O Goldman Sachs afirmou que não vai mais se enganar com as commodities, uma vez que recomenda aos investidores que acreditem no cenário de recuperação do petróleo neste ano, apesar do espetacular colapso do ano passado. O ministro de energia da Arábia Saudita, Khalid al-Falih, enquanto isso, faz o melhor que pode para impulsionar a alta do petróleo, prometendo cortar o fornecimento de centenas de milhares de barris por dia.
Por outro lado, o estrategista de commodities da Bloomberg Intelligence, Mike McGlone, afirma que o petróleo norte-americano West Texas Intermediate pode ficar preso na "jaula dos US$ 50 por barril” por um longo período, apesar da expectativa de preços mais altos dos comprados. O JPMorgan também afirma que, embora os cortes de produção realizados pelo clube de produtores da Opep+ possam ajudar os preços, as preocupações com os riscos macroeconômicos globais causados pela desaceleração do crescimento na China irão limitar qualquer suporte oferecido pelas correções no lado da oferta.
Enquanto isso, a JBC Energy alerta que outro pico de produção nos EUA pode neutralizar os cortes da Arábia Saudita e prevê que a produção de shale pode atingir novas máximas históricas "muito acima de 12 milhões bpd" neste mês.
A verdade, de acordo com a Energy Intelligence, de Nova York, pode estar em algum ponto entre todos esses aspectos.
Empresas petrolíferas enfrentam uma dura realidade em 2019
Em uma análise multidimensional sobre as especificidades da produção, negociação e consumo de energia, o editor da Petroleum Intelligence Weekly declarou que diversos desafios estruturais no setor petrolífero tornaram praticamente impossível prever as tendências ou os preços de forma confiável. Energy Intelligence diz ainda:
“Depois de se recuperar de um repentino colapso de quase 40% nos preços do petróleo no ano passado, as empresas petrolíferas enfrentam uma dura realidade no início de 2019”.
“Em vez de preços previsíveis ou mudanças lentas e lineares, as empresas estão diante de um cenário de constantes oscilações em ciclos menores e mais rápidos, uma realidade que as forçará a permanecer conservadoras nas despesas e tratar cada recuperação de preço como um bem-vindo alívio, ainda que provavelmente temporário.”
Chamando o fenômeno de “novo estado de instabilidade permanente”, a consultoria declarou que os preços do petróleo parecem estar consolidados na ampla faixa de US$ 50 a US$ 80 em um ano de negociação. Embora múltiplos fatores estejam por trás das enormes flutuações, a culpa principal parece recair sobre o shale dos EUA, que virou pelo avesso a capacidade da indústria de prever a oferta e estimar as necessidades de investimento.
Segundo a Energy Intelligence:
“Frequentemente, o shale fornece mais petróleo ao mercado do que o esperado, além de ter estabelecido um teto para os preços da commodity e tornado extremamente difícil para a Opep agir como uma força estabilizadora. Mas, se o recurso repentinamente começar a ter um mau desempenho e a indústria não fizer investimentos suficientes em insumos alternativos, os preços podem disparar e sobrecarregar os produtores com o desafio de tentar solucionar os déficits de fornecimento com recursos que exigem horizontes maiores de investimento”.
No ano passado, os produtores internacionais de petróleo esperavam que as exigências dos investidores por mais disciplina de capital entre as empresas petrolíferas norte-americanas lhes daria um alívio em relação à grande quantidade de barris que o shale continuamente injetou no mercado.
A produção de shale desacelerará neste ano?
Mas esse alívio não veio, e a produção de petróleo nos EUA saltou no segundo semestre do ano, levantando a questão: a disciplina de capital é uma restrição irrelevante para o shale?
Energy Intelligence complementa:
“Além de os produtores norte-americanos com capital aberto terem desembolsado grandes somas de dinheiro para recomprar ações em vez de investir cada dólar adicional em maior crescimento, muitos ainda permitiram que seus orçamentos subissem durante o ano e usaram a alta dos preços do petróleo no primeiro semestre de 2018 para cobrir a diferença.”
“O verdadeiro teste virá este ano, se os preços do petróleo nos EUA permanecerem perto do atual patamar de US$ 50. Alinhar realmente as despesas com os fluxos de caixa, com base em um petróleo a US$ 50, significaria desistir da possibilidade de um crescimento significativo para a maioria dos produtores.”
Ainda segundo a agência, até agora, as empresas de exploração e produção de petróleo estavam prometendo demais. Grandes players da bacia de shale no Permiano, como Diamondback Energy (NASDAQ:FANG), Parsley Energy (NYSE:PE) e Centennial Resource Development (NASDAQ:CDEV), agora indicam que podem diminuir a atividade neste ano.
Porém, mesmo que haja disciplina de capital, isso pode acabar não sendo um fator tão limitante como alguns pensam, afirma a Energy Intelligence, observando que uma parte do aumento da produção em 2019 já havia sido paga pelos operadores em 2018.
Citando números da IHS Markit, outra empresa de consultoria, a Energy Intelligence afirmou:
“Em toda a indústria, o número de poços perfurados mas incompletos (DUCs, na sigla em inglês) no Permiano registra novos recordes a cada mês. A expectativa é que o custo para a conclusão desses poços permaneça estável ou caia, à medida que a concorrência entre as prestadoras de serviços pressionem para baixo os preços dos serviços de areia e fraturamento. Além disso, a conclusão dos mais de 4.000 DUCs previstos pela indústria levará um ano ou até mais.”
Do “pico do petróleo” aos “algoritmos”, os desafios continuam
Outros problemas devem ser considerados, como o risco associado à demanda no “pico do petróleo”, em que tanto a necessidade quanto a produção de fontes de energia fóssil serão substituídas por alternativas renováveis; a bomba relógio da Venezuela e da Líbia; dois produtores da Opep em modo de crise perpétua; e temores de uma desaceleração, ou mesmo uma recessão, na China neste ano, o que poderia afetar profundamente a demanda energética mundial, já que o país é o maior consumidor de petróleo do planeta.
Por fim, ainda segundo a Energy Intelligence, a “financialização” do petróleo abrange todas essas considerações, em que a influência das casas de negociação por algoritmos do tipo “black box” e traders não especializados no setor energético expõem posições no petróleo a agendas de investimento mais amplas ou sentimentos que estão desconectados dos fundamentos físicos do petróleo.
A agência de pesquisa observou que o número médio de contratos em aberto nos três principais contratos futuros de petróleo (ICE Brent, NYMEX WTI e ICE) WTI) subiram 40% nos últimos cinco anos e 127% ao longo da última década.
No entanto, mudanças nessas posições não provocam grandes movimentações de preço, o que revela outra distorção. Segundo a Energy Intelligence:
“O mesmo número de contratos de compra foi desfeito entre maio e agosto e entre outubro e dezembro do ano passado, mas os preços caíram US$ 6 e US$ 35, respectivamente. A grande diferença foi que a saída do final de 2018 coincidiu com diversos outros fatores, como aplicação mais fraca de sanções ao Irã e maiores preocupações macroeconômicas.”