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Açúcar: A peça que falta

Publicado 13.11.2023, 12:27
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O fechamento da semana em NY mostrou mais do mesmo, ou seja, mercado sobe e cai na dança dos algoritmos e na falta de elementos fundamentalistas que substanciem uma elevação de preços. Portanto, NY encerrou o pregão de sexta-feira cotado a 27.33 centavos de dólar por libra-peso para o contrato com vencimento em março/24, acumulando uma queda de 44 pontos na semana, equivalentes a quase 10 dólares por tonelada. Os demais vencimentos dos contratos correspondentes à safra 24/25 do Centro-Sul oscilaram entre 32 e 46 pontos de queda (aproximadamente de 7 a 10 dólares por tonelada).

O mercado segue em busca dos 30 centavos de dólar por libra-peso. Bateu 28,18 na semana. Contudo, é essencial reconhecer que as informações que impulsionam essas altas já estão incorporadas ao mercado e, em teoria, devem estar refletidas nos preços vigentes. Os mercados de commodities tipicamente antecipam eventos, não reagindo somente à sua ocorrência. Assim, para que os preços continuem sua trajetória ascendente em direção ao emblemático patamar de 30 centavos de dólar por libra-peso, seria necessário um evento surpreendente e de grande impacto. Resta a questão: quais seriam esses possíveis eventos?

Observe que o mercado já precificou a expectativa de que a Índia não realizará exportações de açúcar este ano. Além disso, antecipou a potencial diminuição da produção açucareira da Tailândia, consequência direta dos efeitos de uma seca severa. O governo tailandês evidencia que a regulação do preço do açúcar no país é um instrumento eficaz no combate à inflação, o que implica em uma expectativa de diminuição das exportações. O discutido déficit global de açúcar, amplamente debatido no setor, assim como o lineup nos portos brasileiros (veja mais logo a seguir) também já estão contemplados nos preços atuais do mercado.

O que ainda pode trazer um quadro mais preocupante (para os vendidos) para os preços do açúcar é um eventual recrudescimento da crise no Oriente Médio com reflexos nos preços do petróleo e o tamanho da cobertura necessária por parte dos consumidores industriais de açúcar. As indústrias, na esperança de preços mais favoráveis, retardaram suas compras de matéria-prima, uma estratégia que pode ter se mostrado ineficaz diante de preços que não diminuíram conforme esperado. Agora, qualquer venda significativa por parte dos fundos especulativos, que atualmente estão em posição de compra, acaba sendo mitigada pela demanda desses consumidores que se encontram atrasados em suas aquisições.

Mas, tem um ponto que é absolutamente importante para a consecução desse plano (os 30 centavos): a presença ativa dos fundos especulativos. Sem eles, a tarefa será muito mais desafiadora e novos fatores terão que surgir com força suficiente para impulsionar o mercado com a mesma eficácia. É essa a peça que falta.

Como se sabe, o mercado de energia está anêmico. Em um mês o petróleo tipo Brent caiu 6.35%, o tipo WTI recuou 9.37% e o gás natural despencou 18.91%. Em paralelo, a UNICA divulgou os recentes números de moagem de cana-de-açúcar do Centro-Sul: até o dia 1º de novembro, foram processadas 560,5 milhões de toneladas de cana, um volume apenas superado pela safra de 2020/2021. Analisando dados históricos dos últimos doze anos, o volume moído até esta data corresponde, em média, a 89,4% do total da safra. Com base nesses dados, estima-se que a moagem total para a safra atual alcance cerca de 627 milhões de toneladas de cana.

A reação do mercado a qualquer indicação de exportação de açúcar pela Índia, a uma safra tailandesa que supere as expectativas ou a uma produção do Centro-Sul que atinja 41,6 milhões de toneladas de açúcar pode ser volátil. Se qualquer um desses eventos se concretizar, os fundamentos que atualmente sustentam as posições compradas dos fundos especulativos poderiam ser questionados, possivelmente levando a uma reavaliação de suas estratégias de investimento. Ou, no popular, “sai de baixo que lá vem venda”.

A história do mercado nos lembra que, frequentemente, após grandes altas, vêm quedas expressivas. O exemplo de janeiro de 2011 é emblemático, onde um preço médio em Nova York de 32,09 centavos de dólar por libra-peso foi seguido por um declínio de 32% em maio. Este padrão repetiu-se nos meses de maio após picos em janeiro de anos subsequentes, com quedas de 16%, 24% e 15% em 2015, 2017 e 2018, respectivamente. Mais recentemente, em 2020, um pico em fevereiro foi sucedido por uma queda de 29% em maio. Ah, mas hoje é diferente…

Contudo, cada ano traz consigo um conjunto distinto de circunstâncias. O ano corrente, com seus desafios e configurações únicas, pode não se alinhar inteiramente aos padrões anteriores, sugerindo que enquanto podemos olhar para o passado em busca de insights, as peculiaridades do presente sempre têm o potencial de surpreender o mercado.

Por outro lado, a análise da sazonalidade do açúcar com base nos últimos 25 anos e nos dados desta safra em curso estima que o preço médio do contrato de NY em fevereiro/24 pode chegar a 28.11 centavos de dólar por libra-peso. Muita informação, não é mesmo?

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