O Fórum Econômico Mundial foi realizado pela 53ª vez em Davos, na Suíça, neste início de 2023, mas seus efeitos costumam durar ao longo de todo ano. Além de líderes globais, executivos de negócios e representantes da sociedade civil se reuniram para discutir o tema “Cooperação em um mundo fragmentado”. Tópicos importantes foram as questões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia; e questões econômicas, como o ressurgimento da inflação trazendo o medo de nova recessão. Esta edição de Davos foi a primeira reunião presencial em três anos e considerada a maior da história. Os presentes debateram o estado atual do mundo e as prioridades urgentes para o próximo ano.
O ano de 2022 foi difícil, alguns diriam até sombrio. Mas o início de 2023 apontou para um ligeiro aumento do otimismo global. A única certeza, desculpem o jogo de palavras, é que as incertezas permanecerão. Em parte, porque a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, que derrubou a ordem geopolítica e enviou ondas de choque em toda a economia global, continua. Ainda não conseguimos ver um fim fácil para este conflito, o que aumenta a incerteza de suas consequências. Também a já mencionada inflação atingiu níveis não vistos por gerações e o aumento do custo de vida abalou a confiança do consumidor. Então, o otimismo vem de onde exatamente?
Bem, um sentimento de esperança surgiu no Fórum Econômico Mundial. Por um lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou (ligeiramente) sua previsão de crescimento para 2023, enquanto diz que a inflação deve atingir seu pico. Também o Chief Economists Outlook 2023 do Fórum Econômico Mundial, que se baseia nas visões coletivas e perspectivas individuais de um grupo dos principais Economistas participantes, trouxe três temas com uma visão positiva. Vamos a eles, pois sei que você quer esperança!
(1) A China se abre. O vice-primeiro-ministro da China, Liu He, disse aos delegados em Davos que o país continua a liberalizar e afrouxar as restrições em seu setor imobiliário. A notícia reforçou o otimismo sobre o país e suas perspectivas de crescimento. Mais da metade dos entrevistados do Chief Economists Outlook deste ano espera uma aceleração para um crescimento melhor na China este ano.
(2) Vislumbres de crescimento global. Também houve sinais provisórios de otimismo em relação ao crescimento global mais amplo em Davos, com os participantes observando melhoras. Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI, disse que as perspectivas globais eram melhores do que se temiam. Embora a crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras e a invasão da Ucrânia pela Rússia ainda obscureçam o futuro, há algumas razões para positividade. Em janeiro, o FMI revisou para cima sua projeção de crescimento para 2023. “A balança de riscos continua inclinada para baixo, mas os riscos adversos foram moderados”, disse o FMI. O Fundo agora prevê um crescimento global de 2,9% em 2023, abaixo dos 3,4% em 2022, mas 0,2 pontos percentuais acima da previsão feita em outubro de 2022. Embora seja uma melhoria, isso permanece abaixo da média histórica (2000-19) de 3,8%.
(Há que se notar que mesmo com a melhora das perspectivas, dos principais economistas consultados pelo Fórum, 45% consideram uma recessão global em 2023 “um pouco” provável e 18% “extremamente” provável. Malditos pessimistas!)
(3) A inflação deve diminuir. A inflação global atingiu um nível muito alto em 2022: 8,8%. A previsão do FMI é que cairá para 6,6% em 2023 e 4,3% em 2024. Boas notícias, se a realidade confirmar as previsões, mas ainda muito acima dos níveis pré-pandêmicos (2017-19), de cerca de 3,5% ao ano. O relatório dos Chief Economists lembrou os impactos em relação ao custo de vida e como os salários estão acompanhando a inflação. No entanto, os resultados da pesquisa entre os economistas sugerem que a crise do custo de vida pode estar atingindo um pico, já que 68% dos entrevistados acreditam que será menos grave até o final de 2023.
Em suma, à medida que passam os meses iniciais de 2023, mesmo vendo sinais preliminares de otimismo, as perspectivas para a economia global permanecem desafiadoras. Os líderes globais sentem a pressão para agir por objetivos de curto e longo prazo e testar a resiliência de suas sociedades (e de seus eleitores, nas democracias). Mas terão eles uma abordagem estratégica de longo prazo?
O relatório dos Chief Economists conclui: “Essa mentalidade de investir no futuro – mesmo em meio a crises de curto prazo – determinará a saúde sistêmica de longo prazo de nossas sociedades para as próximas gerações”.
Em outras palavras, se a onda de crises que varreu o mundo desde a virada do século nos ensina alguma coisa, é que negligenciamos uma visão de preparação para o futuro por nossa conta e risco. Teríamos aprendido as lições?
____________________________________________________________
*Luís Antônio Dib é professor do quadro permanente do COPPEAD, consultor e palestrante. Ele é mestre e doutor em Administração, além de possuir certificações da Harvard Business School. Dib coordena o Executive MBA COPPEAD e ministra disciplinas nas áreas de Julgamento e Tomada de Decisão, Estratégia, Negociação e Internacionalização. Sua experiência profissional inclui cargos executivos na Shell (NYSE:SHEL), Telefônica (BVMF:VIVT3) e TIM (BVMF:TIMS3), além de vários anos como consultor de alta gestão pela Booz-Allen.
Dib discute conceitos complexos do mundo dos negócios e o impacto estratégico de novas tecnologias de forma clara, direta e bem-humorada, sendo um dos mais importantes interlocutores brasileiros para questões ligadas à gestão de empresas.