O paradoxo de Ellsberg
Imagine duas urnas em sua frente. Elas possuem uma abertura no topo, mas você não é capaz de enxergar dentro delas. A urna A contém exatamente 50 bolas vermelhas e 50 bolas pretas. A urna B também contém 100 bolas, que podem ser pretas ou vermelhas, mas você não sabe a quantidade de cada.
Você ganhará 100 reais se conseguir retirar uma bola vermelha de qualquer uma das urnas, de qual delas você escolhe?
Se você é como a maioria das pessoas, você prefere a urna A.
Agora, vamos repetir o jogo mudando as regras. Desta vez, você vai ganhar 100 reais se retirar uma bola preta de uma das urnas, qual urna escolheria agora?
A maioria das pessoas continua escolhendo a urna A. O que não tem absolutamente nenhuma lógica!
Se você escolheu a urna A na primeira vez, você obviamente assumiu que ela tem mais bolas vermelhas que a urna B, como você sabe que a urna A possui 50 bolas vermelhas, está implícito na sua primeira escolha que você acredita que a urna B possui menos que 50 bolas vermelhas e, consequentemente, mais de 50 bolas pretas, logo, você deveria escolher a urna B para a segunda rodada.
Tal experimento ficou conhecido como o paradoxo de Ellsberg.
Mas por que as pessoas normalmente preferem a urna A nos dois rounds?
Porque a urna A pertence à categoria de “coisas que sabemos que sabemos” enquanto a urna B pertence à categoria de “coisas que sabemos que não sabemos”. Obs: apenas por título de curiosidade, ainda existe a categoria de “coisas que não sabemos que não sabemos”.
A urna A de Ellsberg é uma coisa que sabemos que sabemos: temos certeza de que existem 50 bolas de cada cor nela. Já na urna B, apenas sabemos que não sabemos: apesar de ter certeza que existem bolas pretas e vermelhas, não temos nenhuma ideia sobre a proporção.
A urna B possui o que Ellsberg denominou como “ambiguidade”, e isso nos assusta. Apesar de que podem existir 99 bolas pretas nela, o que praticamente garantiria os 100 reais no seu bolso, quanto menos sabemos sobre as possibilidades, mais nos preocupamos com as consequências, por isso tendemos a evitar a urna B e ignorar a lógica.
Eleve o potencial de valorização da sua carteira
O paradoxo de Ellsberg apresenta a mesma tensão entre pensar e sentir que existe nas tomadas de decisões sobre nossos investimentos. Quando o nível de incerteza é maior, o medo consuma tomar conta, pois sentimos que não estamos no controle.
Empresas estabelecidas, amplamente cobertas e negociadas pelo mercado, consideradas confiáveis e com resultados mais previsíveis costumam ser negociadas com um prêmio por conta de sua elevada estabilidade e visibilidade.
Quanto maior a concordância entre as projeções dos analistas sobre os resultados dos próximos anos de uma empresa, mais os investidores estarão dispostos a pagar por aquela ação.
A incerteza sobre lucros futuros tende a fazer com que os investidores tenham receio de investir em empresas com elevado potencial de crescimento. A elevada “ambiguidade”, como diria Ellsberg, faz com que as probabilidades de sucesso sejam difíceis de estimar, e a insegurança aumenta.
Já escolher ações de empresas com resultados mais previsíveis simplesmente nos faz sentir mais seguros, por isso as empresas “premium” são adoradas pelos investidores.
Acontece que, no longo prazo, o maior potencial de valorização tende a vir das empresas com maior potencial de crescimento (e maior incerteza). Evitando as ações de crescimento, você pode estar comprometendo significativamente a sua capacidade de obter elevados retornos na bolsa.
Com a adequada diversificação e enxergando as ações de crescimento da maneira que elas precisam ser enxergadas, é possível reduzir consideravelmente o risco da carteira, sem precisar abrir mão do potencial de valorização na mesma proporção.
Um abraço.