“Enorme incerteza”. Foi assim que a empresa de serviços financeiros SimplyWise descreveu a situação em sua última pesquisa de confiança sobre aposentadoria.
Isso ocorre apesar de o mercado de ações não parar de subir desde as mínimas de março, graças aos trilhões de dólares de liquidez injetados pelo Fed e a um repique na atividade econômica.
Mas qual é o problema afinal? A SimplyWise prossegue explicando:
A atual realidade econômica, política e de saúde pública nos Estados Unidos criou uma enorme incerteza para muitos americanos. A maioria dos cidadãos não tem poupança suficiente para três meses. Essa lacuna na poupança é ainda mais drástica quando falamos de aposentadoria. De fato, a pandemia provocou o caos nos planos de aposentadoria de muitas pessoas, fazendo-as se aposentar mais cedo e forçando outras a postergar o tão desejado o plano de fazer o mesmo. Hoje em dia as pessoas estão mais preocupadas do que nunca com a aposentadoria. De acordo com o índice de Confiança de Aposentadoria da SimplyWise em setembro de 2020, 58% dos americanos estão preocupados com sua aposentadoria hoje do que há um ano.
Principais destaques
Em face do atual ambiente econômico, apenas 19% dos americanos planejam investir mais no mercado de ações. No entanto, apenas 34% das famílias com renda superior a US$ 100 mil planejam investir mais em ações.
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40% dos entrevistados planejam economizar mais.
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51% dos americanos pensam que o mercado de ações cairá 20% nos próximos 6 meses. Apenas 5% acreditam que isso é improvável.
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36% acreditam que a economia piorará nos próximos 6 meses, enquanto 28% acreditam que melhorará.
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63% dos americanos confiam no futuro da previdência social se Biden for eleito e apenas 44% se Trump vencer o pleito.
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86% dos americanos estão preocupados com o fato de que o atual imposto sobre a folha de pagamento prejudicará a previdência social no longo prazo. (90% de democratas e 83% de republicanos).
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Há diversas questões críticas no índice que envolvem as dificuldades financeiras que já existiam antes da pandemia e que, desde então, pioraram enormemente.
Insegurança financeira
Vejamos mais algumas descobertas essenciais relacionadas à insegurança financeira dos americanos atualmente.
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15% das pessoas que perderam seu emprego por causa da covid-19 estão planejando se aposentar mais cedo do que previam. Apenas 10% das pessoas na casa dos 50 e 60 anos estão planejando se aposentar mais cedo do que esperavam.
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58% das pessoas entre 50-60 anos não estão confiantes que manterão seu padrão de vida na aposentadoria.
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30% das pessoas entre 50-60 anos não economizaram nada para se aposentar no ano passado, e a poupança de 43% delas não seria suficiente para mais do que um mês.
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27% dos americanos estão agora considerando resgatar seus planos de aposentadoria – nível mais alto na pandemia.
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45% dos hispânicos, 39% dos negros e 34% dos americanos brancos não conseguiriam sobreviver um mês com suas poupanças.
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63% dos americanos confiam no futuro da previdência social se Biden for eleito. Apenas 44% estão otimistas com a reeleição do presidente Trump.
Essas estatísticas, cabe lembrar, por mais impressionantes que pareçam, NÃO resultantes da pandemia de covid-19. A insegurança financeira dos americanos é um problema que não parou de crescer nas últimas duas décadas. Foi isso o que discutimos em “Os boomers estão enfrentando uma crise financeira”.
“A falta de poupança, evidentemente, está diretamente relacionada ao aumento do custo de vida, em comparação com a falta de renda nos últimos 35 anos, o que provocou uma forte disparada do endividamento para manter o mesmo padrão de vida.”
Preocupações cada vez maiores em todos os setores
Essa incapacidade de fechar a lacuna entre as rendas e o custo de vida, evidenciada pela disparada do endividamento, continua gerando preocupações com o estilo de vida e a sustentabilidade financeira. Como ressaltamos:
“Para quem ainda não está pensando em solicitar os benefícios da previdência social, as preocupações financeiras estão entre suas maiores ansiedades em relação à aposentadoria. Quinze por cento se preocupam com o fim da previdência social, e 52% temem que suas poupanças não durem pelo resto de suas vidas. Para os americanos que estão atualmente na previdência social, 54% temem que seus benefícios acabem. Isso representa um aumento significativo em relação aos 29% registrados em julho. Além disso, 47% estão preocupados com sua capacidade de pagar seus planos de saúde na aposentadoria. Outros 47% estão preocupados com sua capacidade de fazer frente às suas despesas diárias quando se aposentarem". – SimplyWise
O problema apresentado é pior para quem está mais perto de se aposentar. Isso não é uma surpresa, em razão dos passivos sem custeio dos programas de bem-estar social de cerca de US$ 70 trilhões, que aumentam a cada ano.
O colapso do crescimento econômico resultou em um colapso da receita com tributos federais necessários para pagar os enormes programas de bem-estar social nos EUA.
Agora é necessária uma receita tributária federal de mais de 100% para cumprir as despesas de bem-estar social e os juros da dívida. Em outras palavras, estamos nos endividando mais para fornecer assistência social.
Isso é tão ruim assim?
Não há perspectiva de melhora.
“A constante piora nos balanços anuais e os valores cumulativos no fim do período de 75 anos é um indicativo da mudança adicional necessária para manter a solvência além dos 75 anos. A consideração apenas das medidas sumárias para um período de 75 anos pode gerar percepções equivocadas e prescrições de política que não conduzirão a uma solvência sustentável."
“Sob a atual legislação, o custo projetado da previdência social aumentará de forma mais acelerada do que a receita projetada até 2040, principalmente por conta do número de trabalhadores que pagam impostos em relação ao número de beneficiários, já que a mão de obra ativa cairá à medida que a geração baby-boom envelhece e é substituída por gerações com uma taxa de natalidade menor. Embora haja uma estabilização dos efeitos do envelhecimento da geração baby boom com as menores taxas subsequentes de natalidade após 2040, o custo anual continuará crescendo mais rápido do que a receita, mas em menor grau, refletindo os aumentos contínuos na expectativa de vida. Com base nas considerações do conselho social, o custo da previdência excederá a receita total a partir de 2021 e ao longo de todo o período subsequente de 75 anos”. - SSA.
Cada vez pior
Como se não bastasse o sinal alarme dado pelo relatório, o documento foi emitido antes da pandemia e da crise econômica.
Enquanto isso, a demografia está acabando com a premissa básica do financiamento da previdência social. Havia 2,8 trabalhadores para cada beneficiário da previdência social em 2017. Uma queda em relação aos 3,3 em 2007 e muito menor do que os 5,1 trabalhadores por beneficiário em 1960.
Além disso, os dois programas funcionam como uma correia transportadora gigante na transferência de renda dos jovens e relativamente pobres aos mais velhos e relativamente ricos. Isso faz com que uma pessoa média (que vive até os 78) tenha mais de uma década de aposentadoria financiada pelos contribuintes.
Em abril, os programas de bem-estar social dispararam para a maior porcentagem das receitas pessoais disponíveis na história, à medida que o governo respondia com enormes subsídios usando fundos dos contribuintes. Embora esses números tenham caído nos últimos meses com a diminuição do suporte fiscal, os programas de bem-estar social compreendem 1/3 das rendas pessoais disponíveis.
“Durante a Grande Depressão, as massas economicamente devastadas formavam as ‘filas do pão’. Atualmente, essas ‘filas do pão' se formam na caixa de correio".
Infelizmente, os dólares tributários reciclados, usados para fins de consumo, praticamente não têm impacto na elevação da atividade econômica. Entretanto, em razão das estatísticas nefastas, é possível compreender por que 65% dos americanos na casa dos 50 anos estão agora preocupados com o fim da previdência quando se aposentarem. Além disso, 50% deles estão preocupados com o pagamento das suas despesas diárias na aposentadoria.
Plano TAM
A falta de segurança financeira e as preocupações com a solvência e a estabilidade do bem-estar social fez aumentar o número de americanos que estão adotando o plano de aposentadoria TAM (Trabalhar Até Morrer).
“O índice de setembro mostrou que mais americanos do que nunca estão planejando trabalhar durante a aposentadoria. Atualmente, 73% dos trabalhadores planejam trabalhar depois de se tornarem beneficiários da previdência social. Trata-se de uma alta em relação aos 67% registrados em maio e 72% em julho. A prorrogação da aposentadoria pode ser atribuída ao fato de que apenas 63% dos trabalhadores pesquisados estão ganhando o mesmo que ganhavam antes da covid-19”. – SimplyWise
Já discutimos diversas vezes a falta de poupança financeira. Não é de surpreender que a SimplyWise tenha notado o mesmo em sua pesquisa.
“O índice de setembro mostrou que 30% dos americanos não economizaram nada para a aposentadoria no ano passado. De fato, a maioria (56%) economizou menos de US$ 1.000 no último ano. Os resultados são similares àqueles de maio e julho, quando um em cada três americanos economizou US$ 0 para a aposentadoria”.
As estatísticas são ainda piores para os americanos mais velhos.
“Dos americanos na casa dos 50 anos, 30% economizaram US$ 0 para a aposentadoria no ano passado. E 43% das pessoas entre 50-60 anos disseram que sua poupança não seria suficiente para mais de um mês.”
Essas estatísticas não são novas. Entretanto, há consequências muito mais profundas tanto para a solvência fiscal dos programas sociais quanto para o crescimento econômico no longo prazo.
Dilema das poupanças
As estatísticas realmente são deprimentes quando paramos para pensar. Mas para 80% das pessoas com renda menor e cujas receitas não cresceram nas últimas duas décadas, os obstáculos para sua segurança financeira na aposentadoria não é algo surpreendente.
Em uma pesquisa da Kiplinger e Personal Capital, os americanos disseram que os maiores obstáculos para a poupança de aposentadoria eram:
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O alto custo do plano de saúde. De 1999 a 2017, custo do plano de saúde familiar mais do que dobrou em relação ao valor líquido que consome.
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Baixo desempenho dos investimentos. Um pouco menos de 30% dos entrevistados (29,4%) disseram que o baixo desempenho dos seus investimentos os fez parar de economizar tanto quanto gostariam para a aposentadoria.
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A quantidade de dívida de consumo incorrida. 21,3% dos americanos disseram que o endividamento, sem incluir empréstimos estudantis, evitou que continuassem economizando para a aposentadoria, além do aumento dos custos de vida.
Um mercado para os ricos
A insegurança financeira da maioria dos americanos é resultado de décadas de má gestão das contas públicas. A estagnação dos aumentos salariais, em conjunto com o relaxamento constante dos critérios de crédito, fez com que três gerações de americanos enfrentassem dificuldades financeiras.
O problema de “vender o almoço para pagar o jantar” é o aumento da incerteza com o futuro financeiro. Mas a mídia financeira está cheia de “especialistas” e “gurus” sugerindo que você invista agressivamente nos mercados financeiros, e todos os problemas vão desaparecer.
O problema é que essa tese não vem funcionado muito bem. As repetidas derrocadas do mercado financeiro destruíram tanto o patrimônio dos investidores quanto sua confiança. Como observou a SimplyWise, apenas uma pequena fração dos entrevistados estava planejando investir mais nos mercados financeiros devido às mudanças em seus níveis de renda.
Sem “gotejamento”
Se bem que o Fed continue inflando os mercados financeiros, o efeito de “gotejamento” ainda vai ocorrer. Como mostra a pesquisa do SimplyWise, os baixos retornos dos investimentos estagnaram os planos de economia para a aposentadoria.
Entretanto, depois de quatro décadas de transferência de patrimônio da classe média para os riscos, o top 10% dos que recebem mais detêm 88% dos mercados acionários. Por isso, não é uma surpresa que a maioria das pessoas que planeja investir mais compõe as classes mais abastadas.
Para o resto, os dois grandes mercados de baixa, a falta de aumentos de renda e a disparada nos custos de vida erodiram toda a sua capacidade de fazer uma poupança para se aposentar. É por isso que a maioria dos aposentados dependerá dos programas sociais para 50% ou mais da sua renda.
A ilusão da riqueza dos consumidores não é função do aumento geral do patrimônio líquido dos americanos. Isso tem a ver com uma divisão do país entre os top 20% que acumulam riqueza e os outros 80% que dependem de dívidas cada vez maiores para sustentar seu padrão de vida.
Como uma enorme quantidade de pessoas já poupa pouco e depende de programas sociais, a devastação atual da economia revelará toda a extensão da “crise da aposentadoria”.
É justamente por isso que os pedidos de políticas “mais socialistas” voltaram a crescer.