Esse slogan título é de uma verdade singular.
Em contraposição a ele lembrou de uma frase muito conhecida, cunhada por Otto Lara Resende, pai do brilhante economista André Lara Resende, que dizia que mineiro só é solidário no câncer. Certa feita, falei uma corruptela dessa frase dizendo que o mercado financeiro não é solidário nem mesmo no câncer.
Aparentemente a frase de Otto Lara está bastante atual para o Brasil da pandemia do covid-19. A sensação que fica é de total descoordenação nas falas de formadores de opinião, grande quantidade de fake news nas redes sociais, governo desconectado com outros entes da Federação e medidas adotadas que demoram ou não chegam a quem precisa, enquanto o Brasil vai chegando devagar na pole position de contaminações e mortes. Segundo o noticiário, já temos direito ao dramático pódio, conquistando o desonroso terceiro lugar.
Só para fazer um contraponto a tudo isso, nenhum (podemos pecar por generalizar) país usou o covid-19 como plataforma política. Ao contrário, o que temos visto de sobra é a união ao redor de uma crise social que vai mudar as relações entre pessoas, empresas e o Estado; e voz quase uníssona das autoridades em produzir medidas para mitigar os impactos econômicos e sociais.
Querem alguns exemplos? Vamos lá:
1. Na zona do euro, acaba de ser criado um fundo de 500 bilhões de euros para combate ao vírus, com a finalidade de fortalecer a saída da região da crise, e com a Comissão Europeia gerindo quando e onde investir. Tudo isso depois de todos os esforços individuais feitos pelos diferentes países que compõem o grupo, dos esforços feitos pelo Banco Central da região (BCE – BC europeu) e outros organismos multilaterais, como o FMI e Banco Mundial;
2. Quase que simultaneamente, a União Europeia conclama seus filiados a constituírem outro fundo nos mesmos moldes do citado, que poderia ser de 200 bilhões de euros;
3. Nos EUA, mesmo com a dicotomia partidária entre Democratas e Republicanos, e justamente em época eleitoral, a Câmara acaba de aprovar um pacote fiscal (a presidente Nancy Pelosi é de oposição) de nada menos que US$ 3 trilhões. Convém lembrar que o presidente Donald Trump não tem maioria nessa casa do Legislativo.
Poderíamos citar outros exemplos, mas preferimos ficar com os exemplos das maiores nações do planeta, sem falar do Japão que também mostra integração, e da China com sua economia fechada e politburo forte.
Aqui, para começo de conversa, os três poderes não conseguem minimamente algum entendimento. O presidente briga com os poderes, esses literalmente colocam barreiras ao bom funcionamento. De forma isolada o presidente tem seu protocolo próprio sobre como tratar o covid-19, diferente de vários importantes governadores de estados e no auge da pandemia já demitiu dois ministros da Saúde. O presidente diz que vai vetar aumento de servidores públicos até dezembro de 2012, demora em fazer isso e os Estados aproveitam para conceder tais aumentos.
Com tal clima, as aprovações de medidas demoram no Legislativo e dão margem a criatividade dos parlamentares e sugerir impostos no auge da crise, coisa que nenhum outro país sequer questionou a possibilidade (limite de juros e aumento da CSLL).
Já as medidas adotadas demoram a chegar em quem realmente precisa, e a inadimplência, demissões e quebras vão se sucedendo. Nem quero falar de nossas contas públicas que ao final da crise estarão terríveis, com o déficit primário provavelmente superando R$ 700 bilhões, dívida bruta rondando 90% do PIB, taxa de desemprego acima de 15%, etc.
O pior de tudo é que, o passado nos condena com a aproximação do presidente do centrão e projetos que seguirão gastando o que não temos. Além disso, os gastos agora assumidos que são emergenciais, podem se tornar permanentes. Nesse emaranhado, o ministro Paulo Guedes tenta se ajeitar e vender otimismo, dizendo que o Brasil vai surpreender e fazer recuperação em “V”, quando até nos EUA e Alemanha essa hipótese já começa a cair.
Isso nos faz lembrar outro dito popular que “em casa onde falta o pão, todos berram e ninguém tem razão”.