No meio daquele mar de ternos e gravatas, parei por um instante e me perguntei “por que, afinal, estamos todos aqui?”.
A Consensus 2018, organizada pela empresa de mídia CoinDesk, atraiu 8,5 mil participantes (sem contar o enorme contingente de seguranças, garçons, staffs etc), que pagaram até US$ 3 mil dólares por um ingresso para assistir aquela que é considerada a maior conferência do mundo sobre alguma coisa que eu ainda estou tentando entender.
A conferência, que ocorreu de 14 a 16 de maio, em Nova York, era o principal evento de um conjunto de mais de uma dezena de encontros que aconteceu na Big Apple de 10 a 18 de maio.
A Consensus ofereceu palestras, roundtables e workshops. Além disso, mais de 200 estandes de empresas ocuparam o segundo andar do hotel Hilton Midtown, em Manhattan, em uma verdadeira feira livre de sonhos quase impossíveis.
Quando me perguntei o que unia a todos nós durante aqueles dias, o Bitcoin foi a resposta óbvia que surgiu em minha cabeça. Mas, curiosamente, das 120 palestras da Consensus 2018, apenas 8 palestras, direta ou indiretamente, trataram sobre o tema que, na minha visão, unia aquela gente toda: o Bitcoin.
Ao invés de debates sobre o principal e único Blockchain que realmente funciona, que é o do Bitcoin, eu tive que assistir grandes empresas do mundo tradicional corporativo cuspirem suas soluções pseudo-ultra-revolucionárias cheias de jargões da moda com aspirações para acabar com a miséria mundial.
A Consensus foi um grande bla-bla-bla. Os palestrantes falavam o que os executivos de cabelo bem cortado na plateia queriam ouvir, mas ninguém apareceu com um sistema operante realmente descentralizado, resistente à censura, que opera sem a necessidade de um mentor, criador, figura pública, empresa, consórcio ou seja lá o que for.
Até hoje, passados quase 10 anos da publicação do artigo técnico do Satoshi Nakamoto, apenas o Bitcoin conseguiu isso. O resto tenta, tenta, tenta e diz que consegue, mas no fundo está longe disso.
O ponto alto do evento foi um debate entre Jimmy Song, um desenvolvedor do Bitcoin, e Joe Lubin, fundador do Ethereum e da empresa Consensys. Song não teve papas na língua e deu um verdadeiro chacoalhão na plateia ao dizer que o Blockchain “não é essa pó mágico que você pode jogar em cima de alguma coisa e resolver um problema”.
Não resisti e aplaudi com fervor. Finalmente, alguém dizia o que aquela gente precisava ouvir.
De certa forma, a CoinDesk sabe que para se tornar ainda maior ela precisa criar essa tal “indústria do Blockchain”, que já emprega, por exemplo, 1200 pessoas na consultoria Delloite. Mas não podemos nos esquecer que todos nós estávamos ali naquele hotel abarrotado com gente do mundo todo por causa do Bitcoin.
Espero que no próximo ano, a Consensus tenha mais palestras voltadas para quem acredita no Bitcoin como uma ferramenta para transporte de valores.
Precisamos de menos “Blockchain”, menos “ICO”, menos “token”, e mais Bitcoin.
Uma das palestras que mais gostei foi sobre a Lightning Network e soluções de escalabilidade em segunda camada. Essa tecnologia já está funcionando, mas ainda precisa ganhar tração e também precisa de mais testes.
Eu fico imaginando o que acontecerá com essa horda infindável de tokens quando o Bitcoin conseguir realizar transações instantâneas com custo praticamente zero. Nesse estágio, de repente, a Consensus terá mais do que 8 palestras sobre Bitcoin.