Por Rebeca Nevares, sócia da Monte Bravo Investimentos
É consenso que o mundo inteiro passa por uma transformação digital causada pela pandemia do novo Coronavírus. No Brasil talvez este processo levasse dez anos para ser concluído, mas ao que tudo indica, levará bem menos tempo. Porém, o que nem todos estão enxergando é uma mudança importante no comportamento dos brasileiros em relação ao dinheiro. Mais pessoas estão investindo e isso me faz ter muita esperança no futuro.
O motivo para isso precisa ser explicado, pois existem diversos fatores que influenciam este movimento. Em um cenário de juros baixos a tendência é que os investidores da renda fixa busquem formas mais rentáveis de diversificação e um caminho natural é a bolsa de valores.
De acordo com a B3 houve um crescimento expressivo na base de investidores pessoa física no mercado de equities, que compreende ações, BDR’s, ETF’s, FIIs e índices. Eram 700 mil em 2019 e hoje já somam mais de 1 milhão.
E um ponto interessante da pesquisa diz respeito ao gênero e a idade das pessoas. Em 2019 o número de mulheres que investem na bolsa dobrou, chegando a 23% do total. Além disso, uma parte significativa dessas novas e novos investidores têm entre 25 e 39 anos de idade, ou seja, são muito jovens.
E mesmo em tempos de pandemia, o número não parou de crescer. Se olharmos para março, mês histórico que acumulou a marca de seis circuit-breakers, tivemos a entrada de 300 mil novos CPFs segundo a instituição.
No entanto, ainda estamos longe de um cenário ideal. Se pararmos para olhar outros mercados, como o norte-americano, que tem uma das estruturas mais sólidas do mundo, podemos ter ideia do caminho que ainda precisamos percorrer.
Cerca de 60% da população norte-americana investe na bolsa de valores de Nova York (NYSE) e isso é algo bastante disseminado entre eles. Quando o povo de um país tem uma cultura de investimentos e poupança (no sentido de guardar dinheiro), a tendência é que as condições de vida melhorem, assim como a economia.
O mercado de ações é uma ferramenta utilizada para que as empresas possam captar dinheiro de forma mais barata. Quando isto ocorre e os negócios começam a prosperar, não são apenas os acionistas que se beneficiam, mas a população como um todo.
Todas as companhias que fazem o seu IPO precisam seguir regras rígidas de governança corporativa e responsabilidade. Esses negócios movimentam a economia de forma significativa e são capazes de criar empregos em massa gerando um efeito dominó positivo levando mais renda para todos. Claro que isso por si só não explica toda a cadeia produtiva de um país, mas ajuda a compreender a importância do investimento em bolsa.
Apesar do mito que o mercado acionário é algo reservado somente aos mais ricos, a verdade é que o universo dos investimentos é extremamente democrático e acessível. Ele só não era muito disseminado por aqui. Felizmente, este cenário começou a mudar.