Nascemos para tomá-los
Durante a infância, ficamos acostumados a receber todo tipo de alerta vindo dos nossos pais.
Ouvimos inúmeras vezes a sentença: “Não faça isso ou a punição será…”. O que completa a frase poderia, em muitos casos, nos impedir de arriscar a desobedecê-los.
A gente cresce aprendendo a temer os riscos e a pensar duas vezes antes de tomar alguma decisão.
Ouvi recentemente em uma entrevista com o empresário Jorge Paulo Lemann a seguinte frase: “Risco faz parte da vida, se você passar a vida tentando evitar risco, você não vai viver”.
O mesmo vale para os nossos investimentos.
O brasileiro, por sua vez, cresceu com medo do investimento em ações da bolsa.
Por muito tempo, as taxas de juros na casa de dois dígitos nos mantiveram na inércia, mal acostumados com aplicações em renda fixa.
Hoje em dia, se você quiser melhores retornos, ainda mais com a Selic a 3 por cento, vai precisar de uma carteira mais apimentada.
Portanto, meu objetivo nesta newsletter é fazer você conviver em paz com os seus investimentos, depois de entender os riscos e os remédios para mitigá-los.
Eles estão por toda parte
Em qualquer investimento, seja na renda fixa ou na variável, os riscos estão lá. Sejam exógenos ou inerentes, quantitativos ou qualitativos, de alta ou baixa probabilidade de acontecer.
A depender do tipo da empresa ou emissor de um título no mercado, cada risco trará percepções diferentes e exigências de retorno maiores pelo investimento.
O risco de mercado, por exemplo, pode fazer com que o mundo dos investimentos pareça uma montanha-russa com suas variações diárias e, por vezes, você pode ver seu ativo desvalorizar mais de 50 por cento sem que ao menos aconteça algum evento que, de fato, mude o valor do negócio.
O risco de liquidez pode te impedir de vender aquela ação sem volume nenhum e, talvez, quando for vender, o preço pode ser muito penalizado pelo simples fato de não existir demanda suficiente de compradores.
Nesse "emaranhado mar de riscos", muitos investidores principiantes acabam vendo o mercado de ações como um jogo perigoso. Porém, a história é muito diferente quando enxergamos os benefícios de dois aliados: tempo e diversificação.
O tempo é o melhor remédio
Quando falamos que investimentos são para longo prazo, não estamos apenas repetindo um mantra como desculpa para esperar uma tese dar certo.
O fato é que a economia, as empresas e a maioria dos projetos no mundo real demoram para maturar e gerar os resultados esperados.
Portanto, se você quer investir em um negócio e esperar uma supervalorização no mês seguinte, sinto te dizer: o seu lugar não é na bolsa.
O histórico do mercado mostra que a melhor maneira de diminuir o risco em um investimento é aumentar o tempo que você o mantém na sua carteira.
Testei a hipótese e utilizei o índice Ibovespa desde 1994 até hoje. Incluí várias janelas de retornos em prazos como em 1, 3, 5, 10, 15 e 20 anos, considerando investimentos realizados sempre no início do ano para facilitar o exemplo.
Com a ressalva de que retornos passados não são garantia de retornos futuros, podemos notar que, quanto mais o tempo passa, mais o risco vai diminuindo.
Outro ponto observado foi que, geralmente, considerando prazos mais curtos — como os de 1 a 5 anos —, os retornos são piores e com maior sensibilidade a crises.
O pior retorno nas janelas de um ano foi de -41 por cento, em 2018 (crise do subprime), e o pior retorno nas janelas de 5 anos foi no final de 2015 (crise fiscal no Brasil).
Mesmo assim, o tempo colocou tudo no lugar e as janelas de 10 a 20 anos não apresentam resultados negativos como piores retornos.
A estratégia de investimento em ações no longo prazo mostra uma maior chance de sucesso. Sem a paciência necessária, maiores são as chances de perder dinheiro neste mercado.
A gestão ativa, estratégia que visa uma seleção de ações para obter retornos maiores do que a média de mercado, também prova ser uma excelente opção quando bem tocada. Um caso de sucesso no Brasil é da gestora Dynamo.
Quando realizamos o mesmo teste, os melhores retornos da Dynamo superam, e muito, os do Ibovespa.
Diversificar é preciso
Outra maneira para mitigar os riscos é a diversificação da carteira.
Sabemos que maiores retornos, teoricamente, requerem investimentos em ativos mais arriscados.
Portanto, é muito importante que cada investidor conheça seu apetite para tomada de risco. Se você não sabe o seu, vá experimentando aos poucos.
O gráfico abaixo representa a relação de risco e retorno entre os investimentos mais conservadores e os mais arrojados.
A ideia é misturar um pouco de cada classe, dando mais peso ao que você considera mais adequado para o seu apetite.
Não existe um número mágico, nem um peso certo para cada classe de ativo.
O importante aqui é ter paciência e esperar que a diversificação e o tempo façam a sua parte.
Lembrando que, se quiser melhorar seu retorno no longo prazo, acostume-se com o risco.
Ele não é seu inimigo.