Já faz mais de 15 dias que fizemos um post prognosticando o preço do dólar no nosso mercado entre R$ 4,60 a R$ 4,80, com uma assertiva de que o BC continuaria com o aperto monetário, visto que a inflação está vorazmente forte e sustentável.
O viés estava estabelecido e a tendência vem se consolidando face às colocações postas pelo COPOM em sua mais recente Ata, deixando evidente replicar outra vez o 0,75% ou até ousadamente 1,00%.
Há algo que fulmina as distorções da formação do preço do dólar, nem sempre observado localmente que, costumeiramente, cria outros focos, mas o juro adequadamente equacionado à realidade impõe o ajuste imediato no dólar.
Neste momento, mais do que eventual desempenho com discretos sinais de melhora da economia, é o juro que promove a adequação do preço da moeda americana no nosso mercado. Um ou outro movimento oscilatório nesta tendência faz parte do jogo, visto que os traders precisam de volatilidade para incrementar seus negócios, então neste sentido no momento em que a volatilidade cai a parâmetros mínimos.
Há fluxo financeiro destinado ao Brasil, seja para renda variável ou renda fixa? O fluxo cambial até o último dia 18 deixa evidente que não, ao apontar tão somente US$ 1,097 Bi de saldo positivo financeiro.
A Bovespa, pelas evidências, depende deste fluxo melhorar para poder retomar ritmo de alta, demonstrando estar estacionária em torno de 128/130 mil pontos, praticamente ancorada em papéis tradicionais e contumazes. Como sempre destacamos, a Bovespa não representa e economia nacional, já que tem em seu índice 84 papéis, dos quais 10 são os destaques por serem ligados ao segmento de commodities, portanto mais influenciáveis pelo mercado internacional, e um ou outro do setor financeiro o do E-Commerce.
O fato marcante é que o fator interno, o juro SELIC, está predominando na influência da formação do preço do dólar no nosso mercado, e isto provoca até que “ignore” relativas pressões dos juros americanos sobre os treasuries face à inflação americana, que o FED sinaliza como temporária.
Tudo leva a crer, então, que o preço do dólar no nosso mercado irá recuar mais e mais rápido atingindo o entorno de R$ 4,60. Ora, de um preço pico de R$ 5,80 mais recente para R$ 4,60 se constata uma apreciação do real de praticamente 20%, o que torna imperativo que os preços relativos da economia, marcados à mercado pelo dólar face às exportações, passem a repercutir este novo cenário, reduzindo seus parâmetros e melhorando de forma indireta a capacidade de consumo da população.
O BC reviu sua projeção para o PIB deste ano para 4,6%, parecendo sensata, muito embora não se tenha ainda muita clareza sobre a dimensão da crise hídrica que poderá assolar o país de forma mais contundente, impactando na atividade econômica e provocando retração nesta projeção.
Por outro lado, temos a pandemia fortíssima em sua 3ª onda com números dantescos, enquanto a cobertura efetiva de vacinação com 2 doses ainda é muito modesta a despeito dos alaridos. E mais, temos centrado como pandemia a situação da COVID, mas pandemia no espectro social envolve a crescente miséria que assola o país, o desalento consequente, o massivo desemprego, e até mesmo a falta de perspectivas efetivas e sustentáveis no curto prazo.
O Brasil tem desafios, e não são pequenos, mas isto, até onde entendemos, não deve afetar a formação do preço do dólar no nosso mercado, visto que a situação fiscal tem um equilíbrio precário, mas tem, e o nosso CDS está em 162,2 pontos para 5 anos, ancorado pelo volume de nossas reservas cambiais.
Tem sido costumeira a citação de que o Brasil, com a renovação contínua do estoque dos contratos de swaps cambiais, esteja queimando nossas reservas, por isso é relevante, mais uma vez, destacar que as operações de swaps cambiais podem até valer-se como referencial de liquidez das reservas cambiais, mas não as envolvem visto serem operações liquidáveis em reais por diferença.
Não se pode descartar que com nova elevação do juro SELIC haja perspectiva de incremento das operações de “carry trade” direcionadas ao Brasil, que dão volume ao mercado financeiro e liquidez, melhorando o fluxo cambial de forma pontual.
Há muito que se observar em perspectiva, privatizações, eventual movimento nas reformas tributária e administrativa, tudo cercado de muito embate de campanha presidencial, o que desgasta muito os processos, mas que no Brasil neste momento é o imponderável, e na margem a dimensão e os impactos da crise hídrica e o fortalecimento das pandemias, sanitário e sociais.
Contudo, o viés de apreciação do real nos parece bem sustentável.