O BC anunciou que realizará 4 tipos de operações cambiais diferentes nesta 2ª feira. No período da manhã venderá dólares à vista, venda de contratos de swaps cambiais reversos, vendas de swaps cambiais tradicionais e venda de linhas em dólares com recompra, estas como rolagem de idêntico montante vincendo em 2 de outubro, e os demais com teórico vínculo com o montante de swaps cambiais tradicionais vincendos neste mês, conforme previamente anunciado.
Fica a impressão primeira do “paciente” que vai ao médico e este sem obter um bom diagnóstico da um coquetel de medicamentos ao mesmo, esperando que algum resolva, que ao final não saberá qual foi eficaz.
Esta ação do BC no câmbio, que é um mercado complexo dado a inúmeros vetores de influência, transparece numa leitura imediata alguma insegurança por parte da autoridade monetária, e que para evitar critica por não ter feito, procura fazer de tudo ao mesmo tempo.
A autoridade monetária tem ampla visão do mercado e a expectativa é que realize, sempre que necessário, intervenções pontuais cirúrgicas, no cerne do problema, enfim ação objetiva e contundente.
O Brasil tem contextos novos como a queda acentuada de fluxo cambial positivo, algo como US$ 30,0 Bi menor na comparação com o mesmo período com 2018, e convive com um taxa de juro interna próxima da taxa de juro externa o que tem impactos, entre os quais inibe totalmente o fluxo de capitais especulativos forjados a partir de operações de “carry trade” para o país, afora reflexos no mercado de cupom cambial, riscos de disfuncionalidade, etc...
A atipicidade mais crítica no momento é a carência de fluxo cambial positivo, e isto então sugere que o BC realize oferta de dólares à vista, sacando-os das reservas cambiais, de forma a irrigar a liquidez do mercado à vista, seguindo com as rolagens costumeiras de linhas de financiamento em dólares e dos contratos de swaps cambiais tradicionais vincendos. Esta, a venda no mercado à vista, seria a ação pontual e única em princípio, não interferindo no mercado de derivativos (que afeta a formação do preço do dólar, mas não envolve moeda e sim liquidação em reais por diferença) com swaps cambiais reversos com a finalidade declarada compensatória da venda de dólares no mercado à vista.
No nosso entender ao interferir com os swaps cambiais reversos no mercado futuro de dólares acaba por inibir o efeito na formação do preço do ajuste da carência de fluxo cambial positivo no mercado à vista, portanto, dando sustentação à taxa cambial elevada visto que no Brasil a taxa cambial é formada no mercado futuro que contamina o à vista.
Antes do corte na taxa SELIC argumentamos que o BC precisaria de uma taxa cambial mais elevada para ter conforto na redução, contudo foi atropelado pelos hedge funds nacionais e estrangeiros que, especulativamente, detonaram vendas no mercado futuro, apostando que o FED cortaria o juro americano em 0,50% e isto fragilizaria o dólar, mas aconteceu de ter sido tão somente 0,25% e não ocorreu o impacto esperado no dólar.
No nosso entender, o BC precisaria como salientamos manter o seu comportamento de oferta de rolagens de linhas e swaps cambiais tradicionais vincendos, e suprir o mercado à vista com liquidez a partir das reservas, e somente com esta ação ajustando o desajuste no preço decorrente da queda do fluxo cambial positivo.
O Brasil tem reservas cambiais soberbas, o BC já vem dando mostras que não tem constrangimento para utilizá-las quando necessário, o país tem um CDS excelente de 117 pontos, então não há efetivamente risco cambial que sugira a estimativa de relevante desvalorização cambial prospectiva na formação do custo do cupom cambial e risco de disfuncionalidade.
É verdade que o preço mais elevado do dólar poderia beneficiar as exportações brasileiras neste momento conturbado do mercado global, mas a volatilidade é pouco contributiva para os negócios, pois gera insegurança e incerteza aos exportadores.
O mercado financeiro, via Boletim FOCUS, continua elevando a projeção do preço do dólar para o final do ano, agora em R$ 3,95, algo como R$ 0,20 acima das previsões iniciais do ano, e proximamente, se o BC não alterar a estratégia esta projeção será arredondada para R$ 4,00.
Por outro lado, as projeções para o juro se mantém em 5% com um viés para 4,5% muito presente no mercado, e inflação persistindo na tendência de queda, agora em 3,42/3,44% sem repercutir o preço do dólar mais elevado.
A China e os Estados Unidos começam a sinalizar que as expectativas em torno da reunião em outubro foram excessivas e que este embate ainda será longo e duradouro e de difícil equacionamento dos interesses em disputa.
Todas as economias estão afetadas por inúmeros fatores, grande parte decorrente do conflito USA e China, e estão procurando ajustar suas políticas monetárias, e o Brasil precisa acentuar o foco para não errar, até por que, como temos salientado os estrangeiros observam o país de forma mais positiva do que ocorre internamente.