Se ao falar de setor de Defesa te veio à mente imagens de caças, tanques, diferentes tipos de armas e munições, você está certo, é exatamente disso que se trata. Apesar de ser algo tão distantes para nós brasileiros, o setor de defesa é algo extremamente enraizado na realidade dos americanos e existem diferentes maneiras de se expor à tese, seja através de ETFs ou diretamente via ações.
O Setor.
O setor de defesa geralmente é dividido em dois tipos de empresas: fabricantes de equipamentos e prestadores de serviços.
As empresas de equipamentos fabricam tanques, navios de guerra e caças comumente associados ao Pentágono e incluem nomes conhecidos como Lockheed Martin (NYSE:LMT), Boeing (NYSE:BA) e Raytheon (NYSE:RTX). Enquanto isso, os provedores de serviços gerenciam redes de TI, realizam trabalhos de consultoria e executam trabalhos de terceirização mais comuns, como gerenciamento de base e logística para agências civis e militares.
De um modo geral, as empresas orientadas a serviços tendem a se sair pior no caso de um limite de orçamento ou desligamento do governo, já que as principais compras de equipamentos e P&D são projetos financiados a longo prazo, enquanto a modernização da TI ou os acordos de consultoria são mais facilmente deixados de lado até que o financiamento esteja disponível.
Outro ponto importante para se levar em consideração é que o setor de defesa, como a maioria dos setores industriais, é cíclico, mas a defesa é única, pois seus altos e baixos geralmente não se baseiam em nenhum indicador econômico específico. Em vez disso, as empresas de defesa tendem a ir de boom and bust com base nas decisões de Washington.
Portanto, as batalhas orçamentarias são um importante vetor de performance do setor, e no cenário atual essa batalha tem favorecido as empresas do setor.
Big Numbers
Abaixo temos e evolução dos gastos com defesa nas últimas três décadas. Após o fim da guerra fria os gastos militares recuaram, mas voltaram a crescer após o atentado de 11 de setembro.
Os gastos militares globais em 2019 representaram 2,2% do produto interno bruto (PIB) global, segundo Nan Tian, pesquisador do SIPRI, “Os gastos militares globais foram 7,2% mais altos em 2019, do que em 2010, mostrando uma tendência que o crescimento dos gastos militares acelerou nos últimos anos”. Segundo ele “Este é o nível mais alto de gastos desde a crise financeira global de 2008 e provavelmente representa um pico de gastos”.
Os gastos militares dos Estados Unidos cresceram 5,3%, totalizando US $ 732 bilhões em 2019 e representaram 38% dos gastos militares globais. “O crescimento recente dos gastos militares dos EUA se baseia em grande parte no retorno à competição entre as grandes potências”, diz Pieter D. Wezeman, pesquisador sênior do SIPRI.
Você pode estar pensando que a política externa mais agressiva que Trump vem colocando em prática pode estar refletindo diretamente nos gastos militares, mas se existe uma coisa que une republicanos e democratas, essa coisa é o gasto com defesa. Abaixo vemos que no primeiro mandato do Obama, houve expansão nos gastos com defesa, gastos esses maiores do que realizados durante o governo Bush e maiores do que os gastos realizados por Trump até aqui, seja em termos absolutos ou percentual sobre o PIB.
Gastos Militares (US$)
Gastos militares (% PIB)
O orçamento fiscal do Pentágono para 2020 – Departamento de Defesa Americano – pode chegar a cerca de US$ 750 bilhões, com uma parcela substancial desse orçamento destinada a empreiteiros na forma de compra de equipamentos, contratos de gerenciamento e financiamento para pesquisa e desenvolvimento. Devido a questões de segurança, o governo tende a fazer a maior parte de suas compras no mercado interno.
3 Motivos para investir no setor da Defesa
- Previsibilidade: O que essas empresas podem oferecer aos investidores é um bom fluxo de renda previsível e a capacidade de dormir bem à noite sabendo que a receita das empresas não corre o risco de acabar do dia pra noite. Em muitos dos maiores projetos de compras do governo, como porta-aviões, bombardeiros, aviões de combate e submarinos nucleares, existe um plano de gastos que se estende até a próxima década e é improvável que seja alterado facilmente. Poucos setores podem oferecer uma previsibilidade de receita semelhante. Os Estados Unidos desfrutam do arsenal mais poderoso e sofisticado do mundo. Os investidores podem lucrar com os gastos que tornam esse arsenal possível.
- Descorrelação: Setor pouco exposto à ciclos econômicos, visto que os drivers que impactam sua performance são majoritariamente políticos. Além disso, em momentos de aumento de tensão geopolítica entre os EUA e outras nações, quando o mercado via de regra tende à passar por correção, o setor de defesa tende à defender bem o portfólio pois é beneficiado por esse cenário.
- Tendência: O Pentágono está no meio de uma grande atualização do sistema de armas, que inclui reorientar suas prioridades para combater os rebeldes no deserto e para os principais conflitos de poder com a Rússia e a China, que vem se intensificando nos últimos anos. Isso está causando uma grande revisão de quais equipamentos serão necessários na próxima década e em quais tecnologias serão necessárias investir. Além de expansão e inovação, o setor ganha parte relevante te sua receita na manutenção e revitalização de todo o arsenal atual de tanques, submarinos, navios, ogivas, armamentos…
Em relação às empresas de serviços, as manchetes sobre entidades estrangeiras invadindo redes seguras fizeram desses esforços de modernização uma prioridade para os próximos anos. Enquanto isso, é provável que o governo adote cada vez mais a terceirização o que deve significar um aumento constante de oportunidades para empresas de serviços, mesmo em um ambiente sem ganhos orçamentais.
Por que não investir no setor da Defesa?
- Valores pessoais: As empresas de defesa fabricam produtos extremamente letais, que são usados em todo o mundo por vários governos por várias razões. Essa é uma questão ética que é melhor deixar para investidores individuais e, até o momento, há uma grande demanda por ações de defesa. Mas, se a percepção do público evoluir com o tempo contra empresas de defesa semelhante ao que aconteceu com a indústria tabaco, isso poderá impactar negativamente as ações do setor.
- Dependência do Governo: Uma coisa que não afetaria tanto a maioria das outras empresas é o cenário político de hoje. Se o presidente americano for agressivo em sua política externa, as ações tendem refletir à essa abordagem positivamente, caso contrário, o setor tende à sofrer redução de receita. Essa dependência elevada em relação à quem está no controle político dos EUA é um ponto negativo que deve ser levado em conta.
- Não encontrará a próxima Apple (NASDAQ:AAPL) aqui: a maioria das vezes, as empresas de defesa não fornecem o glamour ou os ganhos impressionantes da biotecnologia ou das empresas do Vale do Silício. O governo, apesar de um cliente difícil, faz o possível para garantir lucros razoáveis para a indústria, para garantir que a base de defesa permaneça saudável, mas evita margens de lucro altíssimas.
COVID-19
O setor de defesa não deve ficar de fora dos setores impactados. As eleições se aproximam e os gastos militares sempre são ponto sensível de discussão, e no cenário atual, onde o governo americano se vê obrigado à elevar a dívida pública em patamares inimagináveis, projetos de menor prioridade podem ser revistos. Atualmente com o Pentágono mais focado na competição com a Rússia e China em vez do Oriente Médio, projetos específicos para aquela região podem sofrer revisão, como o JLTV da Oshkosh Corporation (NYSE:OSK) abaixo, veículo voltado para operação no deserto.
Como investidor no setor?
O ITA) é um ETF que busca replicar a performance do iShares Dow Jones US Aerospace & Defense é um índice composto por apenas empresas americanas que fabricam, montam e distribuem equipamentos aeronáuticos e de defesa, além de posição marginal indústria pesada e empresas que vendem produtos relacionados à construção
É um índice relativamente concentrado, assim como o setor de maneira geral. As três maiores empresas no índice representam mais de 50% do seu PL.
Abaixo, segue performance do ETF nos últimos 5 anos. Desde a última a eleição americana o índice se valorizou mais de 100%, refletindo a política do presidente Donald Trump que buscou expandir o orçamento militar, passando por forte correção no começo de 2020,devido a crise do COVID-19.
A Boeing foi o grande detrator na performance do fundo, visto que possui peso relevante na carteira do ETF e parte relevante da sua receita exposta a aviação civil, fazendo com que suas ações caíssem mais de 50% e mesmo após a recuperação do S&P o papel não reagiu (abaixo).
O fundo negocia à um 14,74x P/L e 2,67 P/B (P/VPA), com Beta de 1,47.
No próximo post entrarei mais à fundo em algumas empresas especificas do setor, até lá!
Abraço!