A expectativa de resposta da Opep à queda do mercado e a intriga em torno dos planos do presidente americano Joe Biden para chefia do Federal Reserve (Fed) podem gerar mais oscilações no petróleo e no ouro nesta semana, principalmente por causa do feriado de Ação de Graças nos EUA, na quinta-feira.
O petróleo já havia atingido a mínima de oito semanas durante a sessão asiática de negociações, o que poderia fazer com que os ministros de energia da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, e da Rússia, Alexander Novak, tentassem reanimar o mercado em seus discursos para o feriado prolongado.
Os dois lideram a aliança de produtores de petróleo Opep+, que realizou cortes de produção para ajudar a alçar os preços do mercado desde as mínimas da pandemia de US$40 negativos até as máximas de sete anos acima de US$85 por barril.
Nas negociações desta segunda-feira antes da abertura de Nova York, o contrato do barril de West Texas Intermediate para janeiro registrava queda de 5 centavos, ou 0,05%, a US$75,90, depois de atingir a mínima de oito semanas a US$74,76 no início da sessão.
O WTI caiu 5,8% na semana passada e acumulou perdas de 9,3% nas últimas quatro semanas, após um rali de 18% por nove semanas seguidas. Em meados de outubro, o petróleo americano era negociado na máxima de sete anos de US$85,41. Apesar da queda da semana passada, o WTI continuava com uma alta de 57% no ano.
Desafio da Opep: Restaurar o rali do petróleo
A Opep enfrenta o grande desafio de reacender o rali do petróleo dos últimos sete meses diante da ameaça dos EUA e outros grandes consumidores de petróleo de liberar suas reservas emergenciais para compensar os cortes de produção do cartel.
Embora as reservas de países como China, Índia e Japão não cheguem perto do volume que a Opep+ pode produzir, sua primeira reação coordenada à alta do petróleo foi suficiente para virar o mercado. O que também contribuiu para o recuo do petróleo foram notícias de um novo lockdown na Áustria para conter a Covid, bem como outros esforços de mitigação na Europa, inclusive Alemanha, a fim de evitar uma explosão de casos de coronavírus.
A Opep+ fará sua reunião mensal daqui a menos de duas semanas, em 2 de dezembro. Mas existem boas chances de as autoridades mais belicosas da organização não quererem esperar até lá para dizer algo que possa estancar a sangria do mercado.
Além dos ministros da Arábia Saudita e Rússia, não podemos nos esquecer de Suhail al-Mazrouei, dos Emirados Árabes, e do secretário-geral da Opep, Mohammad Barkindo, da Nigéria, que podem se pronunciar sobre o mercado.
“Eles podem oferecer uma narrativa contrária à dos países consumidores, mostrando que o que estão fazendo está dando resultado”, disse John Kilduff, sócio-fundador o hedge fund de energia Again Capital.
“A Opep claramente quer que o mercado petrolífero acredite em sua narrativa, e não na de outros”.
Poucos investidores levam a sério o plano desses grandes países consumidores, na crença de que não terão impacto relevante nos preços. Menos ainda acreditam que a ameaça de resposta da Opep será levada a cabo.
Kishida, primeiro-ministro do Japão, disse no fim de semana que Tóquio pretendia respaldar a iniciativa americana, desde que respeitasse o arcabouço legal do seu país, uma óbvia referência à legislação japonesa que restringe o uso da reserva emergencial de petróleo a casos de escassez de oferta, e não como forma de arrefecer os preços.
Opep+ pode congelar aumentos de produção e aprofundar cortes
A Opep+ pode anunciar o congelamento da oferta adicional de 400.000 por dia, com a qual se comprometeu no início do segundo semestre e que já está praticamente cumprida. Em seguida, a Opep+ pode aprofundar os cortes, dependendo de quão séria seja a nova onda da pandemia. Essas iniciativas podem restaurar boa parte dos quase US$10 que o barril de petróleo perdeu desde as máximas de meados de outubro.
Mas é possível que os preços caiam mais antes de voltarem a subir, estendendo a correção do mercado.
Para piorar o sentimento do mercado, a ING previu que poderia haver excesso de oferta de petróleo nos próximos anos, em uma reportagem da Bloomberg Markets.
De fato, antes mesmo da virada do mercado nesta semana, a Opep já havia alertado, em seu relatório mensal, que poderia haver menos demanda de petróleo no quarto trimestre.
A Agência Internacional de Energia, que representa os países consumidores e tem sede em Paris, concordou com essa perspectiva, dizendo ainda que a produção nos EUA provavelmente seria maior nos próximos trimestres.
Quer se concretizem ou não, esses alertas iniciais podem assentar as bases para o que a Opep+ deve anunciar nas próximas semanas.
Ouro de olho na presidência do Fed e ata do banco central
Nesta semana, um dos principais determinantes da direção do ouro será a indicação do chefe do Fed pelo presidente Biden, que pode manter Powell no cargo ou substituí-lo pelo governador Lael Brainard.
Powell sinaliza continuidade e uma possível elevação de juros entre o terceiro e quarto trimestres do ano que vem. Brainard pode adotar uma política monetária ainda mais flexível e pró-crescimento, capaz de impulsionar as ações e outros ativos, em detrimento do ouro.
Outro ponto de atenção será a ata da reunião do Fed para o mês de novembro, na qual as autoridades monetárias decidiram que a economia dos EUA mostrava força suficiente para que começassem a reduzir o programa de compras de ativos, em vigor desde o início da pandemia para respaldar a recuperação. A ata, prevista para quarta-feira, pode dar uma ideia melhor de quando ocorrerá a primeira alta de juros.
O contrato do ouro para dezembro registrava queda de US$2,60, ou 0,1%, a US$1,849 em Nova York, seu primeiro rompimento do patamar de US$1850 nas últimas duas semanas. Muitos investidores do ouro acreditam que o mercado possa voltar aos níveis de US$1900, devido à disparada da inflação nos EUA gerada pela alta do petróleo e outras commodities.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.