A História do Ano: Guerra Comercial EUA e China - Parte I

Publicado 25.09.2018, 09:04
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A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China é o assunto mais tênue e com maior impacto global em vigência.

Essa é sem dúvida a grande história do ano, e talvez dos próximos anos.

Até o início de 2018 não era muito claro se Donald Trump iria prosseguir com o que havia prometido fazer durante sua campanha eleitoral.

Ele deixou muito claro durante a campanha que a China é uma ameaça aos Estados Unidos em termos geopolíticos e comerciais, e ele explicitou sua intenção de aplicar tarifas em bens chineses entrando nos Estados Unidos.

No ano passado, o governo dos EUA estava focado nas políticas de redução fiscal para empresas domésticas, onde alíquotas de impostos foram reduzidas, com intuito de fomentar o crescimento da economia local. Após isso ser resolvido, Trump aparentemente mudou seu foco para o comércio exterior.

Atualmente é plausível considerar que uma guerra comercial generalizada será estabelecida entre os EUA e a China. Essa possibilidade é fortalecida ao olhar para algumas afirmações que Trump fez no passado, e levando em consideração algumas das declarações de Peter Navarro, conselheiro de Donald Trump.

Navarro é um dos assistentes principais de Trump com relação ao comércio exterior.

Ele escreveu alguns livros, intitulados (tradução livre):

  • As guerras futuras com a China: onde elas serão disputadas, e como elas podem ser vencidas;
  • O Tigre Rastejante: o que o militarismo da China significa para o mundo;
  • Morte pela China: confrontando o dragão;

Ao ler qualquer um desses livros fica muito claro que Navarro considera a China uma grande ameaça, e levando em consideração o que o presidente Trump vem dizendo, ele também compartilha dessa visão.

Por isso é possível, e até provável que o intuito das guerras comerciais não seja apenas melhorar a balança comercial dos Estados Unidos, e sim desacelerar o crescimento da China, para que ela pare de se tornar cada vez mais poderosa com relação aos EUA, até deixar de ser considerada uma ameaça.

Há bastante tempo a China usufrui de manobras para ajudar o crescimento de sua economia e melhorar sua competitividade no mercado global.

A China vem manipulando sua moeda desde o início da década de 90.

Em 1994 a China unificou suas taxas de câmbio duplas ao alinhar as taxas oficiais e as de centros de swap, desvalorizando oficialmente o Yuan em 33% do dia para a noite.

Também, o Banco Popular da China (PBoC), que é o banco central chinês, chegou a acumular 4 trilhões de dólares em reservas de títulos americanos e globais.

Ele adquiriu essas reservas imprimindo sua própria moeda, o renminbi (RMB), com intuito de utilizá-la para comprar dólares. Assim o RMB foi desvalorizado com relação ao dólar.

Portanto, a China depreciou o valor do RMB através de intervenções em escalas extraordinárias. Com isso os preços praticados na China ficaram extremamente competitivos, e isso permitiu que realizassem cada vez mais exportações para os Estados Unidos.

Essas manobras foram possibilitadas após o término do acordo de Bretton Woods, onde as moedas globais eram atreladas ao ouro. Quando o acordo chegou ao fim, em 1971, os países não precisavam mais respaldar suas moedas com ouro.

Por isso, a China teve a possibilidade de criar 28 trilhões em renminbi, aproximadamente 4 trilhões de dólares, e usaram esses 28 trilhões para comprar dólares. Assim, o valor do dólar foi apreciado e do RMB depreciado.

Com o RMB artificialmente depreciado, o crescimento Chinês exacerbado pode continuar através de exportações globais, já que os preços praticados eram baixíssimos.

Hoje em dia a China exporta pouco mais de 500 bilhões de dólares para os Estados Unidos, enquanto os EUA exportam 130 bilhões para a China.

Deve ser mencionado que existem conflitos de interesse na situação atual. Existem muitos indivíduos e corporações que se beneficiaram enormemente do cenário existente.

Por exemplo, diversas companhias multinacionais migraram suas indústrias dos EUA para a China, para produzir produtos com baixo custo trabalhista, o que gerou um crescimento nos lucros.

Os bancos em geral também foram beneficiados, pois muitas dívidas foram adquiridas por americanos, com intuito de financiar essas mudanças.

Em contrapartida o americano médio, a classe trabalhadora, tem recebido uma média salarial sem muitos aumentos nos últimos 30 anos. Com vestígios da crise de 2008, o americano médio elegeu Donald Trump esperando mudanças, uma vez que Trump prometeu que iria “fazer os EUA grande outra vez”.

No seu discurso inaugural, em 20 de janeiro de 2017, Trump disse:

“Desse dia em diante, uma nova visão irá governar nossa terra. Desse momento em diante será Estados Unidos em primeiro lugar. Todas as decisões comerciais, fiscais, de imigração e de assuntos estrangeiros, serão feitas para beneficiar trabalhadores americanos e famílias americanas. Nós devemos proteger nossas fronteiras da destruição de outros países, fabricando nossos produtos, roubando nossas empresas e destruindo nossos empregos. A proteção levará a uma grande prosperidade e força”.

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Acompanhe a segunda parte dessa análise na próxima quinta-feira (27) aqui no Investing.com Brasil

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