A semana para os mercados de risco parecia extremamente complicada, não só pela extensa agenda numa semana encurtada pelo feriado do Dia do Trabalho, mas principalmente pelos problemas políticos originados pela demissão do ministro Sérgio Moro da Justiça, com acusações contra o presidente Bolsonaro. Porém, até aqui (28/04) está se revelando bem mais simples e mercados de risco com boa recuperação.
Nossas expectativas eram (e seguem sendo) de melhora no ambiente externo, como decorrência do achatamento da curva de contágio e óbitos pelo Covid-19, mas num cenário de forte desaceleração e recessão das economias em 2020, mesmo considerando que governos e bancos centrais estão produzindo medidas sem precedentes para aliviar os impactos e preservar em prego e empresas. Não é por outra razão que o FMI indica em seus estudos que pelo menos 170 países vão apresentar recessão nesse ano, e que países emergentes vão precisar de recursos estimados em US$ 2,5 trilhões, quando sabemos que o endividamento já estava próximo de 320% do PIB, segundo dados do IIF-Institute of International Finance.
O FMI também indica que desde o início da crise do Covid-19, os países emergentes já perderam com saídas de recursos cerca de US$ 100 bilhões. O Brasil, com seus mercados comparativamente líquidos está na linha de frente, basta comparar com a pressão sobre o dólar que levou a cotação para cima de R$ 5,72, já por dois dias seguidos, mesmo com o Bacen tendo queimado algo próximo de US$ 9,0 bilhões.
Dissemos isso para justificar nossa preocupação com o desenrolar de uma semana que ainda comtemplará as decisões do FED e do BCE (BC europeu) sobre política monetária, depois da decisão logo no início da semana do BOJ (BC japonês). O BOJ manteve juros inalterados em -0,10%, mas ampliou a aquisição de títulos JGBs, comercial papers e bônus, além de retirar aquele limite de compra de 80 trilhões de ienes por ano. Nossa expectativa é que tanto o FED quanto o BCE sigam na mesma direção.
Isso implica dizer que devem manter juros básicos estáveis na reunião da semana, ao mesmo tempo, em indicam maiores flexibilizações monetárias, caso sejam (e devem ser) necessárias. Aliás, o FED já anunciou antes mesmo da reunião do FOMC que irá comprar títulos de estados e condados no montante de US$ 500 bilhões. Quase ao mesmo tempo, o secretário do Tesouro Steven Mnuchin disse que Trump o instruiu para cuidar do setor de energia (isso depois de cuidarem das aéreas), afetado pelo mercado caótico do petróleo em queda. Dizem ainda que não, mas pode ser preciso apoiar outras empresas e de outros setores, com processos de capitalização, para que possam sobreviver e contar que os empréstimos que estão sendo concedidos possam retornar.
A semana também embute a divulgação de indicadores de atividade e principalmente o PIB do primeiro trimestre para diferentes países. Incluímos aí o PIB americano, o da França, Itália, México e o da zona do euro. Todos já mostrando pequenos efeitos nocivos da crise do Covid-19, mas o maior impacto deve ser mesmo ao longo do segundo trimestre que está apenas começando. Só para dar uma ideia, o mesmo FMI projeta que a contração na zona do euro pode ser de até 15% em 2020. Mas alguns países como os EUA, podem ter recuperação forte já a partir de meados do terceiro trimestre. O presidente Trump em processo de reeleição diz que o quarto trimestre do ano pode ser simplesmente incrível na recuperação.
Bom, e o Brasil? Aqui temos que contar que o ambiente político arrefeça e que os três poderes possam trabalhar em união, o que até aqui parece um sonho dourado, diante da postura beligerante do presidente e todas as confusões. Porém, ficamos animados com a abertura da semana, e decisão de uma coletiva do presidente com seus ministros da área econômica voltando a falar de perseguir reformas estruturantes, os projetos da área de infraestrutura e as relações com parceiros importantes como a China, feitas pelo vice Mourão. Mas vamos precisar separar os gastos do Covid-19 num orçamento de guerra e eventualmente buscar recursos com emissão de títulos longos de “guerra” e com taxas atraentes.
Vamos precisar mais que boas intenções e muita ação para sinalizar aos investidores que o ambiente está mudando. No momento, serviu apenas para acalmar os investidores e impulsionar o mercado acionário, mas sem muito efeito sobre a pressão cambial. Não é muito, mas foi certamente um bom começo numa semana que era complicada e que ficou mais simples.