Depois de passar pela então pior semana do ano, com queda de 7,28%, colocar um "apenas" parece uma tentativa forçada de amenizar os fatos. Não é.
Depois da semana iniciar com o crescimento do PIB chinês mais fraco que as estimativas, o que afetou as commodities, e naturalmente a nossa bolsa, o Brasil assumiu as rédeas do noticiário negativo dando o tom da semana.
É sabido e amplamente discutido o receio com a situação fiscal brasileira. Dessa forma, todo e qualquer movimento que coloque em risco nosso equilíbrio prejudica muito o humor dos mercados.
A ampliação do bolsa família e as manobras para contornar o teto de gastos foram naturalmente muito mal vistas pelos investidores. Adicionalmente, e para reforçar o temor, alguns membros da equipe econômica pediram exoneração dos seus cargos. A sexta-feira iniciou com boatos da saída do ministro Paulo Guedes e finalizou com o mesmo reafirmando que fica no cargo.
Essa última sinalização ajudou a bolsa a sair das mínimas do dia e fechar com uma queda menos pesada. Como resultado de toda essa loucura, além da bolsa cair, vimos o dólar e os juros futuros dispararem. Na semana que está entrando teremos reunião do Copom e já há um direcionamento das apostas para uma elevação da Selic em 1,25 p.p., ao invés do 1 p.p. até então consensuais. Quase esqueci de mencionar, mas a inflação segue bastante elevada (daí a possibilidade de uma alta mais forte dos juros) e vemos alguns movimentos de caminhoneiros iniciando greves (o que pode prejudicar a oferta de alguns produtos).
Além disso, a China Evergrande Group (OTC:EGRNY) continua com seu risco de calote iminente.
Tudo de errado acontecendo ao mesmo tempo? Em parte, porque algum evento inesperado pode surgir. E eles surgem o tempo todo.
Feita a recapitulação, vamos olhar para frente.
Aqui, além da reunião do Copom, teremos o IPCA-15 (espécie de prévia para o índice oficial) e a taxa de desemprego. Agora, no exterior, teremos algumas coisas importantes. Na Europa há a decisão de juros do Banco Central Europeu. Apesar de não ser tão comentado, a Europa também enfrenta índices de inflação altos e há uma grande expectativa sobre o rumo dos estímulos no continente.
Nos EUA seguem as divulgações dos balanços trimestrais, que de um modo geral têm surpreendido positivamente.
Falando em balanços, após os resultados da Hypera (SA:HYPE3) na última sexta-feira, a semana que inicia vem com alguns pesos pesados no Brasil. Entre os destaques temos: Gerdau (SA:GGBR4), Lojas Renner (SA:LREN3) e Weg (SA:WEGE3), na quarta-feira; Suzano (SA:SUZB3), Petrobras (SA:PETR4) e Vale (SA:VALE3), na quinta; e Usiminas (SA:USIM5) na sexta. Ou seja, se a nossa bolsa é reconhecida pelas commodities, essa semana é um prato cheio para os interessados.
Olhando o que passou e pensando no que pode vir, o que devemos fazer com os nossos investimentos?
Não só nessa última semana, mas ao longo também das anteriores, nos questionamos se hora de vender ou de comprar mais bolsa. Se já estava na mínima ou se havia espaço para mais queda. Se a bolsa de fato está barata ou os resultados podem piorar, lembrando que nada está tão barato que não possa ficar ainda mais.
Nesses momentos é natural ocorrer uma certa angústia ou ansiedade por não termos a resposta e, ao mesmo tempo, estarmos cercados por “especialistas” que aparentemente sabem tudo.
A grande verdade é que ninguém sabe. Quem afirma ter certeza de qual será o próximo movimento nas bolsas ou em outros ativos está em basicamente uma de duas situações. Ou é uma pessoa mal intencionada, que tem consciência que não sabe o futuro, mas percebe que os demais procuram respostas e aproveita o momento para se vender como especialista.
Ou é uma pessoa que é ignorante no assunto, mas não tem consciência disso. Por não reconhecer que sabe pouco, acredita tem um conhecimento acima da média. É o tal efeito Dunning-Kruger, mas isso é assunto para outro momento.
O ponto que eu quero chegar é que não é problema não ter a resposta para tudo. Se tivermos consciência de que não sabemos, melhor ainda. Por quê?
Ao reconhecer que ninguém tem a resposta perfeita para tudo, que o aprendizado é constante e infinito, fica mais fácil procurarmos processos mais simples. Ao buscarmos soluções menos rebuscadas, nosso processo de investimento tende a ser otimizado.
Por exemplo: é esperado que a temporada de balanços do terceiro trimestre seja muito boa. Se já há uma discussão sobre a bolsa estar barata, por que não aproveitarmos esse momento para reforçarmos posições em renda variável? “Mas Carlos, pode cair mais!” Pode, mas se já parece barato, está bom.
Devo investir mais em renda variável? Depende. Se a sua carteira já possui um percentual muito alto nessa classe, então a resposta é não. “Mas você não acabou de dizer que a bolsa está barata?” Eu acredito que esteja, mas se você já possui o suficiente em renda variável, não há necessidade de comprar mais. Simplifique.
Eu vejo a renda variável como um investimento de longo prazo. Dessa forma, sempre ocorrerão novas oportunidades. Quedas como as que temos visto nas últimas semanas acontecem pelo menos uma vez por ano. Então se “deixarmos a oportunidade passar” agora, tudo bem. Daqui a pouco surge outra crise.
Aconteceu tudo de pior ao mesmo tempo? Sim, mas essa de fato não foi a pior semana e não será a última. Se posso sugerir algo, tenha calma e foque na estratégia. Daqui à pouco o tempo limpa de novo.
Um abraço.