Hoje vou abordar um assunto que muitos investidores iniciantes acabam deixando de lado quando analisam uma empresa: sua gestão.
A gestão é capaz de determinar a excelência do desenvolvimento da companhia, bem como a criação de valor no longo prazo. É interessante, portanto, que seja constituída por um time honesto e com interesses alinhados com o desenvolvimento da empresa. Isto é, trabalham como se fossem os donos do negócio, empregando todos os esforços necessários para o crescimento e melhoria dos índices de rentabilidade.
Na prática, existem alguns quesitos que podem ser utilizados nesse tipo de avaliação, como: a política salarial da organização, o caráter da gestão e a performance operacional. Assim, buscando as informações pertinentes, podemos avaliar de forma ainda melhor um possível investimento, olhando para além dos números.
No que diz respeito à política salarial, podemos entender se há alinhamento de interesses entre os acionistas – donos da companhia – e os executivos responsáveis pelas tomadas de decisão dentro da empresa.
Neste sentido, devemos saber como funciona a remuneração do time de executivos. Geralmente, é mais interessante que sejam remunerados por bônus expressivos em vez de terem salários-base gigantescos.
A peculiaridade deste aspecto é a de que o bônus só é recebido em caso de cumprimento de metas, que são bons indicativos de desenvolvimento da companhia. Ao passo que um salário-base elevado, sem bônus, poderia fazer com que o executivo se acomodasse com relação aos objetivos.
Neste caso de metas, também é necessário avaliar se estas estão estipuladas de maneira correta. Pois não adianta haver meta se ela não constitui um desafio adequado para o desenvolvimento da companhia.
Uma alternativa ao pagamento de bônus é a remuneração com stock option, na qual os gestores recebem ações da empresa. Isso é interessante para o alinhamento de interesses, pois, se não houver geração de valor para os acionistas, haverá impacto na remuneração do executivo.
A política de remuneração já é um indicador do caráter da gestão do negócio. No entanto, apenas tal aspecto ainda não é suficiente para avaliar adequadamente o que desejamos.
Devemos saber, dentre outros pontos, se colaboradores usam-se de suas posições para fazer negócios com amigos ou parentes, se os membros do conselho estão lá por mérito, se a diretoria é branda com seus erros e se existe boa retenção de talentos, preservando o capital intelectual da empresa.
As cartas aos acionistas constituem um método interessante de avaliar como a diretoria trata os erros e acertos. Neste documento, às vezes é possível observar como é a transparência dos gestores para com os detentores de ações da empresa.
Também devem ser acompanhadas as promessas de soluções de problemas, ou se estes são apenas ignorados após saírem dos holofotes.
Por último, é de extrema importância observar como os diretores comandam o negócio, se a performance está adequada, se o negócio caminha em direção ao crescimento.
Para isso, alguns dos pontos a serem checados são as métricas de retorno como ROIC, ROE e ROA. Neste aspecto, é necessário avaliar se o crescimento nelas é sustentável e recorrente, ou se foi provocado por eventos pontuais.
Um número crescente de ações em circulação, por exemplo, pode ser um indicativo de que a direção vem diluindo os acionistas sem justificativa racional, buscando levantar capital para projetos não rentáveis.
Além disso, a gestão deve ser qualificada a ponto de ser flexível para se adaptar às mudanças exigidas pela dinâmica atual do mundo em que vivemos. Uma gestão engessada pode comprometer a evolução dos negócios da companhia.
Com a discussão desses pontos, espero que muitos investidores, sobretudo os que estão começando agora, passem a estar atentos a um aspecto que nem sempre é considerado nas análises de empresas.