Nove meses depois de abrir capital aqui e lá fora, o Nubank informou, na noite de quinta-feira, 15, que deixará de ser listado diretamente no Brasil.
A fintech disse, em comunicado, que o objetivo é “maximizar a eficiência e minimizar redundâncias consequentes de uma companhia aberta em mais de uma jurisdição”.
Mas esse não é o real motivo para a saída do roxinho da B3 (BVMF:B3SA3).
De cheque em branco para corte de custos
Quando fez seu IPO em dezembro de 2021, o Nubank (BVMF:NUBR33) se posicionou como o futuro do mercado local.
Eles acreditavam, à época, que os clientes NuSócios com “pedacinhos” ajudariam a trazer mais pessoas para a oferta do banco e, consequentemente, impulsionar a valorização das ações no futuro.
Contudo, menos de um ano depois de abrir seu capital, o neobanco mudou drasticamente os planos no mercado de capitais local.
Parece que o banco chegou a avaliar os custos de ser uma companhia aberta em duas bolsas, mas mesmo assim decidiu seguir adiante com o programa de sócios.
As companhias de capital aberto precisam arcar com custos, determinados segundo regras estabelecidas pela B3, para a manutenção de sua operação.
De acordo com dados de um levantamento da bolsa brasileira, os custos médios recorrentes como companhia aberta não passam de R$ 1,5 milhão por ano.
Não está mencionando o maior motivo para a saída das ações locais.
A empresa não tem conseguido apresentar bons resultados e precisa prestar contas aos investidores e acionistas. Com o aumento da inadimplência e toda a mídia em cima dos números ruins, até os clientes do Nubank estão considerando encerrar suas contas no banco. É uma quebra de confiança de todos os lados.
A maior inadimplência do mercado de bancos
O índice de inadimplência acima de 90 dias aumentou +0,6 ponto percentual na passagem do primeiro para o segundo trimestre, chegando a mais de 5% — superior à dos grandes bancos.
Para aparentar melhora de receita ao mercado, a partir do segundo tri, o Nubank passou a adotar uma metodologia diferente para o cálculo da inadimplência.
Pela nova metodologia, a inadimplência do primeiro trimestre foi de 3,5%, e não de 4,2%, como reportado anteriormente.
O que o Nubank não quer que você saiba
O Nubank perdeu bastante valor de mercado desde o IPO. Somente neste ano, as ações do banco digital já derreteram -41%.
A base de clientes ativos do Nubank é muito mais importante do que a de acionistas. São 60 milhões de brasileiros com conta corrente no banco e possíveis investidores para a corretora.
Nesse sentido, se o Nubank não está com uma imagem positiva na mídia, o cliente que utiliza a conta corrente, talvez, pode ter a visão de que os motivos vão além dos resultados, e entender que o negócio está se deteriorando.
Esse receio pode impulsionar uma migração de correntistas para outra conta digital, fazendo com que o banco perca massivamente o volume de clientes captados.
O que o Nubank não quer que o mercado saiba é “que a sua saída não é pelo custo — que é irrisório na conta final —, mas sim pela escolha de manter mais clientes longe das notícias ruins do mercado de ações.
Reestruturação de BDRs
Segundo a companhia, o programa de BDRs de Nível III — emitidos por empresas listadas no Brasil — será encerrado e os papéis se tornarão BDRs Nível I — emitidos por empresas estrangeiras que não estão listadas no mercado local.
Na prática, isso permite mais flexibilidade ao Nubank que fica menos exposto às normas da CVM no quesito prestação de contas, o que deve deixar o roxinho mais distante dos holofotes.
Conversão dos recibos
Uma vez implementada, os detentores de BDRs (recibo negociado em bolsa com lastro em ações listadas no exterior) terão três opções: trocar os recibos por ações negociadas nos EUA; trocar o BDR de Nível III pelo Nível I; ou optar pela venda dos BDRs em bolsa brasileira ou americana, a depender das aprovações.
Vale mencionar que não haverá mudanças para os correntista do Nubank ou usuários da plataforma de investimentos NuInvest (antiga Easynvest).