O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento maio/22 cotado a 18.93 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 30 pontos na semana, equivalentes a 6.60 dólares por tonelada. Os vencimentos seguintes, pelo menos até o outubro/23, fecharam também em quedas entre 1 e 9 dólares por tonelada. O volume de negócios na semana foi abaixo do normal, talvez porque boa parte dos negociadores estavam na Conferência Anual do Açúcar que ocorreu em Dubai.
O real se valorizou em relação ao dólar esta semana o que provocou uma queda nas cotações de açúcar convertidas em reais por tonelada, mesmo após o Banco Central do Brasil ter elevado a taxa básica de juros da economia para 11.75% ao ano o que engordou a cotação do real ao longo do tempo. O valor presente (VP) médio das cotações referentes à safra 22/23 encerraram a R$ 2,153 por tonelada FOB Santos pouco abaixo do valor médio das fixados das usinas para a safra que se inicia, de R$ 2,178. O VP das cotações médias de fechamento referentes à safra 23/24 foi de R$ 1,960 por tonelada.
O petróleo caiu cerca de 5% na semana, mas a defasagem do preço da Petrobras (SA:PETR4) em relação ao mercado internacional estava em 11% no fechamento da sexta-feira, portanto, não acreditamos que a empresa vai reduzir o preço na refinaria.
Os fundos liquidaram fortemente a posição comprada, vendendo na semana (de terça a terça), segundo o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, quase 52,000 contratos. Sinal de virada de posição?
Continuamos com a visão de preços neutra para baixista para a safra 22/23, acreditando firmemente que o mercado deve ir para o custo e carrego (cash and carry) devido à oferta e demanda de açúcar mundial estar bem equilibrada, juros altos que coíbem formação de estoques, inflação alta e perda de renda das famílias.
Cash and carry significa que os vencimentos mais curtos devem se depreciar mais rapidamente que os vencimentos mais longos. Os fundos liquidando maciçamente pode ser uma indicação que estariam virando a mão (mudando de comprados para vendidos). O que pode mudar esse quadro é o tamanho da safra de cana no Centro-Sul. Algumas usinas acreditam que a produção não deverá alcançar a média de 554 milhões de toneladas de cana com a qual o mercado parece estar considerando. Se isso ocorrer, o mercado tem menos espaço para cair.
Para a safra 23/24, o cenário pode ser bem diferente. Vai depender de como o mercado será suprido de fertilizantes e outros químicos e a que preço. Um aumento substancial no custo de produção – hoje estimado em R$ 1,580 por tonelada FOB Santos – pode fazer desaparecer qualquer margem (veja acima mencionado, que o fechamento hoje da 23/24 liquidaria R$ 1,960).
Também fica no ar se o milho em alta pode comprometer a viabilidade econômica do etanol de milho internamente. Além da expansão quase que inexistente da área de cana. Por isso, temos uma visão de neutra para altista na safra 23/24, não recomendando o hedge de venda nesse momento, mas se absolutamente necessário, pelo menos que esteja acompanhado da compra de uma call (opção de compra) 200 pontos acima do valor fixado em centavos de dólar por libra-peso.
As recentes pressões ocorridas no mercado de commodities, em especial no níquel, petróleo e trigo, foram um alerta para os bancos que financiam as tradings. Obviamente, quando uma situação de estresse emerge nos mercados futuros, as necessidades impostas pelas chamadas de margem inicial e os ajustes diários explodem e enxugam a disponibilidade de recursos que as tradings possuem em caixa para a sua atividade precípua que é a de comercializar commodities.
A apreensão de ver o caixa da empresa minguando é psicologicamente avassaladora. Quem não se lembra do estresse de caixa que o setor viveu na safra 2010/2011 quando, em maio de 2010 em pleno Jantar do Açúcar em NY, o mercado batia 13 centavos de dólar por libra-peso (equivalentes hoje a R$ 1,290 por tonelada), em meio às eructações de sabedoria dos baixistas de plantão que apontavam para uma célere e inquestionável queda em direção aos 10 centavos. Apenas 9 meses depois, o açúcar negociava em NY a 36.08 centavos de dólar por libra-peso (equivalente hoje a R$ 3,080 por tonelada), um aumento de 178%! Haja sangue frio e sobra de caixa para lidar com isso.
A centenária LME (London Metals Exchange) encerrou as negociações do níquel há duas semanas e cancelou várias operações com o metal cujo valor ultrapassava alguns bilhões de dólares. O argumento da bolsa é que se não procedesse dessa forma, várias corretoras teriam encerrado suas atividades indo à bancarrota. O fato, no entanto, para as instituições financeiras, alerta para o perigo que pode advir de situações de estresse e risco sistêmico que atuam como efeito dominó.
A tensão no mercado de níquel foi causada por um grande negociador chinês que ficou descoberto muito além do seu limite. O fato de a LME pertencer à China desde 2012 é apenas um detalhe. Assim como ocorreu em 2008 com o episódio da Lehman Brothers, não seria surpresa que os reguladores começassem a ficar mais atentos aos mercados de commodities que podem afetar a cadeia de alimentos (grãos e softs, por exemplo).
Quando o preço de uma commodity se eleva, as tradings precisam de mais capital de giro para conseguirem manter o mesmo volume de negociação. É importante ressaltar que as tradings agrícolas não estão passando por nenhuma situação dramática, mas é inegável que quando a luz amarela se acende após situações de risco em outras commodities é apenas natural que as instituições financeiras ao redor do mundo fiquem mais atentas.