O açúcar se destaca como uma das commodities agrícolas que mais se valorizou no acumulado do ano. Subiu quase 11%, atrás apenas do cacau com 12.5% e do suco de laranja que explodiu 33% este ano. O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana bastante saudável chegando a negociar a 22.36 centavos de dólar por libra-peso, o mesmo preço negociado dia 28 de fevereiro, agora com o maio/23 repetindo o que ocorrera com o março/23. Os altistas não conseguem parar de rir à caminho do banco. Estima-se que os fundos estejam ganhando pelo menos US$ 600 milhões com a “modesta” posição de 190.000 contratos que eles possuem. Sim, estou sendo irônico.
O contrato acabou encerrando a sexta-feira cotado a 22.30 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 148 pontos equivalentes a quase 33 dólares por tonelada. Como o real se valorizou ao redor de 3.5% em relação ao dólar no acumulado da semana, a variação em reais por tonelada foi mais modesta. Os meses correspondentes à safra 23/24 do Centro-Sul fecharam com alta média de 32 dólares por tonelada; a safra 24/25, com alta média de 22 dólares por tonelada.
Está todo mundo altista. Parece que um meteoro, igual aquele que dizimou os dinossauros, caiu sobre a Terra e eliminou os baixistas. Sumiram todos, ou estão internados em alguma clinica de reabilitação. E já tem lista de espera para a inscrição de novos altistas. O fato é que o medo da alta está fazendo com que o mercado de opções do açúcar fervilhe e a cobertura de posições futuras vendidas a descoberto alimentem ainda mais a alta. Com a subida de preços, as chamadas de margem nos futuros e nas calls (opções de compra) vendidas sangram o caixa das empresas e o botão de pânico está a alguns milésimos de ser acionado.
Não adianta chorar: os fundos especulativos continuam a dar o tom para o mercado futuro de açúcar, ajudados indiretamente pelo fato de as usinas estarem fixadas mais de 85% do volume estimado de exportação, de acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting e usado há mais de dez anos. Nosso número projeta uma exportação de 24 milhões de toneladas, no entanto, caso esse número seja – digamos – de 28 milhões de toneladas, o percentual é menor. As usinas que já preveem um aumento na produção de açúcar, estão fazendo novas fixações para não perder a oportunidade de preços tão generosos.
Com o fechamento de sexta-feira, uma fixação de açúcar para a exportação em outubro/23, equivale a R$ 2,600 por tonelada FOB, usando o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, com vencimento para aquele mês. R$ 2,600 é um preço que nos últimos 20 anos (devidamente corrigidos pela inflação) só foi excedido em 9% das vezes.
Temos sempre realçado nesse espaço que uma boa estratégia é fixar preços em reais por tonelada e concomitantemente comprar uma call (opção de compra) 150 pontos acima do mercado para participar numa eventual alta. Essa operação é – na verdade – uma put (opção de venda) sintética.
Pressuponha que há quatro semanas (dia 3 de março) uma usina tenha fixado preços do açúcar para outubro/23 a 19.59 centavos de dólar por libra-peso e obtido uma taxa de câmbio de R$ 5,4639 (o spot negociava a R$ 5,2000) e comprou uma call (opção de compra) de preço de exercício a 21 centavos de dólar por libra-peso, pagando 65 pontos equivalentes a R$ 74,62 por tonelada. A fixação líquida da usina ficou em R$ 2,384. Se fizesse a fixação hoje obteria R$ 2,567 por tonelada. Mas, espera, quanto vale hoje aquela opção comprada em 3 de março? Vale (BVMF:VALE3) R$ 156 que somados à fixação liquida perfaz R$ 2,540. Ou seja, hoje o preço está apenas R$ 27 acima da put sintética. Com um bônus, se o preço do açúcar continuar a subir, quem fixou hoje mantem os R$ 2,567. Quem fixou e comprou a call vai continuar a participar na alta. Soluções simples !!
O COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, indica que os fundos compraram mais 16,000 lotes na semana. Como me disse um reconhecido corretor de futuros, enquanto baforava seu Cohiba na varanda de seu apartamento com vista para os arranha-céus de Manhattan, usando uma expressão futebolística,” [para os fundos], é só chutar pro gol que está sem goleiro”. Ou seja, como as usinas estão fixadas quase no limite de suas exportações, qualquer compra mais pesada por parte dos especuladores coloca o mercado em patamares mais elevados. E tudo indica que eles ainda têm munição.
Como reflexão, vale observar que a média mensal dos fechamentos diários de NY convertidos em reais pela taxa informada pelo Banco Central do Brasil e ajustada pela inflação apurou R$ 2,411 por tonelada no mês de janeiro, R$ 2,567 em fevereiro e R$ 2,508 em março. A média dos fechamentos do primeiro mês negociado em NY em janeiro foi de 19,95 centavos de dólar por libra-peso, 21,40 centavos de dólar por libra-peso em fevereiro e 20,97 centavos de dólar por libra-peso em março. O trimestre se encerra com o preço médio mais alto no fevereiro. Será que abril nos trará surpresas? Nos últimos 20 anos, em apenas 35% das vezes o preço médio de abril foi superior ao preço médio de março.
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