Nesta semana, em Washington, nos Estados Unidos, está em andamento o Spring Meetings FMI 2024. O evento reúne figuras centrais da política e economia global para debater temas como finanças públicas e privadas, geopolítica, inovação, entre outros.
Organizado anualmente pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, o encontro atrai a presença de banqueiros centrais, ministros da fazenda, executivos e acadêmicos.
Os debates são acompanhados de perto pelos agentes de mercado, pois as informações compartilhadas são fundamentais para orientar estratégias de investimento e até de políticas públicas.
A Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, está presente no evento e compartilhou alguns insights do que ela viu e que eu gostaria de compartilhar com vocês.
No primeiro dia, as discussões giraram em torno dos desafios fiscais e econômicos tanto dos EUA quanto da China.
Phillip Swagel (Diretor do Congressional Budget Office) e Joe Luton (Diretor de Estratégia de Longo Prazo do JP Morgan) discutiram o desequilíbrio fiscal dos EUA, ressaltando que, apesar das preocupações com a dívida, não existe incentivo para reduzi-la no momento, pois a economia americana continua crescendo sem impactos negativos desses desequilíbrios.
Os palestrantes concluíram que qualquer tentativa de ajuste fiscal, seja por aumento de impostos ou corte de gastos, poderia precipitar uma recessão, sem suporte político para tais medidas.
No mesmo dia, sobre a China, Sonali Jain-Chandra (Chefe da Missão do FMI para a China) e Paul Haenle (Head de Estratégia de Mercados Asiáticos do JP Morgan), analisaram os desafios econômicos enfrentados pelo país, especialmente a pressão do setor imobiliário nas finanças locais e o sistema financeiro.
A discussão abordou a necessidade de estabilização do setor e a adoção de políticas para sustentar o crescimento do PIB em 5%, apesar das restrições da política cambial.
No segundo dia, os debates tiveram foco em Rating dos EUA e Política Monetária no Brasil.
Richard Francis, da Fitch Ratings, falou sobre a deterioração da governança e o alto índice dívida/PIB como fatores que contribuem para uma possível redução da nota dos EUA.
Ele prevê que ajustes fiscais significativos só ocorrerão em 2033, após o término do programa de redução de impostos de Trump.
Já Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central, expressou preocupações com o cenário internacional e a política de juros altos dos EUA, destacando os efeitos globais sobre o Brasil.
Ele reiterou que a autoridade monetária do país (COPOM) está atenta aos impactos desses fatores na inflação e na economia local.
Já Guilherme Mello, Secretário da Fazenda do Brasil, apresentou uma visão otimista das perspectivas econômicas do Brasil, enfatizando a importância de ajustes fiscais equilibrados entre receitas e despesas para alcançar um resultado de déficit zero.
Neste caso, segundo a Tatiana, a Fazenda segue ignorando a reação dos mercados diante dos indicadores ruins apresentados pelo governo Lula, com alterações constantes de meta.
O terceiro dia de debates teve como foco as perspectivas econômicas globais e reestruturação de dívidas.
Pierre-Olivier Gourinchas, do FMI, falou sobre os desafios impostos pelos altos custos de financiamento e potenciais riscos de inflação, especialmente em mercados emergentes.
No geral, a conversa destacou as complexidades das perspectivas de crescimento e da política monetária dos mercados emergentes.
Brent Newman, do Tesouro dos EUA, abordou o progresso na reestruturação de dívidas soberanas, destacando a melhoria no acesso dos países de baixa renda aos mercados de capital.
Além disso, ele também reconheceu os desafios enfrentados, especialmente pelos emergentes, como saída de capital para os EUA por conta da elevada taxa de juros, fora as questões estruturais que sempre são um problema.
O evento também incluiu uma análise das eleições presidenciais americanas pelo professor Allan Lichtman, da American University.
Segundo o teórico, as eleições presidenciais americanas são basicamente referendos sobre o desempenho do partido no poder, em vez de disputas entre dois candidatos individuais ou partidos.
Ele acredita que é basicamente a decisão entre manter o que está ou promover uma mudança; a decisão entre a estabilidade e a mudança.
Durante sua apresentação, Lichtman também falou sobre a ineficácia das pesquisas e análises políticas convencionais e destacou a importância de uma abordagem mais estrutural na avaliação das eleições, que ignora as reviravoltas diárias das campanhas e se concentra mais na performance e força do partido no poder.
Ainda temos mais dois dias de evento, com outros painéis não menos relevantes.
A depender de seus conteúdos, teremos uma continuação deste artigo. Isto porque o Spring Meetings FMI 2024 proporciona um espaço importante de discussões sobre estabilidade e crescimento econômico global, com insights valiosos para investidores e empresários.
Compreender o funcionamento da economia e das finanças de um modo geral é fundamental para o sucesso nos investimentos a longo prazo.
Pense nisso e até o próximo artigo!