O cenário macro se degrada aceleradamente alimentado pelos problemas de liquidez dos bancos europeus, primeiro com o Credit Suisse (SIX:CSGN) e agora com os renomados alemães Deutsche Bank e Commerzbank. O mundo se depara com uma atmosfera que lembra – talvez não com a mesma dimensão – a crise que vimos em 2008. Como isso vai acabar, ninguém sabe. No entanto, é razoável ter prudência e não flertar com riscos desnecessários.
Nos últimos doze meses, a deterioração das commodities é visível. A queda é liderada pelas commodities de energia. O gás natural, importante componente na formação de preço do açúcar de beterraba europeu, em doze meses derreteu 59%. Seguem a gasolina, o petróleo tipo Brent, que serve de referência para a Petrobras (BVMF:PETR4), e o tipo WTI que amargaram perdas acumuladas em doze meses de com 24%, 42% e 38% respectivamente.
Mesmo nessa condição de desvalorização acentuada, tanto a gasolina quanto o petróleo, segundo alguns analistas respeitados no mercado de energia, têm espaço para cair em função da decisão americana de não restabelecer as reservas estratégicas de petróleo americanas (para atingir a economia russa) e a recessão que bate à porta no mundo ocidental com a maioria dos países aumentando os juros para controlar a inflação.
Aqui, a atuação lamentável do presidente Lula e do presidente do Banco Central, como dois garotos briguentos da quinta série tem como motivação a manutenção pelo BC (por birra, talvez?) da exorbitante taxa de juros real da economia brasileira, a maior do planeta. Com essa atitude, o Banco Central, que poderia ter ao menos tido o bom senso de sinalizar para o mercado financeiro a possiblidade de redução futura da taxa básica de juros no curto prazo, em especial num ambiente de reduzido crédito devido ao efeito Americanas, empurra ladeira abaixo qualquer possibilidade de recuperação da economia. Querer cobrar de Lula o mínimo de respeito à independência do Banco Central é causa perdida. Mas, que o presidente do Banco Central também age com pouco profissionalismo e maturidade necessários ao cargo, é fato. No Brasil faltam políticos e agentes públicos que pensam no País. Não basta vestir uma camisa verde e amarela.
Somem-se o ambiente interno e externo, causa espanto como o açúcar consegue se manter nos níveis atuais. Lembrando que nos últimos doze meses, juntamente com o suco de laranja, o açúcar foi a única commodity que teve variação positiva.
Em NY, os futuros de açúcar encerraram a semana cotados a 20.84 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento maio/23, uma variação de 17 pontos na semana, equivalentes a pouco menos de 4 dólares por tonelada de alta. Na média da safra 23/24, ou seja, os vencimento maio-julho-outubro/23 e março/24, tiveram uma melhor de apenas 10 reais por tonelada na semana. A safra 24/25, a variação da semana foi negativa em 12 reais por tonelada, comparativamente à sexta-feira anterior.
O real desvalorizado frente ao dólar, reflexo do cenário internacional adverso e da inanição de um governo composto por uma pletora de incompetentes, contribui para que o efeito devastador do derretimento do preço da gasolina lá fora não fosse ainda pior para a paridade da gasolina com o hidratado, hoje negociado a um desconto próximo de 600 pontos em relação ao açúcar. É o governo Lula contribuindo com o setor.
Ironias à parte, mais usinas começam a olhar com bastante atenção a fixação dos preços do açúcar para exportação já para a safra 24/25, uma vez que a fixação da 23/24 deve estar próxima dos 80% e há pouco a fazer nesse início de safra. A curva em reais propiciada pelo generoso spread entre a taxa de juros interna e externa, oferecida pelos bancos via NDF (contrato à termo de dólar com liquidação financeira) remunera a 24/25 com boa margem ainda que se considere um eventual aumento no custo de produção: na média R$ 2,343 por tonelada FOB equivalente.
Em resumo, temos uma situação em que o cenário externo indica uma combinação de improvável crescimento econômico mundial, pressão nos preços dos combustíveis, aumento da taxa de juros em diversas economias, inflação que reduz o poder de compra das famílias e a constante instabilidade geopolítica com Rússia, Ucrânia, China, Taiwan e os EUA como protagonistas.
Mas, o açúcar segue incólume a todos essas questões e muita gente acredita que o preço da commodity continuará subindo durante muito tempo. A vulnerabilidade dos compradores industriais, que não recompuseram seus estoques, tem enorme peso nesse momento, além da ausência das usinas para dar liquidez ao apetite dos fundos que, segundo o agora atualizado COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, estão long (comprados) 174,000 lotes.
A narrativa dos altistas conta com a firme convicção de que a Índia não vai exportar mais do que as 6 milhões de toneladas citadas nos quatro cantos do planeta; que a safra de grãos no Brasil vai congestionar os portos do Sudeste e consequentemente o embarque de açúcar vai enfrentar problemas logísticos graves; e também, claro, El Niño, o déficit mundial entre outros.
Para as usinas, resta prestar atenção aos fundamentos e encontrar uma razão bem plausível para não fixar seus açúcares a preços tão atrativos. O preço de fixação hoje para o maio/24 corresponde a R$ 2,429 por tonelada, que nos últimos 24 anos representa 15% de todos os eventos já devidamente corrigidos pela inflação. Ou seja, em 85% das vezes o preço negociado foi inferior a esse valor, de 2000 até hoje.
Ainda que o imponderável sempre apareça para nos pregar peças, para mitigá-lo existem várias alternativas usando derivativos que permitem a participação na alta caso o mercado continue a subir. Só não pode fazer aquele tal de acumulador, hein. Por favor!!