O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro/23 cotado a 25.09 centavos de dólar por libra-peso, despertando alguns touros que estavam adormecidos e renovando suas expectativas em ver o açúcar em NY com o dígito 3 na frente. Como “nunca” é palavra que não existe em commodities – cujo terreno é sobejamente conhecido pela fertilidade na criação de cisnes negros – a providencial cautela é recomendada. Mas, haja otimismo desses bovinos.
Mas, para os altistas, o que importa é que a semana teve uma apreciação de 77 pontos no vencimento outubro/23 (17 dólares por tonelada) e 71 pontos no vencimento março/24 (15.65 dólares por tonelada). E o spread março/maio, que este escriba já achava absurdamente forte a 140 pontos, fechou a semana a 152 pontos. Engolindo seco aqui.
O rally (subida de preço vigorosa após um período de baixa) do mercado, segundo um traquejado corretor de futuros, foi alimentado por compras de sistemas (algoritmos e complexos modelos matemáticos) que nem passam perto dos fundamentos. Mas, o que interessa mesmo para os altistas, é que o mercado subiu 193 pontos (42.55 dólares por tonelada) em relação à mínima da semana anterior. E os fundos aumentaram novamente a posição comprada, embora com pouco mais de 4,500 lotes. Agora, os fundos não-indexados estão comprados em 119,000 lotes.
Dissemos aqui na semana passada que julho e agosto são meses de baixo volume e isso pode trazer mais instabilidade em mercados alimentados por robôs e algoritmos. Explico: pouco volume faz o mercado oscilar mais. Pois bem, a média de negócios diários em julho é de 82,500 contratos (nos 10 primeiros pregões), volume 62% menor do que a média diária de junho que foi de 219,300 contratos. Vai vendo só.
Sendo bem simplista, se assumirmos que 60% do volume negociado na bolsa é spread, podemos inferir que o número de contratos negociados diariamente objetivando a trajetória de preços é de 33.000. Logo, em 10 dias o total de volume movimentado tendo a trajetória como objetivo é de 330,000 contratos. No mesmo período a posição em aberto mudou apenas 19,000 contratos. Isso quer dizer que 94% do volume negociado é day-trade, típico dos fundos de algoritmos que objetivam ir zerados para casa para não pagarem ajustes. Essa é a minha visão.
Na semana, o real se valorizou em relação ao dólar em apenas 0.34% encerrando a sexta-feira a 4,7735. Os valores médios das cotações de NY convertidas em reais por tonelada mostraram uma melhora de 75 reais por tonelada para a 23/24 (média simples de outubro/23 e março/24); 41 reais por tonelada para a 24/25 e apenas 10 reais por tonelada para a 25/26.
Continuo sugerindo fixação de preços para a 24/25 cujo valor médio pelo fechamento de sexta-feira e considerando o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, apurava 2,561 reais por tonelada. Compare esse valor ao seu custo de produção estimado para 2024/25.
E por falar em fixação, o modelo da Archer Consulting apontou que no acumulado do dia 30 de junho de 2023 as usinas estavam fixadas um volume total 4.5 milhões de toneladas de açúcar para a safra 2024/25 ao preço médio de 20.51 centavos de dólar por libra-peso equivalentes a R$ 2,426 por tonelada FOB com prêmio de polarização. Metade desse volume foi fixado no final de abril. Assumindo que as exportações de açúcar para a safra 24/25 sejam de 26 milhões de toneladas, as fixações representam 17.3% do volume total. Confesso que imaginava um número mais próximo dos 25%, mas o modelo é o que é. Os modelos erram também.
Curiosamente, há um ano, o volume de fixação da safra 23/24 era superior: 24%. O que pode explicar o menor percentual de fixação da safra 24/25 é a restrição de crédito imposta pelas tradings às usinas e um horizonte de fixação mais estreito, em consequência do estresse no fluxo de caixa por elas sofrido no decorrer deste ano. Cachorro mordido por cobra…..
Como afirmamos aqui na semana passada, só o clima (interrupção da moagem por excesso de chuva, El Niño, por exemplo) pode adicionar uma dose de otimismo no mercado. Enquanto isso, a Índia deve encerrar sua safra produzindo 33.5 milhões de toneladas de açúcar, apenas meio milhão de tonelada abaixo da primeira previsão. No entanto, o direcionamento de açúcar para a produção de etanol foi – segundo alguns analistas – melhor do que se esperava: 5.3 milhões de toneladas de açúcar equivalente. Já o USDA aponta para uma exportação de 12 milhões de toneladas de açúcar da Tailândia para a safra 23/24 (que se inicia em dezembro). Resumo: não se vislumbra no horizonte próximo nenhum estresse na disponibilidade de açúcar.
No Centro-Sul, parece ser consenso que não vamos ter condições de moer todo esse mar de cana que será produzido. Assim, a pergunta de 1 milhão de dólares é quanto teremos de cana bisada: 10, 15 ou 20 milhões de toneladas?
No ano que vem, portanto, muitas usinas terão que começar a moagem mais cedo se quiserem moer esse mar de cana. E o mundo? Será inundado por açúcar também?