A safra global 2019/20 pode registrar déficit de açúcar, após duas temporadas consecutivas de superávit. As esperadas quedas de produção na Índia e Tailândia devem pressionar a produção mundial do produto. Assim, a estimativa da Organização Internacional de Açúcar (OIA) é de déficit de 6,11 milhões de toneladas, número que ainda pode ser ampliado, caso as colheitas nos principais produtores asiáticos (incluindo China, Índia e Tailândia) sejam inferiores às expectativas. No Centro-Sul do Brasil, a previsão é de ligeiro aumento na produção de cana-de-açúcar na temporada 2020/21, o que se deve, dentre outros fatores, à maior taxa de renovação dos canaviais, que chegou a 16,2%, segundo levantamento do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), divulgado em novembro/19. Um aumento na produção brasileira de cana, contudo, não garantiria maior oferta de açúcar, tendo em vista que o mix deve se manter favorável ao etanol.
CAFÉ: POSSÍVEL MENOR OFERTA PODE SUSTENTAR PREÇOS
A temporada 2020/21 de café pode ser volumosa, segundo a opinião de agentes consultados pelo Cepea, devendo somar pouco mais de 60 milhões de sacas. Ainda assim, a produção deve ser inferior à safra 2018/19, que foi recorde (quase 62 milhões de sacas). Esse cenário e o maior volume de grão comercializado no encerramento de 2019 podem sustentar os valores do café nos primeiros meses de 2020. Altas temperaturas e baixos índices pluviométricos até meados de outubro de 2019 resultaram em perdas de flores e, posteriormente, de alguns chumbinhos, tanto nas lavouras de arábica quanto nas de robusta. Além disso, os preços muito baixos em boa parte de 2019 fizeram com que muitos produtores restringissem os tratos nas lavouras em 2019/20 e na florada da safra 2020/21, o que pode limitar a produtividade. Por outro lado, o retorno das chuvas em novembro e a forte recuperação das cotações nos últimos meses do ano animaram cafeicultores, que retomaram os investimentos na maior parte dos cafezais no final de 2019, contexto que pode auxiliar em um potencial produtivo ainda bom para 2020/21. A colheita de robusta está prevista para se iniciar em abril e a do arábica, em maio.
TRIGO: IMPORTAÇÕES AUMENTAM EM 2019, APESAR DE MAIOR OFERTA
Segundo dados do Cepea, as cotações domésticas de trigo em grão iniciaram o ano passado em alta, mesmo com a maior oferta na safra 2018/19 no Brasil e na Argentina. O que chamou a atenção foi o intenso ritmo das importações, que se mantiveram acima de 600 mil toneladas a cada mês, contexto verificado apesar do patamar elevado do dólar. De abril até o final do primeiro semestre, os valores do trigo caíram no mercado brasileiro, refletindo a baixa liquidez interna. Ainda assim, as importações do grão se mantiveram firmes naqueles meses. No balanço da safra 2018/19 (de agosto/18 a julho/19), o volume importado somou 6,75 milhões de toneladas, elevação de 5,7% sobre a temporada anterior (de agosto/17 a julho/18), segundo dados da Secex. No segundo semestre, as cotações do cereal estiveram firmes, sustentadas pelo clima desfavorável, que prejudicou boa parte das lavouras do Paraná e Rio Grande do Sul.
ETANOL: PRODUÇÃO DEVE VOLTAR A CRESCER COM RENOVABIO
O Programa Renovabio, que se iniciará neste mês, deve possibilitar a retomada do crescimento da produção de etanol. Além disso, segundo pesquisadores do Cepea, outro ponto que deve favorecer o esperado crescimento do mercado brasileiro do biocombustível é a possibilidade do uso de outras matérias-primas além da cana-de-açúcar para a produção de etanol, como o milho. Quanto ao preço do etanol, deve continuar competitivo relativamente à gasolina nos estados onde ocorre a maior parte da produção e do consumo nacional. A proximidade do preço do etanol relativamente ao da gasolina, por sua vez, vai depender da taxa de crescimento da renda. Quando a renda aumenta, o consumo de combustível também cresce, tanto pela maior aquisição de veículos que passam a fazer parte da frota, quanto por maior uso daqueles que já existem.