Após uma semana turbulenta para commodities globais e aumento da probabilidade atribuída a um cenário recessivo nos EUA, o cenário inflacionário no Brasil volta a merecer atenção na medida em que o IPCA de junho avançou 0,67%, leitura marginalmente abaixo das nossas expectativas e da mediana do mercado, ambas em 0,71%. Em 12 meses, o índice acumula alta de 11,89%.
Pelas aberturas, os preços administrados ficaram abaixo do esperado (0,48% vs. 0,87% exp.). Nos preços livres (0,74% vs. 0,66% exp.), houve surpresa altista em todos os setores, sendo a maior em serviços (0,90% vs. 0,80% exp.), seguida por bens industriais (0,58% vs. 0,52% exp.) e alimentação no domicílio (0,63% vs. 0,55% exp.). Do lado subjacente, tanto serviços (1,04% vs. 0,83% exp.) quanto industriais (0,97% vs. 0,84% exp.) seguem pressionados. Adicionalmente, destacamos a forte inflação dos serviços intensivos em trabalho (0,64%), maior variação mensal desde dezembro de 2016.
A média dos cinco núcleos acompanhados pelo Banco Central permaneceu elevada (0,89%), porém abaixo dos 0,93% observados no mês anterior, acumulando variação de 10,50% em 12 meses (vs. 10,11% em maio/22). Similarmente, o índice de difusão apresentou o segundo alívio mensal consecutivo, ficando em 66,58% (vs. 72,41% em mai/22), ainda acima da média histórica).
Na nossa leitura, a surpresa favorável no IPCA decorre de um impacto mais forte do que o esperado das medidas tributárias sobre os preços administrados já no mês de junho, com destaque para gasolina e energia elétrica, que devem ceder ainda mais em julho. Sob a ótica subjacente, notamos manutenção nas pressões advindas da recuperação do mercado de trabalho e no repasse de custos.
Ou seja, temos uma confluência de fatores impactando diretamente a dinâmica inflacionária. Enquanto o curtíssimo prazo deverá ser impactado pela redução do ICMS e dos impostos federais sobre a gasolina, levando o IPCA de julho para uma leitura de -0,77%, a dinâmica de médio e longo prazo seguirá impactada por fortes leituras no IPCA de bens industriais subjacentes (que exclui o etanol) e também dos serviços subjacentes.
Esta última abertura (serviços subjacentes), especificamente, merece atenção especial, visto que tem grande correlação com o crescimento econômico e a taxa de desemprego. Dadas as surpresas com ambas no primeiro semestre do ano, é razoável supor que veremos pressão sustentada neste componente altamente inercial do índice de preços.
Portanto, vemos como altamente provável que o período de inflação extremamente elevada (acima de 10%) tenha ficado para trás. Por outro lado, a dinâmica dos subjacentes ainda sugere que a inflação ficará persistentemente acima do topo da banda de tolerância da meta de inflação no restante do ano. Assim, a atuação do Banco Central deverá ser no sentido de elevar a Selic uma última vez na reunião do Copom de agosto e manter a taxa neste patamar por um longo período.