O Objetivo desse artigo é trazer à tona alguma das correlações que os gráficos nos apresentam entre o a paridade "dólar x real" e o Bovespa; no final, ainda apresentaremos algumas outras correlações.
Mas o objetivo central é esse.
Como o nosso índice, o Bovespa, se comportou nos últimos anos frente ao dólar.
É dentro desse pensamento que é preciso contextualizar dólar e Bovespa, assim como outras variáveis.
O Brasil até 1999 mantinha uma política cambial rígida, isto é, o governo atuava sobre a dinâmica de valorização do dólar ou desvalorização da moeda brasileira.
Na prática, o governo controlava o dólar; não tínhamos, como hoje, um "câmbio livre".
No máximo, com alguma simpatia, podíamos dizer que tínhamos um "câmbio sujo", ou uma flutação aqui, outra ali.
Mini ou Maxi desvalorizações da moeda brasileira frente ao dólar eram medianamente comuns, ao sabor das inúmeras instabilidades econômicas que emergiam do ambiente interno ou externo.
Pra piorar, até 1994, com o Plano Real, tínhamos um ambiente econômico ínterno absolutamente caótico, com moratória externa como a de 1987, ou uma hiperinflação, que escondia, mascarava ou confundia qualquer dado ou variável macroeconômica.
O Plano Real, em 1994, começa a diminuir várias dessas aberrações ao estabilizar a moeda e, por conseguinte, a Economia Brasileira.
No entanto, uma das principais âncoras, se não a principal, do Plano Real era o câmbio; portanto, mesmo com importantes e determinantes mudanças econômicas, o câmbio continuou sendo "controlado" pelo governo ao longo do primeiro momento do Plano Real.
Pode-se discutir que também, em alguns momentos, deixava-se o câmbio flutuar em "bandas estreitas"; porém, a essência era de um "câmbio fixo"
Essa "política controlada do câmbio" começa a mudar em 1999.
Na verdade, havia logo no início do Plano Real uma pressão enorme para que "se deixasse" o câmbio andar.
Mas como disse, "segurar" o câmbio era um dos pilares do Plano Real numa economia outrora fortemente indexada a moeda americana.
A pressão vinha do lado interno e do lado externo por conta de pelo menos 3 momentos críticos pelos quais o Brasil passa; a saber, a Crise do México em 1994, a Crise da Ásia em 1997 e a moratória da Rússia em 1998.
Em todos esses momentos, as moedas dos países emergentes foram atacadas; o Real Brasileiro não foi diferente.
No início de 1999, não deu mais pra segurar.
O default da Rússia meses antes, associado a não aprovação da tributação dos aposentados no Congresso Nacional no final de 1998, e um confuso e desastrado anúncio da moratória da dívida do Estado de Minas Gerais logo no início de 1999, foram o estopim para uma retirada maciça de dólares do país que jogou as Reservas Internacionais para um nível perigosíssimo.
Fernando Henrique Cardoso, o Presidente do Brasil àquela época, tenta mudar o quadro substituindo o Presidente do Banco Central, Gustavo Franco, e chamando o economista Chico Lopes.
Chico Lopes tenta "flutuar" o câmbio ao estabelecer uma "banda diagonal endógena", que, na prática, representava, nada mais, nada menos, do que uma "banda mais larga" para a "flutuação".
Simplesmente o mercado não entendeu nada dessa "banda diagonal endógena" e operou, de imediato "no teto da banda" durante os poucos dias em que ela sobreviveu.
Fernando Henrique não hesita em trocar rapidamente o comando do Banco Central, e coloca o economista, também formado pela PUC-RJ, na Presidência do Banco.
A partir dai, o câmbio é "deixado livre".
Ou seja, é a partir de Armínio Fraga, em 1999, que efetivamente o Brasil passa a adotar uma política cambial de "câmbio flutuante".
É dentro desse contexto que é preciso cuidado em analisar plataformas gráficas que apresentam a variável dólar antes de 1999; muitas delas nem apresentam.
Antes de 1994, diante do grave quadro de inflação e desarranjo econômico pelo qual passa o Brasil, obter plataformas gráficas do dólar que "descontem" efeitos inflacionários e planos econômicos com cortes de "zero", torna-se praticamente improdutivo.
O que veremos abaixo é praticamente um quadro do momento "mais arrumado" da Economia Brasileira, isto é, do Plano Real, em 1994, até aqui, com uma moeda "medianamente" estabilizada.
E o que vemos, principalmente a partir de 1999, quando temos essencialmente um "câmbio flutuante", é uma gritante simetria entre o dólar e o Bovespa.
Comecemos pelo gráfico que apresenta o período mais longo, desde 1994, com alguns momentos destacados.
Aqui, já é possível identificar a simetria a partir de 1999, com mais ênfase a partir de 2003.
Periodo 1994-2014 (Bovespa na metade superior e "Dólar x Real" na metade inferior")
Vamos andar e continuar a ver a simetria
Período 2003-2014 ("dólar x real" em preto, Bovespa em vermelho)
Período 2009-2014 ("dólar x real" em verde, Bovespa em azul)
Período 2009-2014 ("dólar x real" em preto, Bovespa em azul)
A dinâmica do Bovespa vai exatamente na direção contrária do "dólar x real", principalmente, vista de 2003 pra cá.
A simetria é tão perfeita, que podemos especular que os próprios algoritmos passam a se "auto-alimentar" do instante "t menos 1" pra reproduzirem a mesma simetria no "instante t".
E o que estaria "dentro" dessa dinâmica ?
Por isso, separei 4 setores do Bovespa que podem nos dar uma "luz"
Como estariam os 4 setores ou como têm reagido ao longo desse período ?
O que fica claro é que, nos momentos mais agudos, a simetria permanece, ou seja, nas altas ou quedas mais agudas do "dólar x bovespa", todos os 4 setores vão na direção contrária.
Dos 5 papéis que apresentaremos em seguida, o que parece seguir a simetria do Bovespa é a VALE5.
Aqui cabe o questionamento.
Ora, se o dólar sobe e a VALE é uma empresa fortemente exportadora, a simetria não deveria ser tão forte.
Pois é............coisas de renda variável, coisas do mercado de ações......
VALE tem peso forte no Bovespa.......talvez seja isso....
"Dólar x real" em preto e VALE5 em azul
A Simetria para a Siderúrgica Nacional e Usiminas, que são beneficiadas, ainda que indiretamente, pela alta do dólar, não parece ser tão aguda.....
Questões fundamentalistas ou justamente por elas não terem um peso tão forte no Bovespa podem explicar.
"Dólar x real" em preto e CSNA3 em marron
"Dólar x real" em preto e USIM5 em vermelho
E o que falaremos dos Bancos ?
A simetria também não é gritante......
E aqui ,ainda temos uma divergência alta no período 1999-2003.
Mesmo com o dólar subindo forte, dada a liberação a partir de 1999, BBDC4 (Bradesco PN) sobe.
Não podemos esquecer que, naquele momento, as taxas de juros foram jogadas na estratosfera. Talvez isso explique....
BBDC4, Período 1999-2013 (BBDC4 em azul e "dólar x real" em preto")
Terminamos com um papel do setor de Varejo. PCAR4
Esse é o mais intrigante.......
Simetria praticamente inexiste.
Papel em alta forte , mesmo com a alta e reversão do dólar no período 2011-2013.
Porém, já vemos uma cunha rompida.
Outros papéis do setor de varejo têm sofrido muito mais nos últimos 6 meses, a despeito da alta forte nos últimos 2 anos
Coloquei o papel PCAR4 (Pão de Açucar PN ), pois se trata de um papel com um Longo histórico
Fica a reflexão.
A Simetria do dólar com o Bovespa é gritante.
A alta do dólar prejudica várias empresas, mas ameniza outras.
Alguns ajustes precisam ser feitos.
Alguns desses já foram feitos no curto prazo.
CSNA3 e USIM5, assim como GGBR4, subiram muito nos últimos 6 meses, varejo "parou de subir" depois de altas insanas, e VALE5 recuperou alguma coisa.
Por outro lado , a simetria está lá........
Os ajustes são feitos no curto prazo......
No longo prazo, a simetria continuará lá....