durante o fim de semana do Memorial Day nos EUA. Viagens de carro de 80 quilômetros ou mais tinham expetativa de aumento de 2,7%. Viagens aéreas também devem aumentar este verão. Um aumento significativo na demanda de gasolina nos EUA durante o verão poderia resultar em uma redução nos estoques de petróleo em até 10 milhões de barris por semana (embora estimativas mais moderadas sejam de 3 a 4 milhões de barris). As refinarias norte-americanas processaram mais petróleo bruto nas duas semanas anteriores ao Memorial Day esse ano do que fizeram nos dois anos anteriores, o que indica uma forte demanda. Se a demanda norte-americana surpreender o mercado com uma temporada histórica neste verão, então os preços subirão novamente.
2. Demanda do Golfo Pérsico
Normalmente, a utilização doméstica de petróleo bruto em países do Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos) sobe significativamente durante o verão. Isso porque esses países, ao contrário de muitos outros, queimam o petróleo bruto para gerar eletricidade. O uso de eletricidade aumenta significativamente durante o verão nesta parte do mundo pois as temperaturas do verão escaldante levam os residentes a ambientes internos para ligarem seus aparelhos de ar condicionado. Em 2014, por exemplo, a Arábia Saudita queimou quase 1 milhão de barris de petróleo por dia no mês de julho — mais do que os 600.000 barris por dia que o país normalmente queima para uso doméstico. Normalmente, a Arábia Saudita aumenta a produção de petróleo durante o verão para atender sua demanda doméstica enquanto continua a satisfazer a demanda mundial. Este ano, com o pacto da Opep em vigor, a Arábia Saudita não poderá aumentar sua produção para além de sua quota de 10,058 milhões de barris por dia (em julho do ano passado, a Arábia Saudita teve produção recorde de 10,67 milhões de barris por dia).
O Ramadã, mês de jejum dos muçulmanos, começou há pouco este mês, o que deve fazer com que o uso de eletricidade no Golfo seja ainda maior em junho. Entretanto, investidores não esperam que a demanda doméstica saudita de petróleo bruto seja mais alta este verão do que em anos anteriores. Isso se deve à expansão da usina de gás natural Wasit, que deve substituir cerca de 100.000 barris por dia de petróleo por gás natural. Outra usina de gás natural deve ser aberta em 2019, acelerando a mudança da Arábia Saudita na direção do uso de gás natural.
3. Demanda Chinesa
A demanda de petróleo da China permaneceu sólida pelos últimos dois anos. Os chineses tiveram a vantagem dos preços baixos do petróleo para expandir suas reservas e aumentar sua capacidade de armazenamento significativamente. No entanto, há sinais de que a importação chinesa de petróleo possa desacelerar durante os meses do verão. A China importou um total recorde de petróleo bruto em março, mas as importações caíram cerca de 9% em abril. A manutenção de refinarias contribuiu para um aumento dos estoques na China que ameaça continuar durante os meses do verão. O governo chinês também tomou medidas para limitar em 2 milhões o total combinado de petróleo bruto que refinarias independentes na China podem importar. A China pode muito bem limitar sua importação de petróleo neste verão para reduzir seus estoques crescentes de petróleo, o que parecerá abrandar a demanda. Isso poderia compensar a demanda nos EUA e no Golfo Pérsico, o que exerceria pressão de queda nos preços durante o verão.
Como a imprensa mantém o foco nos números de produção da Opep, da Rússia, de shale oil dos EUA e de outros, é também vital ficar de olho na demanda global.