Existe um seleto grupo de vinhos que estão no topo da lista dos mais raros e procurados do mundo, e que sempre se destacam nos principais mercados do segmento. Estamos falando dos vinhos de Henri Jayer, que no auge de sua carreira, na década de 1980, foram premiados ainda mais do que os do lendário Domaine de la Romanee-Conti – graças ao seu compromisso meticuloso com a qualidade e a pequena produção anual.
Henri Jayer era um produtor de Borgonha, na França, conhecido por fazer alguns dos Pinot Noir mais caros e aclamados pela crítica mundo afora. Jayer se aposentou da vinificação em 2001 e faleceu em 2006. A produção limitada e o número finito tornaram os vinhos de Henri Jayer como uns dos mais colecionáveis e com preços mais altos do mundo.
O trabalho de Jayer foi admirável: a marca foi fundada por ele quando herdou três hectares de terra na Côte d'Or, incluindo parcelas no vinhedo Grand Cru Echézeaux. Ele começou a engarrafar vinho com seu próprio nome no início dos anos 1950, incluindo vinhos feitos de frutas de vinhedos que ele cuidava, de propriedade da família Noirot-Camuzet.
Os vinhos mais famosos de Jayer vieram dos vinhedos Grand Cru de Echézeaux e Richebourg, e do vinhedo Premier Cru Cros Parantoux. Em 2014, uma caixa de 1985 Vosne-Romanée Cros Parantoux, da coleção particular de Jayer, foi vendida por US$ 265.200 em um leilão em Hong Kong.
Atualmente, cada garrafa com 750 ml deste mesmo vinho é vendida por US$ 22 mil na Europa. Trazendo para a realidade brasileira, o valor da coleção desta bebida seria o equivalente a R$ 2,7 milhões. Com a cotação do dólar em 1998, ano em que a garrafa foi colocada no mercado, $20 mil seriam equivalentes a R$ 22 mil. Neste cenário, o lucro representa 122 vezes o capital investido em reais. Ou seja, 27.000 % na valorização em dólar, fora a valorização cambial.
O CEO do Oeno Group, Michael Doerr, tem uma opinião certeira quanto ao assunto. De acordo com ele, "com o mercado secundário de vinhos finos quebrando todos os recordes de preços em relação ao ano anterior e não sendo afetado pela turbulência global devido à sua correlação mínima, prevejo que jóias ultra-raras e altamente desejáveis, como o prestigiado Henri Jayer, serão cada vez mais valorizadas”.
A verdade é que a oferta deste vinho está cada vez mais escassa, com uma média de apenas 10 garrafas disponíveis no mercado. A estimativa é que mais de 90% já foi consumida.
E, neste contexto, a pergunta que fica é: por que os vinhos finos se valorizam tanto? A primeira resposta é que os vinhos finos representam menos de 1% de todos os vinhos produzidos no mundo. Além disso, precisam de longo tempo de maturação. Alguns ficam prontos para beber em apenas 10 anos. Também existe a baixa oferta. Trata-se de produções muito específicas, com um volume de produção anual muito pequeno para o tamanho da demanda.
Outra resposta é que o vinho fino tem um apelo global crescente à medida que a riqueza no mundo cresce, por isso também é chamado de “vinho de luxo”. O consumidor final desses vinhos não muda o hábito de beber vinhos de $2, $3, até $10 mil ou mais em um jantar, por exemplo. “É o mesmo consumidor que faz com que a lista de espera por carros de luxo com preços superiores a R$ 1 milhão seja de até um ano, tanto no Brasil quanto aqui na Europa”, comenta Cotoski. Já no caso do Vosne-Romanée Cros Parantoux, feito por Henri Jayer, como ele faleceu e nunca mais haverá ou será feito os vinhos por suas mãos, torna-se irreplicável e, por sua vez, altamente valioso.
Um investidor brasileiro, de Curitiba (PR), recentemente investiu em uma garrafa rara Magnum (1500 ml), de 1996, Vosne-Romanée Cros Parantoux, produzida por Jayer ainda quando vivo, para fazer parte de sua carteira de Vinhos Finos, que fica armazenada no cofre especial da Oeno House. O valor da venda não foi divulgado. Entretanto, trata-se de uma garrafa vendida na Europa por volta de £60 mil. Ou seja, aproximadamente R$ 400 mil.
Segundo o investidor que não quis se identificar, os vinhos de luxo adquiridos por ele são utilizados como forma de hedge cambial e proteção de patrimônio. Uma vez que a valorização delas é em dólar, com baixo risco de volatilidade. "Talvez venda o vinho para minha aposentadoria ou deixe aos meus filhos”, comentou.