Mesmo tendo ficado na moda recentemente, o assunto finanças comportamentais sempre me interessou. Existe uma porção de livros que cobrem o tema, mas minha recomendação vai para “A Arte de Pensar Claramente”, de Rolf Dobelli, que traz alguns exemplos fáceis de como evitar as armadilhas do pensamento e tomar decisões de forma mais eficaz.
Dentre as diversas teorias, uma que me desperta interesse particular é a Teoria da Perspectiva, desenvolvida pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky, que descreve o modo como as pessoas escolhem entre alternativas que envolvem risco.
A premissa era que, independentemente da capacidade técnica, o ser humano é muito mais suscetível a agir instintivamente do que se imagina, desafiando o pressuposto da racionalidade humana. No campo financeiro, as pessoas tendem a fazer escolhas baseando-se mais em potenciais perdas do que em ganhos.
A base dessa teoria parte do conceito de aversão a perda, em que o sofrimento com a perda de determinado ativo financeiro só é compensado pela satisfação de se obter um ganho duas vezes maior. Ou seja, a dor de uma perda de R$ 100 só seria compensada por um ganho superior a R$ 200, nos induzindo frequentemente a correr mais riscos no intuito de tentar reparar eventuais prejuízos.
Dentre esses riscos, destaco o famoso “preço médio” em um determinado investimento cuja perspectiva e cenário mudaram, fazendo com que o investidor aumente consideravelmente o tamanho de sua posição, mas evitando a dor da materialização do prejuízo. Nesses casos, a busca pela “dica quente” pode aumentar, esticando ainda mais o problema.
Embora tentadora, a dica quente pode ser bastante danosa para o patrimônio do investidor, que acaba por concentrar demais seu portfólio e investir em ativos que não tem convicção, em busca da concretização de um evento que pode nunca ocorrer.
Busco empresas de qualidade, que se diferenciam de suas competidoras através de um modelo de negócios mais eficiente, com rentabilidade e que possuem avenidas de crescimento bem delineadas; embora dificilmente estejam no rol das dicas quentes do ano, costumam ser as grandes vencedoras de longo prazo da Bolsa.
Um exemplo claro é Eneva (SA:ENEV3), que divulgou nesta semana seus resultados referentes ao 4T21, e os números vieram bem acima do consenso. Embora dificilmente tenha sido a empresa que mais se valorizou na Bolsa em uma janela temporal pequena, sobe em média 39% ao ano desde 2018.
Importante destacar a disciplina de alocação de capital da companhia e a capacidade de geração de valor dos executivos, que fizeram um verdadeiro turnaround desde a fusão da MPX com a OGX (SA:OGXP3) Maranhão, tornando-a a maior operadora de gás natural do Brasil e com diversas avenidas de crescimento, como a que resultou na oferta vinculante realizada nesta terça (22) pelo Polo Bahia Terra, fruto do programa de desinvestimentos da Petrobras (SA:PETR4).
Outra avenida de crescimento está no setor de energia solar. Com a recente aquisição da Focus Energia (SA:POWE3), a Eneva se posicionou também como uma das líderes do segmento no Brasil, com um retorno esperado de IPCA + 16%. Indo além, através da utilização de métricas para melhorar a estrutura de capital da Focus, otimização fiscal e captura de sinergias de SG&A, poderá expandir o retorno para IPCA + 20%. Um ótimo retorno, você não acha?
Forte abraço