Foi Nelson Rodrigues quem falou que “a unanimidade é burra”. Mas os 9 votos a favor da manutenção da taxa Selic em 10,50% ontem - e nenhum contra - devem trazer alívio ao mercado doméstico hoje.
Em outras palavras, o dólar deve se afastar da faixa de R$ 5,45 e os juros futuros devem devolver prêmios ao longo de toda a curva, abrindo espaço para o Ibovespa andar na casa dos 120 mil pontos, recuperada ontem. No caso, tanto faz o sinal positivo vindo do exterior nesta manhã.
Isso porque mais do que a decisão em si, foi o placar unânime do Copom que chamou a atenção. A goleada na votação interrompeu o ciclo de cortes no juro básico, iniciado em agosto, e fechou as portas para novas quedas à frente.
Ou seja, o alívio monetário aqui começou pouco depois de o Federal Reserve parar de subir a taxa de juros nos Estados Unidos e terminou ainda antes do início do ciclo de queda por lá. Com isso, o Brasil segue no top 5 entre os maiores pagadores de juros reais do mundo.
Goleada ou empate técnico?
O chamado diferencial de juros, que se refere à diferença de taxa nominal mais a inflação projetada praticada aqui em relação a outras economias, deve voltar a ficar atrativo, atraindo fluxo de recursos estrangeiros em direção ao país. Ao menos na teoria.
Na prática, os ruídos políticos e o risco fiscal ainda devem incomodar os investidores, demandando mais prêmio de risco e inibindo o apetite pelos ativos locais. Assim, somente quando o Fed começar a cortar os juros - provavelmente no segundo semestre e, quiçá, no próximo trimestre - é que deve haver uma melhora de fato nos mercados globais.
Até lá, a volatilidade reina absoluta - ainda que em menor intensidade. Afinal, como afirmou o economista André Perfeito, a unanimidade mais pareceu um “empate técnico” - para usar o senso comum.