A Maior Frustração do Investidor

Publicado 09.07.2020, 06:05
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Uma das coisas que mais me frusta é, sem sombra de dúvidas, o fato de esquecer grande parte dos livros, artigos, textos e vídeos que leio ou assisto. Se eu simplesmente tivesse a opção de comprar uma habilidade que me permitisse lembrar de todo o conteúdo que eu quisesse, pagaria sem pensar duas vezes. Como sempre digo, conhecimento é essencial para navegar com sucesso pelo mercado de capitais.

Enquanto tive essa reflexão, notei que, se isso é uma frustração minha, também é de outros investidores, inclusive dos meus leitores. Se você me acompanha frequentemente aqui no Investing, faça este exercício: de quantos textos meus você consegue lembrar com facilidade? Imagino que poucos, e isto não é culpa sua. Afinal, eu mesmo, que foi quem escreveu, tenho grande dificuldade para isso.

Pesquisando um pouco a respeito do assunto memória, me deparei com estudos que mostram que o processo de esquecimento funciona como a curva do gráfico abaixo. Ou seja, a retenção de memória é decrescente com o tempo. Os dados são de estudo do pesquisador alemão Hermann Ebbinghaus, publicados na obra Memory: A Contribution to Experimental Psychology. O estudo é de 1885, mas serve como referência a várias pesquisas sobre memória e inteligência nos dias de hoje.

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Se analisarmos bem, é possível notar que a curva de esquecimento é mais acentuada durante os primeiros períodos. Dessa forma, dá para inferir que é extremamente útil revisar constantemente os nossos aprendizados recentes. Caso contrário, a nova informação adquirida será rapidamente esquecida.

Outros estudos apontam que o uso frequente da internet afeta severamente nossa memória, visto que a forma com que consumimos informação – e o conteúdo dessa – mudou drasticamente e, portanto, o tipo de memória que valorizamos também.

Se pararmos para pensar, vemos que a competição pela nossa atenção esta cada vez maior: Youtube, Apple (NASDAQ:AAPL), Facebook (NASDAQ:FB), Amazon (NASDAQ:AMZN), Twitter (NYSE:TWTR), Spotify (NYSE:SPOT), WhatsApp, Instagram, TikTok e Netflix (NASDAQ:NFLX) são só alguns exemplos. Essas empresas nos bombardeiam com conteúdo – muitas vezes inúteis – que acabam nos exaustando, mesmo que inconscientemente.

Na era da internet, a capacidade de recordar espontaneamente uma memória tornou-se menos necessária, e começamos a valorizar a memória do reconhecimento. Ou seja, pelo fato de sabermos que podemos encontrar as informações que queremos rapidamente no Google (NASDAQ:GOOGL), preferimos, mesmo que inconscientemente, simplesmente acessa-la quando precisarmos do que termos o trabalho de aprendê-las e relembrá-las.

Sendo assim, tratamos a Internet como um disco rígido para nossas memórias, pois sabemos que, se precisarmos de alguma informação, por mais importante e complicada que seja, podemos desbloquear nossos smartphones e procurá-la instantaneamente.

Por Exemplo, porque parar para ler, pensar e aprender sobre o que é Balanço Patrimonial, DRE, Demonstrativo do Fluxo de Caixa, Margem Líquida, Fluxo de Caixa Livre se eu posso simplesmente pesquisar em sites sobre investimentos?

Essa mentalidade – muitas vezes inconsciente – faz com que gastemos muito menos esforços de memorização, entendimento e reflexão em conceitos teóricos importantes. E isso é muito triste, pois, na verdade, não estamos lendo para aprender. Quando lemos, na maioria das vezes, apenas sentimos que estamos aprendendo algo pois estamos reconhecendo e assimilando as palavras que estão na tela.

No entanto, a simples informação sem a reflexão necessária não se torna conhecimento. Mesmo assim, nos enganamos e acreditamos que ela foi transferida para nosso cérebro e ficará lá para sempre.

Felizmente, existem alguns hacks para absorver o que aprendermos, como por meio da reflexão, leitura espaçada (de pouco em pouco), anotação das principais ideias, revisão dos conceitos mais importantes, entre outros (se você possui uma estratégia própria eficaz, por favor, diga nos comentários).

No mundo agitado e rápido em que vivemos, as pessoas que adquirem a habilidade de parar, dar um passo para trás, refletir e agir possuem uma vantagem competitiva inimaginável. Para mim, Warren Buffett é uma dessas pessoas. Mesmo não o conhecendo, sei do leitor assíduo e, mais importante, do assimilador de conteúdo que é. E esta, para mim, foram duas de algumas de suas habilidades que o premiaram com o sucesso que obteve.

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