Por Alcides Torres e Amanda Skokoff
Mercado do boi gordo com preços frouxos devido à sua volatilidade.
Margem de comercialização das indústrias frigoríficas
O arrefecimento no mercado físico do boi gordo, sentido com o peso da safra de capim e a aproximação da entressafra, tem refletido nas margens de comercialização dos frigoríficos.
Acompanhar os patamares dessas margens ajuda a compreender estratégias de preços adotadas pelas indústrias, tanto na compra da boiada, como na venda da carne bovina.
A Scot Consultoria calcula indicadores dessa relação, o Equivalente Scot Carcaça e o Equivalente Scot Desossa.
O Equivalente Scot Carcaça é obtido da relação entre o custo de obtenção da matéria-prima, o boi gordo, e o preço de venda de todos os produtos oriundos do abate, no caso da venda da carne com osso, as carcaças.
O Equivalente Scot Desossa é obtido da relação entre o custo de obtenção do boi gordo e o preço de venda dos produtos oriundos do abate, no caso da venda da carne desossada.
Como não são considerados os custos produtivos, o indicador não pode ser tratado como lucro da indústria, apenas uma relação de venda.
Preços do boi gordo
Nas últimas semanas, com escalas de abate bem posicionadas, decorrente da maior oferta de bovinos terminados, assistimos a uma pressão de baixa nas praças pecuárias brasileiras.
Ainda, o câmbio em patamares menores favoreceu esse movimento, uma vez que as indústrias exportadoras, que aparentemente sustentavam os preços mais altos da arroba, viram suas margens se estreitarem.
Esse cenário de queda aliviou a margem das indústrias que fornecem para o mercado interno, tendo em vista que, nos últimos tempos, desconsiderando períodos atípicos, suas margens têm sido menores.
Preços da carne bovina
Visando os ajustes das margens, as indústrias tendem a pedir preços maiores pela carne, estratégia adotada para melhorar a relação entre o preço pago pelo boi gordo e o do produto final.
O poder de compra fragilizado do consumidor interno tem limitado a adoção dessa estratégia, visto que o consumo doméstico de carne bovina diminuiu em razão dos preços elevados do produto.
Apesar disso, após trabalhar pressionado no início do ano, o mercado atacadista tem estado com cotações firmes, com ajustes pontuais, a depender da rotatividade do corte. Veja na figura 1.
Figura 1.
Preços médios da carne bovina desossada no mercado atacadista de São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
É possível perceber esse comportamento das indústrias analisando as margens de comercialização.
Margem de comercialização
Os incrementos nos preços do boi gordo nos últimos anos e a dificuldade do repasse de preços para o varejo apertaram as margens de comercialização das indústrias, que trabalhavam abaixo da média histórica.
Analisando as figuras 2 e 3 nota-se que a firmeza nas cotações da carne bovina, junto das quedas na cotação da arroba do boi gordo, tem contribuído para que as margens retornem aos patamares médios dos últimos anos.
Figura 2.
Margem de comercialização para a venda da carne com osso e média nos últimos 3 anos.
Fonte: Scot Consultoria
Figura 3.
Margem de comercialização para a venda da carne desossada e média nos últimos 3 anos.
Fonte: Scot Consultoria
A dúvida que fica é por quanto tempo a estratégia de recuperação das margens se sustentará, uma vez que os preços altos afetam o consumo do produto.
Ainda, fica a atenção para as relações comerciais com a China, que suspendeu temporariamente as compras da carne bovina brasileira de importantes unidades frigoríficas, além do lockdown visando a contenção do covid-19 em cidades de porte.
Esse cenário poderá impactar as exportações de carne bovina e consequentemente a estratégia de preços adotadas pelas indústrias.