- Índia suspende exportações de arroz, em meio a preocupações com escassez no mercado local.
- Preços do cacau disparam, devido a fatores climáticos e políticos;
- Açúcar está em alta, diante de expectativas menores de produção.
O clima é um dos principais fatores que influenciam os preços de diversas commodities agrícolas ao redor do mundo. E isso se aplica principalmente a três importantes commodities alimentícias: cacau, açúcar e arroz, que registraram uma alta considerável de preços nas últimas semanas.
Quando falamos em fatores climáticos, o principal ponto de preocupação é o fenômeno El Niño, que se origina no Oceano Pacífico e provoca chuvas intensas na América do Norte e do Sul, além de secas no sudeste da Ásia e na Austrália. Essa última região é especialmente relevante por ser uma grande produtora de açúcar e arroz, entre outros produtos agrícolas.
Além dos fenômenos meteorológicos, as dinâmicas políticas e comerciais também estão ganhando importância, com destaque para a Índia e a África Ocidental.
Vamos analisar cada uma dessas commodities citadas anteriormente para tentar entender o que o futuro reserva para os preços dos alimentos.
Arroz pode fechar gap de preços?
Um acontecimento fundamental no contexto das cotações de preços do arroz é a decisão recente da Índia de suspender a exportação de arroz não basmati para tentar estabilizar os preços do mercado interno. Essa decisão tem grandes implicações para os mercados internacionais, na medida em que a Índia, juntamente com a China, ocupa uma posição dominante no setor, respondendo por 40% do comércio mundial.
Além disso, o excesso de chuvas na China, sobretudo em regiões altamente produtivas de arroz, está prejudicando as plantações, ao mesmo tempo em que a Tailândia incentiva os agricultores a economizar água, devido a condições de estiagem. A combinação desses fatores deve aumentar a demanda e manter os preços em alta no futuro próximo.
O primeiro alvo para os compradores é o gap do arroz localizado na resistência de preço de US$ 17,5. O rompimento desse patamar abre espaço para um ataque das máximas do ano em torno de US$ 20.
Cacau se aproxima das máximas de vários anos
O cacau apresenta uma tendência de alta notável há quase um ano, levando seu valor para perto do pico de 2011, em cerca de US$ 3.800.
Mais uma vez, condições meteorológicas adversas estão tendo um papel central, exacerbando seu impacto devido à grande dependência do cultivo de cacau nos países da África Ocidental, como a Costa do Marfim e Gana. O clima político tenso na região também complica a situação, exercendo pressão ascendente sobre os preços do cacau.
O cenário atual indica um desafio às máximas de vários anos mencionadas anteriormente, o que, combinado com fatores meteorológicos e políticos, parece altamente provável.
Açúcar retoma tendência de alta
China, União Europeia, Índia, México e Tailândia reduziram suas previsões de produção de açúcar para esta temporada. Isso inevitavelmente intensificou as pressões do lado da oferta, que têm sido evidentes desde meados de junho. O Brasil é o único país que está testemunhando um aumento na produção, mas mesmo esse aumento não é suficiente para compensar o déficit de outras regiões.
Além disso, os estoques estão diminuindo, com a Organização Mundial do Açúcar estimando uma redução de aproximadamente 0,8 milhão de toneladas. Isso indica um retorno iminente a uma trajetória de alta nos preços do açúcar. Da mesma forma que o cacau, esperamos um desafio às recentes máximas de preço, neste caso, os picos locais observados em abril deste ano.
Se houver um rompimento, o próximo alvo para a demanda estará na faixa de US$ 28 a US$ 29, marcando os níveis mais altos desde 2011.
(Publicado originalmente em inglês. Tradução de Julio Alves)
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Aviso: O autor não possui posições nos instrumentos mencionados.