Longe da montanha-russa do petróleo na última semana e do suspense sobre a direção do ouro, outra commodity vem apresentando seu próprio drama. O açúcar em bruto disparou para as máximas de 14 meses nos últimos dias e pode continuar subindo por causa da restrição na oferta mundial – caso os preços do petróleo não venham a despencar.
Antes de seguirmos adiante, quem acompanha regularmente as commodities sabe da relação de dependência que o açúcar tem com o petróleo bruto. Os preços mais altos de energia incentivam o uso da cana para produzir o biocombustível etanol, em vez de açúcar.
Início decepcionante em 2020, depois uma disparada por causa do conflito no Oriente Médio
Há exatamente uma semana, os preços do petróleo foram catapultados do seu início minguado em 2020, após os EUA assassinarem o general iraniano Qassem Soleimani, o que quase colocou os dois países em guerra.
O petróleo norte-americano West Texas Intermediate atingiu as máximas de 8 meses, a US$ 65,65, e o britânico Brent, referência mundial do petróleo, disparou para perto das máximas de quatro meses, a US$ 71,28. Mas, assim que o rali no petróleo parecia estar começando, foi abatido pela decisão de ambos os países de não estender as hostilidades, mesmo depois de o Irã ter lançado foguetes contra bases aéreas dos EUA no Iraque, como retaliação pela morte de Soleimani.
Na quinta-feira, o barril de petróleo nos EUA voltou para baixo da marca de US$ 60, enquanto o Brent girava em torno de US$ 65, o que provocou a queda dos preços do ouro, que estavam nas máximas de 7 anos, acima de US$ 1.600.
Após um breve rali, o mercado ainda se segura perto das máximas
Embora o rali do petróleo tenha sido breve, acabou sendo doce para os produtores de cana, que não experimentavam uma alta tão grande nos preços havia algum tempo. Como as refinarias norte-americanas são obrigadas a usar pelo menos 10% de etanol na mistura da gasolina, o açúcar em bruto atingiu seus níveis mais altos desde outubro de 2018, alcançando 13,79 centavos por libra no pregão de Nova York na terça-feira, um dia antes do arrefecimento do conflito EUA-Irã.
Para quem está comprado no açúcar, a boa notícia é que o mercado ainda está se segurando perto das máximas, por causa de preocupações com a oferta nos principais países produtores, a saber: Brasil, Índia e Tailândia, o que vem dando suporte ao mercado, mesmo após o repentino vácuo nas tensões geopolíticas.
Aperto na oferta mundial
Após dois dias de venda devido ao baque tomado pelo petróleo, os futuros do açúcar em bruto em Nova York saltaram quase 2% na quinta-feira, fechando a 13,71 centavos, apenas 0,8 centavos mais baixo do que a máxima desta semana. “Parece estar havendo um aperto no mercado mundial”, afirmou Jack Scoville, analista do Price Futures Group, em Chicago, ao explicar a força no açúcar. Scoville disse ainda:
“Reportagens indicam que há pouca oferta da Índia. A Tailândia também pode ter menos oferta neste ano, devido à área reduzida de plantações e precipitações erráticas durante a estação de monção. Já há notícias de uma seca na região centro-sul do Brasil, embora também haja previsões de precipitações importantes nas próximas semanas.”
Nossa recomendação: Forte Compra
O Investing.com está recomendando “Forte Compra” no açúcar em bruto em sua Perspectiva Técnica Diária. Nossa resistência imediata está em 14 centavos por libra, ou seja, há um potencial de ganho de pelo menos 2% nesse intervalo, até que o açúcar em bruto se consolide novamente.
No que tange à análise gráfica, as médias móveis diárias do açúcar em bruto parecem dar suporte ao rali, com a média móvel de 100 dias a 13,50 centavos e a de 200 dias a 13,48.
“O açúcar continua em um forte canal de alta”, afirmou Eric Scoles, estrategista de commodities da RJO Futures, em Chicago. “O déficit de produção mundial, principal vetor fundamentalista, ainda está em vigor e continua dando suporte à alta que estamos vendo nos preços há vários meses.”
Atenção à volatilidade
Mas tanto Scoles quanto Scoville dizem que o mercado pode ver mais vendedores à medida que sobe.
“É possível que alguns touros realizem lucro e fiquem de fora", explicou Scoles. “Minha análise desse mercado ainda é muito altista, mas os touros precisam aguentar o ambiente volátil.”
Scoville disse que, no longo prazo, “a oferta de açúcar ainda é maior do que qualquer demanda”.
“Notícias indicam que a Índia está apresentando condições de cultivo relativamente boas e ainda possui grandes estoques do ano passado.” “A Índia terá que vender esse estoque cedo ou tarde. Por enquanto, essa oferta aparentemente não está se movendo.”