O colapso da barragem de Brumadinho coloca duas questões para os fundamentos da Vale (SA:VALE3). Uma, de curto prazo, que diz respeito a quanto vai custar para os acionistas essa nova tragédia. Outra, de longo prazo, que nos remete ao potencial de novos colapsos nas outras barragens do Sudeste. Ainda que os problemas de curto prazo sejam resolvidos com um soluço de 5% a 10% nos preços das ações, os de longo prazo não são facilmente precificáveis. Tudo indica que o time responsável pela gestão desse enorme passivo da empresa não avaliou corretamente os riscos gerados pela incompetência de seus engenheiros na construção das barragens. Novos acidentes não podem ser descartados por esse histórico patético de dois desastres em dois anos. Não parece razoável, porém, perguntar ao atual time de gestão da empresa sobre as probabilidades de novas ocorrências em um horizonte de dez anos. Se o atual time de gestão não tem essa competência, quem teria?
Em suma, o que o mercado deve se perguntar é sobre o quanto vai custar essa tragédia atual e qual a probabilidade de novas tragédias. Ambas ainda são desconhecidas e, portanto, qualquer projeção sobre os preços da empresa inclue uma enorme discricionariedade. A reação das agências de rating, avisando que a empresa está sob reavaliação, é mais do que justa. A partir de agora, a empresa precisa mostrar uma avaliação técnica crível, indicando quais são os riscos de novos eventos e quais são os planos para mitigá-los. Os custos desse ajuste, com certeza, serão bastante elevados.
A semana terá balanços importantes no exterior (Apple (NASDAQ:AAPL), Facebook, Amazon (NASDAQ:AMZN), 3M e outras) e reunião do comitê de política monetária do FED. Essa reunião tem importância para sinalizar ao mercado sobre como está a visão do FED sobre o futuro da economia. Está claro que o crescimento desse ano será menor do que era esperado, mas todos estão esperando uma avaliação da autoridade monetária sobre os riscos de uma recessão, cada vez mais esperada pelos analistas de Wall Street. Ao lado desses eventos econômicos, espera-se que representantes do governo dos EUA se reúnam com os da China, para que sejam discutidos os termos para o relaxamento da “guerra comercial” travada entre ambos.No Brasil, a cirurgia do presidente Bolsonaro e os movimentos preparatórios para a discussão da reforma da previdência tomam a cena. Na sexta-feira termina o recesso parlamentar e a reforma deve ser o tema central, agora com o reforço dos governadores que estão em apuros por conta da crise fiscal. Apesar da volatilidade esperada no exterior, o cenário para a semana é favorável para o Ibovespa, por conta do otimismo com a reforma previdenciária.
A abertura do mercado foi com queda de 19,85% de queda da Vale e de 1,1% do Ibovespa. O dólar opera em ligeira alta e deve se manter nesse campo ao longo do dia.