- As ações da Vale (BVMF:VALE3) acumulam queda no ano.
- Linhas de negócio mais importantes devem continuar altamente rentáveis.
- Empresa está retornando capital aos acionistas, apesar do clima macro nebuloso.
- A ação é uma aposta de baixo risco.
A Vale (NYSE:VALE) acumula uma queda de 27% desde a máxima de US$ 21 em abril, com o mercado precificando uma deterioração do cenário macroeconômico. Em vista da elevada ciclicidade dos seus principais produtos metálicos, como minério de ferro e ferroligas, isso é de certa forma compreensível.
Entretanto, a Vale está bem preparada para enfrentar a próxima tempestade
Sua posição financeira é sólida e sua rentabilidade teria que cair pela metade para colocar em perigo seu retorno de 8,8% com dividendos.
A apenas 3,9x o lucro por ação no longo prazo, com certeza vale a pena ficar de olho na ação.
Fonte: InvestingPro
Com sede no Brasil, a Vale é a quinta maior mineradora do mundo por receita. Ela faz a exploração, mineração e comercialização de matérias-primas no mercado local e internacional, com foco em minerais ferrosos, que respondem por 90% das vendas. Os 10% restantes são compostos por metais comuns (como níquel) e metais preciosos (como ouro).
A Vale está exposta a um risco político bastante alto no Brasil, e o governo detém uma participação minoritária na empresa, de menos de 5%, a qual vem sendo reduzida de forma ativa.
A última eleição no Brasil, evidentemente, foi objeto de muito debate. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu o atual mandatário Jair Bolsonaro por uma pequena vantagem de 50,9% a 49,1% no último pleito e deve conduzir o maior país da América Latina a partir de 1 de janeiro. Durante a campanha, houve rumores de que Lula aumentaria os royalties sobre determinados projetos de mineração, conhecidos como “participação especial”. Uma proposta similar foi sugerida durante os governos esquerdistas de 2011-2016, mas foram descartados após a reação da indústria.
De forma geral, os mercados financeiros encararam bem os sinais de paz social, estabilidade política e políticas de incentivo ao investimento e ao crescimento. Analistas esperam que Lula exerça um governo mais centrista, o que teria pouco impacto sobre a Vale. O primeiro indicador das verdadeiras intenções de Lula será a sua escolha para o Ministério da Fazenda, que deve ser anunciado no início de janeiro.
Finanças e perspectiva de recessão
Assim como ocorreu com vários concorrentes, a rápida expansão da Vale no ano fiscal de 2021 foi vista como insustentável. No 3º tri de 2022, a Vale registrou um recuo de 19% ano a ano (a/a) na receita, para US$ 9,92 bilhões, e um Ebitda de US$ 3,66 bilhões, bem abaixo dos US$ 5,25 bilhões no 2º tri de 2022. As margens Ebitda caíram de 47% para 37%.
O mercado não reagiu bem, mas os resultados representam simplesmente uma reversão para os níveis pré-pandemia da Vale. Não é uma surpresa que as métricas operacionais da companhia devam se enfraquecer no ano fiscal de 2023, em linha com a deterioração do pano de fundo macro.
A posição financeira da companhia continua sólida, o que deve proteger a distribuição de dividendos, desde que o declínio não seja muito severo ou prolongado.
Em termos de dívida líquida, a previsão é que ela alcance a faixa de US$ 10 a 17 bilhões no fim do ano, sendo que a estimativa média é de US$ 13,3 bilhões. Com um lucro operacional no 3º tri de 2022 de US$ 5,15 bilhões, a dívida líquida equivale a um pouco mais de duas vezes o Ebit. Essa baixa alavancagem faz com que a Vale esteja bem posicionada para lidar com quaisquer desafios gerados por uma eventual recessão.
É importante ressaltar que não se trata de uma situação nova para a Vale. Nas recessões passadas, a mineradora manteve as margens Ebitda com boa estabilidade, o que é um sinal positivo para os investidores preocupados com a distribuição de dividendos. A rentabilidade da Vale está consistentemente acima da do setor. O lucro operacional anual ajustado (10 anos) para a ciclicidade é de cerca de US$ 13 bilhões, portanto a rentabilidade precisaria cair pela metade para colocar em risco o dividend yield de 9%.
A empresa também pretende continuar investindo. Seus compromissos de despesas de capital enfatizam a determinação de gerência com oportunidades de crescimento no longo prazo no segmento da transição energética.
Volatilidade da commodity e planos de produção
O ferro responde por mais da metade das receitas da Vale, que se beneficiou da forte valorização do metal nos últimos trimestres. No entanto, essa alta está começando a arrefecer, na medida em que a China dá sinais de que pode flexibilizar as restrições da sua política de Covid zero.
No curto e médio prazo, o enfraquecimento da economia global, aliado aos planos de investimento em mineração, que devem gerar um grande aumento de produção, pode acabar prejudicando bastante o preço do minério de ferro no mundo. Além disso, a atual crise energética aumenta o custo dos insumos e equipamentos de mineração.
Valuation
As ações da Vale se estabilizaram há pouco tempo acima do suporte de longo prazo de US$ 11,80, tocado pela última vez em novembro de 2021. Em razão da situação macroeconômica bastante distinta, é difícil conceber um cenário em que o preço da ação fique abaixo desse suporte.
Depois da correção pós-resultados, o preço repicou para US$ 15,13, mas acredito que o papel ainda tenha espaço para subir. A mineradora é negociada por um P/LPA de apenas 3,9x, em comparação com a média do setor de 9,2x. Seu EV/EBITDA está perto das mínimas da Covid, apesar da empresa ter se recuperado consideravelmente desde então.
A Vale está bem posicionada para enfrentar a próxima tempestade, caso esta venha a se materializar. Em vista da resiliência das margens de lucro durante as últimas recessões, é possível supor que o dividend yield será mantido.
Aviso: O autor não possui qualquer posição atualmente nas ações da Vale. Este artigo foi escrito unicamente para fins informativos. Ele não constitui uma solicitação, oferta, conselho, consultoria ou uma recomendação de investimento.