O Federal Reserve Bank de Dallas divulgou ontem (28) sua pesquisa sobre o setor de energia para o terceiro trimestre. Ela fornece uma perspectiva interessante em relação a como se encontra a produção de petróleo e gás na região onshore mais produtiva dos Estados Unidos.
O levantamento revelou que a inflação e os atrasos na cadeia de suprimentos continuam sendo grandes obstáculos para a expansão da oferta. O custo de operação aumentou pelo terceiro trimestre consecutivo, incluindo despesas operacionais, exploração e custos de desenvolvimento, além de despesas com insumos para serviços petrolíferos. As empresas também relataram que o prazo para receber materiais e equipamentos continuava bem acima da média. Os problemas na cadeia de suprimentos estão melhorando, mas atrasos consideráveis continuam sendo problemáticos para os operadores de óleo e gás.
Apesar desses ventos contrários, as companhias seguem expandindo suas operações, ainda que em ritmo mais lento do que no trimestre anterior. A produção de petróleo e gás natural seguiu praticamente o mesmo ritmo do trimestre anterior.
A maioria dos executivos que respondeu à pesquisa demonstrou otimismo com o preço do WTI para o resto de 2022. A maioria espera que o barril fique na faixa de US$ 80 a 100. Além disso, a expectativa de 85% dos participantes é que o mercado petrolífero registre uma considerável restrição de oferta até o fim de 2024, particularmente devido ao atual ambiente de subinvestimento em novos recursos petrolíferos. Setenta e nove por cento dos executivos também esperavam que os investidores financeiros retornassem para o setor de óleo e gás, com receio do movimento ESG e dos seus baixos retornos. É relevante ressaltar essa expectativa dos executivos das empresas de exploração e produção de que o mercado petrolífero continuará restrito e que o investimento irá retornar.
Esses dois elementos podem parecer contradiários, mas é preciso compreender que, embora os preços elevados atraiam investimento em óleo e gás, novos projetos levarão mais tempo do que antes para entrar em operação na região de shale oil. Diversos recursos de fácil acesso em shale oil de já estão exauridos, e o ambiente regulatório nos EUA aumentou a exigência de tempo e dinheiro no processo. Cabe lembrar ainda que a crescente demanda mundial de petróleo, juntamente com o prolongado período de baixo investimento, faz com que seja necessário um grande volume de investimento novo para superar o déficit. Ainda que a produção cresça em ritmo saudável, os preços provavelmente continuarão elevados.
Um tema recorrente expresso na seção de comentários foi como a política federal americana está contribuindo para obstacularizar a produção de petróleo e gás. Um executivo explicou, por exemplo, que a Agência de Proteção Ambiental do país está tentando classificar toda a bacia do Permiano como “em desconformidade”, tomando como base “uma estação de amostragem de ar fora de Carlsbad, Novo México”. Outro mencionou a “instrumentalização e enfraquecimento das rodadas de licenciamento promovidas pela agência federal de administração de terras dos EUA. Uma empresa de serviços petrolíferos explicou que possui equipamentos utilizáveis que estão em demanda, mas encontram-se ociosos, por não conseguir obter peças específicas exigidas pelo governo para controlar as emissões.
O segundo tema recorrente foi a incerteza, não apenas devido às mudanças regulatórias. A extrema volatilidade dos preços das commodities está fazendo com que seja mais difícil para as empresas empregar estratégias, como hedging financeiro, para compensar o risco. A política monetária do Federal Reserve está gerando muita incerteza para os perfuradores, pois, se a economia entrar em recessão, haverá uma queda na demanda por petróleo. As empresas de serviços petrolíferos estão inseguras quanto à sua capacidade de acessar o capital necessário para atualizar ou mobilizar equipamentos, pois não estão conseguindo firmar contratos de longo prazo que justifiquem tais despesas.
Ainda que a produção de petróleo tenha crescimento acentuadamente nos EUA, os investidores devem ficar atentos às tendências e preocupações das empresas na região mais produtiva do país. Esses problemas indicam que não se deve dar por certo que a atual retomada da produção seja duradoura. É provável que já esteja em desaceleração, ainda que não tenhamos visto isso nos dados de oferta.
Para mais análises sobre a pesquisa do setor petrolífero para o terceiro trimestre, acesse o podcast Energy Week na terça-feira, 4 de outubro, quando eu e meu coanfitrião conversaremos com Kunal Patel, economista-chefe do departamento de pesquisa do Fed de Dallas, e um dos elaboradores do levantamento.