O experimento de Asch
Na década de 50, o psicólogo polonês Solomon Asch desenvolveu um estudo para revelar o poder de submissão de um indivíduo quando confrontado com o consenso em um grupo.
O pesquisador colocou 8 pessoas sentadas em uma sala para a realização de um estudo de percepção visual. Dois cartazes eram exibidos, um com apenas uma linha desenhada e outro com 3 linhas.
Os participantes do estudo precisavam responder em voz alta qual das 3 linhas do cartaz da direita tinha o mesmo comprimento da linha do cartaz da esquerda. As respostas eram dadas uma de cada vez, seguindo a ordem de disposição das cadeiras na sala.
Depois de 3 rodadas, algo ficava estranho. A resposta correta claramente era a linha 2, mas todos os 6 primeiros participantes respondiam, com segurança e firmeza, que era a linha 1. Nenhum deles demonstrava estar intrigado com isso, e o pesquisador também reagia normalmente.
O participante sentado na sétima cadeira não entendia se aquilo era uma ilusão de ótica, ficava se questionando se estava vendo os cartazes de um ângulo diferente... afinal, todos falaram que era a linha 1, eles não poderiam estar todos errados.
O que esse participante não sabia era que os demais haviam sido instruídos a dar a resposta errada. Não era uma questão de percepções ou ângulos de visão, as respostas equivocadas tinham como objetivo estudar a sua reação.
Acontece que 3 a cada 4 pessoas submetidas a essa situação escolheram dar a resposta errada intencionalmente, simplesmente porque foi o que todo o restante escolheu.
As pessoas rejeitaram a verdade diante de seus olhos para estar de acordo com o que todos disseram que viram.
O estudo demonstra não apenas a tendência à hesitação diante de opiniões questionáveis de um grupo, mas também que podemos ser bloqueados por um grupo diante de afirmações claramente erradas.
As justificativas
O resultado do estudo de Asch – 75% das pessoas que participaram do experimento cederam pelo menos uma vez à resposta errada do grupo – é impressionante, todavia, mais esclarecedoras ainda foram as justificativas dadas pelos participantes:
Se todos discordavam de mim, eles deveriam estar corretos.
Eu tinha certeza que eles estavam errados, mas não tinha certeza que eu estava certo.
Ou aqueles caras estavam doidos ou eu estava. Não consegui chegar à conclusão de quem estava maluco.
Talvez fosse uma ilusão de ótica que os outros tinham captado e eu não… naquele momento, parecia incorreto não ter a mesma ilusão que eles.
Gosto de fazer parte da galera, por assim dizer… por isso eu estava tentando ver a linha deles como a correta, mas foi difícil, porque eu ficava o tempo todo vendo a minha linha ali.
Se eles estão errados, vou errar também.
Alguns candidatos simplesmente preferiam estar em concordância com o grupo. Outros sabiam que o grupo estava errado, mas não tinham confiança para serem firmes em seu posicionamento.
Enquanto alguns travavam uma batalha entre a honestidade e estar em conformidade com grupo, teve até participante que estava decepcionado por não estar sendo enganado também.
O fato é que não importa se o grupo está certo ou errado, o consenso é mais poderoso que a realidade.
Sozinhas, as pessoas identificariam a linha certa e dariam a resposta correta. Em grupo, a resposta correta quase sempre era irrelevante… e é isso que o consenso faz na maioria das vezes – te impede de enxergar nitidamente.
A independência, a conformidade e os seus investimentos
Esse experimento explica porque 11 milhões de brasileiros acreditam que a terra é plana (segundo pesquisa do Datafolha, realizada em 2019). Dentro do grupo de convívio dessas pessoas, provavelmente é importante acreditar nisso.
Mas ele também explica eventos do mercado financeiro, como a grande concentração de recomendações e investidores nas mesmas ações de sempre ou até como as grandes bolhas podem surgir.
No primeiro caso, as pessoas preferem o conforto do consenso ao risco das decisões incomuns. No segundo caso, as pessoas compram determinado ativo, mesmo sem conhecer ou acreditar nos seus fundamentos, simplesmente porque todo mundo está comprando.
Em ambos os casos, é o medo (de errar sozinho ou de ficar de fora) que está por trás das decisões. O medo pode salvá-lo em uma situação de iminente risco à sua vida, mas não fará com que você invista melhor.
No mundo dos investimentos, ele vai (i) fazê-lo seguir a maioria; (ii) fazê-lo tomar decisões arriscadas demais ou (iii) impedi-lo de agir.
E você não quer nada disso.
Na hipótese (i), você pode tomar decisões às cegas e nunca vai gerar alpha (retorno acima do retorno do mercado) – que é o objetivo de quem investe apenas de forma passiva. Mas, para aqueles que seguem a maioria fazendo seus próprios investimentos de maneira ativa, essa situação vai gerar frustração.
Na hipótese (ii), você aumenta suas chances de investir em bolhas, se alavancar demais ou fazer apostas com valor esperado negativo. A tendência é que você saia perdendo dinheiro nesse jogo.
Por fim, na hipótese (iii), você não vai obter retorno algum e seu patrimônio não vai crescer porque o medo lhe impediu de dar os passos necessários para isso.
Portanto, se você não quer deixar que a conformidade atrapalhe os resultados dos seus investimentos, só há um caminho: o pensamento independente.
Somente com ideias originais você será capaz de adquirir a confiança necessária para impedir que a visão do consenso influencie sua tomada de decisão.
Além disso, confiando nos fundamentos que embasam suas teses de investimentos, você ainda se blinda de outros perigos do mercado, como o sobe e desce das ações que lhe deixam mais otimista ou pessimista do que deveria, por exemplo.
No fim das contas, tudo se resume à confiança. Para realmente ter confiança nos ativos que você investe, só há um caminho: conhecê-los profundamente.
Seu futuro (e de seus amados) depende das decisões de investimento que você está tomando hoje.