A crise ocorrida no mercado de carnes brasileiro no ano passado, que teve como princípio a Operação “Carne Fraca” seguida pela delação dos irmãos Batista, controladores da empresa JBS (SA:JBSS3), gerou uma grande preocupação no cenário pecuário mundial. Isso porque, se o Brasil deixar de produzir e/ou comercializar carne bovina, o mundo sofrerá um colapso de consumo e de inflação. A crise na pecuária nacional tornou ainda mais evidente que a carne bovina brasileira, além de ser estratégica para a cadeia e para a economia doméstica, é de extrema importância para a segurança alimentar mundial.
Os principais produtores de carne bovina no mundo, Austrália, Índia, China, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Paraguai, enfrentam cada qual suas dificuldades produtivas, assim como possuem características distintas uns dos outros. A Austrália passa, de tempos em tempos, ou de décadas em décadas, por problemas gravíssimos de seca, que reduzem o rebanho bovino, elevando os preços dos animais e, consequentemente, da carne. Vale destacar que a Austrália exporta 80% de sua produção, tendo grande importância no mercado global.
A Índia, por sua vez, tem problemas sanitários e religiosos com seu rebanho. A proibição do abate de fêmeas em algumas regiões do país prejudica a competividade mundial, sem contar a falta de padronização e qualidade do rebanho.
A China tem um rebanho interessante, mas com um custo de produção altíssimo e um déficit entre produção e consumo, tornando o país um importador líquido de carne bovina. Diante disso, a China (junto a Hong Kong) foi destino de 40% de toda a carne bovina in natura exportada pelo Brasil no ano passado.
Os norte-americanos, grandes concorrentes do Brasil, ainda que sejam um dos maiores produtores do mundo, se destacam também como os maiores importadores de carne. Os Estados Unidos vendem muita carne bovina a preços altos e compram muita carne mais barata (dianteiro) para parte do consumo doméstico, principalmente para a produção de hambúrgueres.
Quanto à América do Sul, apesar de a Argentina e do Uruguai produzirem gado e carne de alta qualidade e, no caso do último país, maiores taxas de crescimento, têm limites geográficos e de rebanho, sem contar os problemas políticos, no caso argentino.
Passada, ou ao menos amenizada, a crise da pecuária nacional, o Brasil se recoloca como principal produtor e fornecedor de carne bovina mundial. Dados do Agribenchmark mostram que o País registra um dos menores custos de produção quando comparado com outros 25 produtores da proteína.
PRODUTIVIDADE – Dados levantados pelo Cepea mostram aumento na produtividade média da pecuária nacional, tanto no sistema de produção extensiva como no de confinamento. No caso da atividade de cria, no início dos anos 2000, 100 vacas ocupavam, em média, 250 hectares e registravam taxa de desmame de 40%, produzindo um bezerro de cerca de 170 quilos. Já em 2017, ainda segundo dados do Cepea, 100 vacas passaram a ocupar menos espaço, de cerca de 150 hectares, e a produzir bezerros mais pesados, com média de 200 a 210 kg. Além disso, a taxa de desmame passou a ficar em torno de 65%.
Apesar desse avanço, quando comparados esses índices do sistema de cria com os demais países produtores, nota-se que o Brasil ainda tem um caminho de desafios pela frente, mas de muitas oportunidades.
Por Thiago Bernardino de Carvalho