Uma das características mais relevantes para a formação de preço de qualquer bem é sua demanda. Em qualquer livro de microeconomia para graduação é possível ver que, tudo mais constante, o aumento da demanda leva a maiores preços se a oferta não for algo plenamente irresponsiva (algo raro na vida real). Se as pessoas precisam mais de tomates, nada mais esperado que o preço do tomate aumente. Da mesma forma, se as pessoas precisam mais de Bitcoin, nada mais esperado que o preço de Bitcoin suba.
Dessa maneira, há uma conexão entre transações e preço das criptomoedas. Se é necessário transacionar por meio da rede de uma criptomoeda, é necessário comprá-la e isso leva a possíveis maiores preços. Naturalmente, é esperado que preços passados e mudanças nas expectativas de preços futuros também causem transações – a relação é endógena – mas se alguma dessas expectativas muda, há necessidade de transacionar; nisso as variáveis andam juntas. Alguns analistas de criptoeconomia, se valendo disso, usam a métrica NVT: Network Value to Transactions (Valor da Rede sobre Transações).
Apesar dessa variável ser um importante múltiplo para o mercado de criptoativos, não é fácil descobrir sua utilidade a longo prazo ainda por falta de teorização formal e dados para testar. Uma questão relevante é que nem toda transação tem a mesma causa e algumas causas são mais bem associadas a um futuro saudável para o mercado que outras; contudo, toda transação de um dólar vale um dólar. Um forte aumento nas transações causado por esse motivo reflete menos um futuro desejável que, por exemplo, a demanda causada pela criptomoeda ser, de fato, um bom meio de pagamento.
Em todo caso, transações são uma fonte razoável de valor e, nisso, há alguns efeitos de rede fortes, ainda que menos imediatos que a famosa lei de Metcalfe (associação pura entre demanda e número de usuários). Por exemplo, uma rede mais segura – com mais tempo e maior hash power – pode ser usada para pagamentos mais importantes. Esses pagamentos são, normalmente, mais valorosos. Dessa maneira, uma rede com maior hash rate e nome atrairia transações mais importantes e, dessa forma, traria maior valor e liquidez. Há, portanto, algum mecanismo de transmissão entre segurança, transações e valor.
Esse caso ilustra como o Bitcoin conta com uma grande vantagem como a maior criptomoeda. Por ainda não ter sofrido ataques, contar com o maior efeito tempo e estrutura de mineração e ter um core conservador, o Bitcoin é percebido com a criptomoeda mais segura. Um competidor, como o Ethereum ou o Bitcoin Cash, terão valores menores em suas transações medianas (estatística mais robusta a outliers que a média), como pode ser visto na figura abaixo. Dessa maneira, há um argumento similar a Metcalfe para o maximalismo da moeda com maior percepção de segurança.
Esse breve texto serve para pontuar duas lições. A primeira é que nem todo múltiplo é confiável, posto que há muito ruído. A segunda é que, apesar disso, muitas vezes há motivos racionais para eles existirem e não podemos desconsiderar as intuições que eles trazem. Começo 2019 algo mais maximalista do Bitcoin do que era no começo de 2018, apesar de ainda acreditar que um portfólio bem diversificado traz grandes vantagens. Nesse curto prazo, no entanto, é fundamental acompanhar as maiores criptomoedas com atenção: elas certamente contam com mecanismos de mercado para continuarem a ser as maiores.