Ibovespa, 110 mil pontos. Repetindo: Ibovespa, 110 mil pontos. Quem poderia imaginar o principal índice acionário da Bolsa brasileira reavendo essa marca simbólica em tempos de liquidez infinita dos bancos centrais? Imunes ao contágio descontrolado de coronavírus no país e esquivando-se do abismo fiscal que rodeia o governo, os investidores - estrangeiros, principalmente - mostram apetite pelo risco local.
O ingresso líquido de mais de R$ 26 bilhões em capital externo na renda variável nacional (mercado secundário) apenas neste mês até a última segunda-feira deu fôlego extra ao Ibovespa para se firmar no nível dos 100 mil pontos, voltando ao período pré-pandemia. E se os aportes continuarem nesse ritmo, a Bolsa brasileira pode até buscar o recorde histórico, visto em janeiro, colado à faixa dos 120 mil pontos, antes do fim do ano.
Hoje, o feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos reduz o ritmo dos mercados globais, drenando a liquidez dos negócios e distorcendo o desempenho dos ativos durante o pregão. Esse comportamento errático tende a continuar amanhã, quando o varejo norte-americano realiza a Black Friday, com promoções inaugurando a temporada de compras de fim de ano. A data também é celebrada aqui no Brasil.
Mas os investidores que ainda procuram grandes descontos entre as ações brasileiras podem ter dificuldades em encontrar preços atraentes. O Ibovespa já praticamente zerou as perdas acumuladas no ano, reduzindo o prejuízo para cerca de 5% no período, sendo que muitos papéis são negociados com múltiplos elevados. Ainda mais, levando-se em conta as incertezas na cena política, que simplesmente não encaminhar decisões econômicas.
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Paulo Guedes e Roberto Campos Neto discutiram a relação ontem, após o presidente do Banco Central afirmar que o Brasil precisa de “um plano que dê clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida” para reconquistar credibilidade e assegurar a sustentabilidade das contas públicas. A declaração mexeu com o brio do ministro da Economia que, visivelmente irritado, disse:
“Se ele tiver um plano melhor, peça a ele qual é o plano dele. Pergunte a ele qual é o plano dele que vai recuperar a credibilidade. Porque o plano nós sabemos qual é. O plano nós já temos”, afirmou Guedes. Alegando ser alvo de críticas injustas, mas que “nos fortalecem”, ele citou as reformas em andamento, como o pacto federativo, a PEC Emergencial e a reforma administrativa. O ministro ainda festejou as altas do mercado “todos os dias”.
E passou a bola para o Congresso. De fato, o governo tenta articular a aprovação da PEC Emergencial ainda este ano, abrindo um “puxadinho” nas contas públicas para contemplar um novo programa de transferência de renda. Na pauta de discussão, está a redução de gastos com o funcionalismo, a desindexação de benefícios a partir de um salário mínimo e a revisão de subsídios. O esforço é para votar a proposta antes do recesso parlamentar.
A regra do “teto de gastos” pode cair, caso o governo decida prorrogar o auxílio emergencial aos mais vulneráveis à pandemia e/ou criar um programa social sem apresentar compensações. Ainda que a pressão por definições aumente e que presidente Jair Bolsonaro reforce o discurso de que só haverá extensão do benefício se houver segunda onda da covid-19, o tema deixa os investidores nervosos, tal qual a equipe econômica.
Exterior em pausa
Enquanto isso, os mercados internacionais fazem uma pausa para recompor o fôlego. O clima de cautela que prevaleceu em Wall Street ontem conteve o ímpeto dos negócios na Ásia, embora os investidores estejam convencidos de que a recuperação econômica mais forte virá dessa região, conduzida pela China, ainda mais se a pandemia persistir. Em uma sessão sem brilho, Xangai e Tóquio tiveram altas modestas. Dólar e petróleo estão de lado.
A euforia recente com o progresso de vacinas eficazes contra a covid-19 cedeu espaço à perspectiva de que a fase ruim da economia no Ocidente vai demorar a passar, deixando indefinida a abertura do pregão europeu. Os casos e mortes da doença continuam aumentando no mundo, atingindo mais de 60 de milhões e de 1,4 milhão de pessoas, cumulativamente, o que eleva a preocupação com as comemorações do feriado nos EUA.
Vários estados norte-americanos proibiram o atendimento ao público em bares e restaurantes, aceitando somente pedidos para entrega ou retirada no local, e pediram que as pessoas evitassem viajar. A recomendação para o uso de máscara de proteção facial também vem sendo reforçada. Mas enquanto muitos ainda resistem em enfrentar as leis dos homens, sabe-se que o ser humano não pode resistir às leis naturais.
Agenda local em foco
O feriado pelo Dia de Ação de Graças esvazia a agenda dos EUA e mantém as bolsas de Nova York fechadas. Por aqui, saem a confiança no comércio em novembro (8h), a inflação ao produtor (IPP) em outubro (9h), e os dados das contas públicas (governo central) e sobre o emprego formal (Caged), ambos referentes ao mês passado.
No exterior, destaque apenas para a ata da última reunião do Banco Central Europeu (BCE), realizada no fim de outubro, quando a autoridade monetária da zona do euro deixou a porta aberta para estímulos adicionais no encontro seguinte, em dezembro. O documento será publicada às 9h30.