Bastou um par de dias de chuva em Ribeirão Preto e região para que o mercado futuro de açúcar em NY saltasse novamente aos pontos mais altos observados algumas semanas atrás. A variação semanal foi vigorosa, com o contrato para vencimento julho/23 encerrando o pregão de sexta-feira cotado a 26.33 centavos de dólar por libra-peso, 95 pontos de apreciação acumulados na semana, equivalentes a 21 dólares por tonelada, mas que devido à valorização do real frente ao dólar, fechando na mínima de R$ 4,8139, apresentou uma variação de apenas 89 reais por tonelada em relação ao fechamento da semana anterior. Os demais contratos futuros também apreciaram durante a semana, apresentando variações positivas médias de 40 pontos para a safra 24/25 e metade disso para a safra seguinte.
Os fundos não-indexados aumentaram suas posições compradas. Pelo número divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, com base na posição de terça-feira passada, eles estavam long (comprados) em 193,399 lotes. Como de lá para cá o mercado subiu mais 120 pontos, acreditamos que os fundos possam estar comprados acima dos 200,000 lotes.
As usinas do Centro-Sul estão no limite do que podem produzir de açúcar. A grande maioria “virou a chave” para maximizar sua produção aproveitando as margens fabulosas que o mercado futuro apresenta. Já o etanol sofre seu inferno astral. A Petrobras (BVMF:PETR4) reduziu o preço da gasolina na refinaria (exatamente quando o mercado esperava um ligeiro acréscimo nos preços) enquanto o real negociava no nível mais baixo dos últimos doze meses, uma combinação de eventos que derruba o preço da gasolina no posto e empurra adiante o retorno do consumidor no abastecimento do hidratado.
Além disso, aumenta a disponibilidade do etanol de milho deixando bastante confortável o estoque de passagem no final desta safra. Não se vislumbra estresse na oferta do produto. A demanda, por outro lado, continua aquém do esperado. Como a margem de contribuição do produto míngua, é razoável supor que a pressão de venda por parte das usinas para o adicional que vão produzir coloque uma barreira natural em termos de preço.
Poucas vezes se viu o mercado futuro de determinada commodity negociar acima do custo de produção da maioria dos países exportadores durante longo período – como é o caso açúcar de abril para cá – sem que houvesse nenhuma ruptura nos fundamentos que justificasse isso.
O que coloca o mercado em alerta para uma contínua alta é apenas o clima. Uma tempestade perfeita que combine o atraso na produção/entrega de açúcar, uma cobertura endossada pelo pânico dos consumidores finais (que perderam o timing efetivamente!) e um caos logístico portuário devido ao acúmulo nos embarques das safras de açúcar e grãos. Nada disso é real, por enquanto. Ocorra ou não essa tempestade, ela vai apenas retardar a queda do mercado em 24/25.
Nos últimos 6 anos, o total acumulado de produção até o dia 1º de junho acabou representando uma média de 19.66% da produção total. Pelos números divulgados pela UNICA o Centro-Sul já moeu 125 milhões de toneladas de cana. Fazendo uma conta simples, o volume estimado seria de 635 milhões de toneladas. Não vai ser isso, claro, mas deve alcançar facilmente 600 milhões de toneladas.
O ano que vem – cientes que ainda haverá um longo e tortuoso caminho a percorrer – o Centro-Sul deve crescer em volume de cana dado que melhores cuidados estarão sendo feitos com insumos mais baratos e dinheiro em caixa. 640 milhões de toneladas pode ser um número factível além da cana bisada desse ano, caso as usinas não consigam moer a totalidade de produto devido ao mau tempo.
Independentemente do cenário que se queira construir, 2024/25 emerge como uma safra em que possivelmente teremos um superávit mundial e aumento de produção de açúcar não apenas no Brasil, mas em outros países. Caso o mercado de energia permaneça anêmico, o hidratado de cana encolhe, dando espaço para o etanol de milho e mais açúcar estará disponível ao mercado.
O futuro de açúcar é construtivo, e será sustentado pelo crescimento populacional e do consumo per capita da Ásia. O mundo vai precisar entre 11-12 milhões de toneladas de açúcar a mais nos próximos 5 anos e o Brasil deve ser responsável por fornecer pelo menos 40% desse volume. Os combustíveis renováveis ganharão maior protagonismo nos próximos anos (vide o que ocorre na Índia hoje). Assim, é impossível não ficar otimista em relação ao setor. Isto é cristalino para nós.
No entanto, preços altos costumam ser ruins quando estimulam crescimento desordenado da produção. Mercados afetados por elevações de preço alimentadas por artificialismos costumam ruir como castelo de cartas. Em 2005, o então presidente Lula persuadiu muitos empresários a investirem pesadamente na produção de etanol, já que o País se tornaria na visão megalomaníaca dele “a Arábia Saudita dos combustíveis renováveis”. Tem usina até hoje pagando caro pelos projetos mirabolantes encorajados pelo presidente fanfarrão.
Não podemos jamais esquecer que em commodities os fundamentos se sobrepõem às narrativas. Quem paga para ver, acaba ficando com a conta da festa que não participou. Não fixar preços pode ter um alto ônus. O negócio é ter os custos de produção na ponta do lápis, adicionar uma pitada de incerteza e estabelecer níveis de proteção que remunerem o acionista adequadamente. Acreditar que um mercado suba perenemente demonstra extrema ingenuidade.