Na obra de Nassim Nicholas Taleb, A Lógica do Cisne Negro, o autor discorre sobre os impactos – positivos e negativos – de eventos profundamente raros e improváveis.
Sabe-se que a indução é o método para chegar a uma conclusão a partir de elementos previamente presentes e apresentáveis. A partir disso, o livro expõe um episódio no qual acreditava-se que todos os cisnes eram brancos, pois, até então, ninguém tinha visto um cisne de outra cor.
Algum tempo depois, a descoberta de uma nova espécie com penugem negra acabou evidenciando os problemas e falhas no método de indução: Cisnes negros existem.
Fazendo um paralelo mais amplo, evidencia-se a incompetência de observar todas as variáveis do mundo. Somos incapazes de analisar e deduzir todos os possíveis eventos da nossa realidade.
Conclui-se que cisnes negros são eventos que acontecem de repente e que tomam proporções enormes e de grande escala, mudando abruptamente os números antes apresentados.
Após breve introdução, é possível confrontar os fundamentos expostos por Nassim com o cenário atual, que impactou intensamente o mercado de proteína animal no Brasil.
Em 2018, o vírus da peste suína africana atingiu a China. Estima-se que 200 milhões de porcos no país asiático foram afetados, mortos ou sacrificados para controle da doença.
Como sabemos, quando há perda na oferta de algum produto e a demanda continua a mesma, os preços tendem a aumentar consideravelmente, beneficiando os produtores desse item, que agora podem vender seus produtos por um valor mais alto, sem que os custos e despesas aumentem.
Com a guerra comercial entre China e EUA se alongando, somado aos casos de manifestações na América Latina, os investidores deixam de investir em países emergentes, mantendo o dólar alto. Com isso, empresas exportadoras se beneficiam, aumentando suas receitas apenas com a alta da moeda norte-americana.
Com a carne mais cara, a procura por frangos, peixes e ovos também aumentam, proporcionando uma alta no preço dessas proteínas. Conclui-se que esses eventos criaram nosso cisne negro.
Utilizando a JBS como exemplo, a empresa brasileira é maior processadora de carnes do mundo e líder mundial em produção de carne bovina, de frangos e couros. Além disso, mais de 70% de sua receita vem de suas operações internacionais, que se beneficiam com a alta do dólar.
Devido ao cisne negro em questão, as ações das empresas do setor de proteína animal apresentam uma das maiores altas do ano. A Minerva já subiu 154%, acompanhada pela JBS, que subiu 114%, juntamente com a Marfrig, que apresenta valorização de 86% em 2019.
Sendo assim, a partir da obra de Nassim Nicholas Taleb, podemos concluir que mesmo o mais informado e mais preparado dos investidores ainda deve contar com a sorte, afinal, cisnes negros existem.