Na parcial desta safra 2017/18 (de abril a dezembro/17), os preços do açúcar cristal negociados no mercado spot paulista estiveram abaixo dos praticados em 2016, ano em que o Indicador CEPEA/ESALQ do açúcar cristal, cor Icumsa entre 130 e 180 (estado de São Paulo), chegou a patamares elevados. Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, tomando-se como base os valores mensais de abril/17 a dezembro/17, a média do Indicador CEPEA/ESALQ nesta safra foi de R$ 64,82/saca de 50 kg, 25,73% inferior à da temporada passada (2016/17), considerando o período de abril/16 a dezembro/16 (R$ 87,28/saca de 50 kg), em termos reais – valores deflacionados pelo IGP-DI de novembro/17.
O clima seco, que favorece a colheita da cana-de-açúcar, foi predominante na maior parte da temporada 2017/18 no estado de São Paulo. Isso acelerou a produção nas usinas e, consequentemente, aumentou a oferta de açúcar disponível para as vendas no mercado spot. Segundo levantamentos do Cepea, o volume de açúcar negociado no mercado spot entre abril e dezembro de 2017 foi 6,9% superior ao do mesmo período de 2016.
Logo após o início da colheita, em maio, precipitações restringiram as atividades, o que diminuiu a oferta do cristal de melhor qualidade (Icumsa 150). Nesse mês, a média do Indicador, de R$ 77,34/saca de 50 kg, apresentou ligeira alta em relação ao mesmo mês de 2016 (R$ 76,85/sc), de acordo com dados do Cepea. Após esse período, no entanto, os preços mantiveram-se mais baixos que os da safra anterior.
A partir de outubro/17, porém, as cotações voltaram a reagir, mas seguiram com as médias mensais abaixo das dos mesmos períodos de 2016. Segundo pesquisadores do Cepea, além das chuvas, a postura firme das usinas foi outro motivo que impulsionou os valores. De acordo com o reportado pelas usinas, os preços pagos pelo açúcar estavam próximos aos custos de produção, dificultando negócios a valores mais baixos. Nesse período, a demanda também esteve aquecida, favorecendo as altas. Já em dezembro, os preços perderam força novamente, devido ao recuo sazonal da demanda, provocado por férias coletivas de final de ano nas indústrias compradoras. Portanto, no balanço de 2017, a pressão prevaleceu.
MERCADO INTERNACIONAL – As cotações do açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures) estiveram em baixos patamares em 2017, o que influenciou as quedas do cristal no mercado doméstico. O recuo do mercado internacional foi influenciado principalmente pelas projeções de superávit global de açúcar para a temporada mundial de 2017/18. A OIA (Organização Internacional do Açúcar), por exemplo, estima que a produção de açúcar supere o consumo em 5,034 milhões de toneladas. Esse aumento é consequência do crescimento da produção de açúcar em importantes países produtores. Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), dentre os principais produtores, destacam-se o Brasil, que deve ter elevação de 2,68% na produção de açúcar; Índia, de 24,95%; União Europeia, 21,82%; Tailândia, 11,93%; e China, 12,90%. Nas duas temporadas anteriores, o mercado internacional trabalhou com expectativas de déficit - de 5,018 milhões de toneladas em 2015/16 e 6,193 milhões de t em 2016/17 – daí os preços mais elevados naqueles períodos.
Além disso, a mudança na política dos preços da gasolina no Brasil (desde junho, as cotações desse combustível passaram a variar de acordo com as oscilações internacionais do petróleo) influenciou as variações nos futuros na Bolsa de Nova York. Desta forma, os preços do etanol no Brasil se tornaram mais competitivos e, em momentos de alta dos valores do petróleo, usinas da região Centro-Sul direcionavam maior quantidade de cana para a produção do etanol em detrimento da do açúcar. Nesses períodos, normalmente os preços do demerara em Nova York apresentavam alta.
Segundo a Unica, até a primeira quinzena de dezembro, usinas da região Centro-sul moeram 578,759 milhões de toneladas de cana e, deste total, 46,99% foram direcionados à produção de açúcar e 53,01%, para a de etanol. Já no estado de São Paulo, que tem aproximadamente 60% da cana produzida no Centro-Sul, o mix foi maior para a produção de açúcar (53,93%), e os outros 46,07% foram direcionados para o etanol.
NORDESTE – Pesquisadores do Cepea indicam que o ano se iniciou com baixa produção de cana na região nordestina, devido à falta de chuvas e altas temperaturas até março. Nos meses seguintes, voltou a chover com intensidade, mas o excesso de precipitações em maio prejudicou o desenvolvimento das lavouras em algumas áreas de Pernambuco e, de maio a junho, o prejuízo foi em Alagoas.
Quanto ao preço, dados do Cepea mostram que o primeiro semestre de 2017 foi caracterizado principalmente pela desvalorização do açúcar no mercado spot nordestino. De maio a julho, apesar dos estoques reduzidos em período de entressafra, os valores estiveram baixos, influenciados pela entrada do açúcar do Centro-Sul, com destaque para Goiás. Com o início da nova safra 2017/18 em setembro, o movimento de queda prevaleceu até a primeira quinzena de novembro. Após este período, a demanda aumentou e os preços voltaram a subir. Além disso, a alta no mercado internacional também impulsionou as cotações na região. Algumas unidades produtoras consultadas pelo Cepea optaram por ficar fora do mercado, priorizando as exportações. Já em dezembro, apesar da demanda retraída devido à desaceleração das compras pela indústria, as cotações permaneceram firmes.