Desde de janeiro de 2017, quando os países membros da Opep e não-membros do cartel começaram a implementar o acordo de produção, o preço do petróleo tem estado ilusoriamente equilibrado. O preço do Brent à vista vem variando entre US$ 53,18 e US$ 55,91, variação de apenas 5%. (Para fins de comparação, o preço variou entre US$ 35,56 e US$ 27,36, uma baixa de 23%, durante o mesmo período em 2016).
No entanto, isso não quer dizer que o preço do petróleo tenha estabilizado. Na verdade, o mercado petrolífero parece estar bem próximo do desequilíbrio na atual conjuntura. As informações que indicam que a sobreoferta está diminuindo são neutralizadas por dados que indicam o contrário.
Imagine uma balança na qual os dados sobre a produção da Opep façam um lado pesar mais. Ele é contrabalançado por relatórios de contagens de plataformas mais altas e estoques crescentes de petróleo nos EUA, o que faz a balança pesar do outro lado.
Em algum momento, um lado vai pesar mais do que o outro consegue compensar. As perguntas são: qual lado será mais pesado? E quando?
A Opep divulgou seu relatório oficial de cortes de produção na segunda-feira, como um estrondoso sucesso – 93% de conformidade. (A taxa de conformidade difere com base na fonte que provê os dados. O relatório da Opep deveria utilizar uma combinação de dados próprios e os coletados por fontes independentes). No mesmo relatório, a Opep também revisou ligeiramente para cima sua previsão de demanda. Taxa de conformidade é uma figura-chave, mas talvez não tão importante quanto a Arábia Saudita ter realizado um corte ainda maior do que o esperado – quase 500.000 barris por dia – que compensa os aumentos de produção da Nigéria, Líbia e Irã.
Do outro lado da balança, o relatório apresentado na semana passada pela EIA mostrou que os estoques de petróleo cresceram em 13,8 milhões de barris. A contagem de sondas ativas também aumentou de oito unidades, para 591. (A contabilidade de sondas não é necessariamente uma indicação direta do crescimento da produção de petróleo, porque a produção de shale frequentemente se baseia em poços perfurados mas não concluídos (DUCs, na sigla em inglês), que podem ser equipados para aumentar a produção de petróleo sem aumentar a contagem de sondasse. O relatório da Opep compensou as perdas resultantes do relatório EIA, mas é provável que o próximo relatório da EIA mostre um volume adicional, pois as refinarias dos EUA (trabalhando em plena capacidade agora já que estamos no período sazonal de manutenção) não podem comprar e processar petróleo suficiente para acompanhar o volume produzido e importado. Como resultado, há uma sobra de petróleo bruto nos EUA, o que parece ser excesso de oferta.
É claro que a Opep já está preocupada com sua capacidade de manter o petróleo na média de US$ 55 por barril diante da atual situação. Membros e não-membros já estão discutindo planos para estender o acordo de corte de produção. No entanto, há algumas indicações de que, em junho, isso pode não ser necessário.
Sob as condições do acordo atual, o Irã foi autorizado a continuar a aumentando sua produção. Os dados de TankerTrackers.com indicam que muito do aumento relatado na produção iraniana é provavelmente uma liquidação do petróleo que o Irã já teria armazenando em navios petroleiros no Golfo Pérsico. De acordo com dados do país, o armazenamento iraniano de petróleo em navios está agora em um mínimo pós-sanções de 15,3 milhões de barris.
Em segundo lugar, a demanda de petróleo na Índia está atualmente reduzida, com o governo indiano fazendo esforços para tirar de circulação todas as notas de alto valor. A maioria dos consumidores na Índia paga por gasolina e óleo diesel em dinheiro. Isso levou a uma queda de 7,8% no consumo de óleo diesel em janeiro e agora impacta a demanda de petróleo bruto da Índia (a Índia importa quase 80% de seu combustível). Especialistas, no entanto, esperam que a demanda da Índia se recupere em março, quando o processo de desmonetização estiver concluído.
Se a Arábia Saudita mantiver a produção baixa, o Iraque seguir com seus cortes prometidos, o Irã esgotar seu armazenamento flutuante e a demanda indiana se recuperar, a Opep pode não precisar depender de falas especulativas para evitar que o preço do petróleo despenque muito antes de junho.
As refinarias norte-americanas devem comprar mais petróleo à medida que o verão se aproxima e, com ele, a temporada de viagens, dando a aparência de haver menos estoques. Todos esses fatores podem pesar a balança a favor dos preços mais altos, apesar do aumento da produção de shale.
Por outro lado, é provável que a Arábia Saudita aumente sua própria produção com a chegada do verão, o Iraque pode não seguir com seus cortes de produção, a Nigéria e a Líbia podem continuar aumentando a produção, a extração russa pode voltar com o fim do inverno siberiano e as refinarias dos EUA podem não consumir a quantidade de petróleo esperada. Se esses fatores se tornarem realidade, o excesso de oferta poderia vencer e a Opep precisaria de um compromisso sério (um grande peso na balança) para evitar uma queda nos preços.